O presidente Jair Bolsonaro criticou nesta sexta-feira, 20, o Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) e o juiz Flávio Itabaiana, do Tribunal de Justiça do Rio, por causa da operação de busca e apreensão em endereços ligados ao senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ) e a ex-assessores seus na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). Bolsonaro se exaltou e demonstrou irritação ao falar com os jornalistas na saída do Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente.
Bolsonaro acusou o Ministério Público de proteger o governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), e afirmou que "pelo que parece" uma filha de Itabaiana é funcionária "fantasma" no governo do Estado.
O presidente afirmou que "pelo que parece" Natalia Menescal Braga Itabaiana Nicolau, filha do juiz responsável pela quebra de sigilos dos ex-assessores de Flávio, é "fantasma". "Você já viu o MP do Estado do Rio de Janeiro investigar qualquer pessoa, qualquer corrupção, qualquer gente pública do Estado? E olha que o Estado mais corrupto do Brasil é o Rio de Janeiro. Vocês já viram? Vocês já perguntaram paro o governador Witzel por que a filha do juiz Itabaiana está empregada com ele? Já perguntaram? Pelo que parece, não vou atestar aqui, é fantasma. Já foram em cima do MP (para) ver se vai investigar o Witzel?".
Bolsonaro criticou a decisão de abril em que Itabaiana quebrou o sigilo de 86 pessoas e nove empresas ligadas ao antigo gabinete de Flávio na Alerj. O presidente disse que foram cumpridos mandados de busca e apreensão em casas de pessoas que "não tinham nada a ver" e rebateu as acusações de que o seu filho teria lavado dinheiro em uma loja de chocolate.
"Acusaram ele (Flávio) de estar ganhando mais na casa de chocolate. O que acontece, quem leva mais cliente para lá, ele leva um montão de gente importante, ganha mais. É mesma coisa chegar para o, deixa eu ver, o Neymar e (perguntar) 'por que está ganhando mais do que outros jogadores?'. Porque ele é o mais importante. Não é comunismo", disse Bolsonaro sobre o filho primogênito.
O presidente insinuou que há conluio entre Witzel e a mídia para prejudicá-lo. A ideia, segundo Bolsonaro, seria favorecer campanha do governador para disputar o Planalto em 2022.
Bolsonaro disse que não pode "provar", mas que uma gravação falsa foi elaborada para o atingir quando veiculada em telejornal. "Estavam acertados diálogos entre bandidos do Rio de Janeiro citando meu nome. 'Ele vinha aqui, buscar dinheiro, agora não vem mais.' Esses são os diálogos. Ia ser colocado na Globo à noite, exclusividade, como eu ia me justificar?", disse Bolsonaro. "O governador (Wizel) quer ser presidente, e é direito dele ser presidente, mas não nesse jogo sujo que está aí", declarou.
Deputados da Alerj
Perguntado se considera Flávio inocente, Bolsonaro disse: "Eu não sou juiz". Em seguida, emendou: "Eu não sou juiz. Sem problema comigo. Quer botar manchete lá, presidente considera filho..."
Na sequência, Bolsonaro afirmou que há suspeitas de "movimentação atípica" sobre vários deputados estaduais do Rio. "Na Alerj, vários parlamentares, via algum assessor, tinha movimentação atípica. Flávio é o 17º (da lista de deputados com suspeitas). Vocês já fizeram matéria sobre o “01” da Alerj? Não fizeram, poxa. É aliado do Witzel, inclusive. É do PT. Foi eleito presidente da Alerj, não tem uma linha contrária de vocês. Com 50 milhões de reais. Se alguém desviar 1 real, é culpado."
Essa foi a primeira vez que Bolsonaro falou sobre a nova fase da investigação envolvendo seu filho Flávio. Desde o estouro da operação, na quarta-feira, o presidente já se reuniu com o filho e o advogado de Flávio, Frederick Wassef, algumas vezes. Na quarta, Bolsonaro evitou os jornalistas. Na quinta-feira, ao ser perguntado sobre o caso, disse que falaria sobre os seus problemas, mas que, "dos outros", não tinha nada a ver com isso.
Hostilidade
O presidente costuma parar duas vezes por dia em frente a residência oficial: pela manhã e no fim da tarde, quando retorna dos despachos diários. Nesta sexta-feira, falou por cerca de dez minutos sobre a operação envolvendo seu filho e se irritou com as perguntas dos jornalistas.
"Você tem uma cara de homossexual terrível, mas nem por isso eu te acuso de ser homossexual. Se bem que não é crime ser homossexual", disse o presidente a um repórter quando questionado se Flávio teria cometido algum deslize.
Em seguida, depois de Bolsonaro dizer que ele era o responsável por um empréstimo de R$ 40 mil a Fabrício Queiroz, um ex-assessor de Flávio, um outro jornalista perguntou se ele teria o comprovante do empréstimo.
"Oh, rapaz, pergunte para a tua mãe o comprovante que ela deu ao teu pai, está certo?". Bolsonaro alega ter feito este pagamento para justificar depósito de Queiroz, ex-assessor de Flávio, em conta da primeira-dama, Michelle Bolsonaro.
Com dedo em riste, o presidente também mandou jornalistas "ficarem quietos" mais de uma vez.
O presidente cobrou respostas dos repórteres sobre pontos da investigação do MP. "Uma pergunta: o processo é segredo de Justiça ou não é? Respondam!", afirmou, elevando o tom de voz.
Minutos antes de falar sobre Flávio, o presidente reagiu com ironia sobre transferir ou não a embaixada brasileira para Jerusalém, medida que desagrada países árabes. "Você pretende se casar comigo um dia? Não seja preconceituoso. Não seja... você não gosta de louro de olhos azuis? Isso é homofobia. Vão te processar por homofobia", disse a um jornalista.
Neste ano, o STF (Supremo Tribunal Federal) concluiu julgamento que enquadrou a homofobia e a transfobia na lei dos crimes de racismo até que o Congresso Nacional aprove uma legislação sobre o tema.
As respostas de Bolsonaro foram acompanhadas por gritos de "mito" e ofensas à imprensa feitas por seus apoiadores, que o aguardavam em frente ao Palácio da Alvorada.
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