Dentre os problemas enfrentados pelo presidente Jair Bolsonaro durante os primeiros 25 dias do governo, o jornalista da revista Crusué, Caio Junqueira, avaliou como a maior e mais preocupante dor de cabeça de Jair, seu primogênito, o senador eleito pelo Rio de Janeiro, Flávio Bolsonaro. Enquanto o chefe do executivo estava Davos, na Suíça, participando do Fórum Econômico Mundial, Flávio era manchete nos principais jornais do país.
O Conselho de Atividades Financeiras (Coaf) divulgou um relatório em que o senador eleito aparece como beneficiário de 48 depósitos de R$ 2.000,00 em 2017. Além disso, foi noticiado que Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio, movimentou R$ 7 milhões entre 2014 e 2017. Na mesma semana foi descoberto que o primogênito de Jair empregou a mãe e a mulher de um dos chefes da milícia do Rio em seu gabinete.
- Foto: Ernesto Rodrigues/Estadão ConteúdoFlávio Bolsonaro e Jair Bolsonaro
Com coletiva de imprensa marcada em Davos, Jair preferiu se abster das perguntas. Em cima da hora, faltando apenas 10 minutos, a coletiva foi cancelada. Além de Bolsonaro, a imprensa internacional aguardava os ministros Ernesto Araújo (Relações Exteriores), Paulo Guedes (Economia) e Sérgio Moro (Justiça). A ausência não foi bem vista pela imprensa internacional.
Cobrado por respostas sobre os escândalos do filho, o presidente falou à agência Bloomberg que “se Flávio errou, ele terá de pagar”. Em seguida, após a repercussão da fala, Bolsonaro percebeu que estava jogando o próprio filho de um precipício e passou a defender que as acusações a Flávio seriam uma tentativa de atrapalhar seu governo.
Milícia
Enquanto a base de Jair Bolsonaro estava nas Forças Armadas, Flávio focava nas Polícias Militar e Civil do Rio. Na operação “Os Intocáveis”, do Ministério Público do Rio, o ex-assessor de Flávio e amigo da família há mais de vinte anos, Fabrício Queiroz, novamente apareceu. Desta vez, Queiroz estava sendo acusado de se envolver com uma das milícias mais violentas da cidade.
Nos desdobramentos da operação foi identificado o capitão Adriano Magalhães da Nóbrega, conhecido como Gordinho. A mãe e a esposa do miliciano eram empregadas no gabinete de Flávio. Como se não bastasse, fora descoberto que o parlamentar, enquanto deputado estadual, homenageou dois milicianos na Alerj.
Imóveis
As investigações apontam ainda o perfil empreendedor do primogênito de Bolsonaro. Em 2012 Flávio comprou dois imóveis por R$ 310 mil e no ano seguinte vendeu por R$ 1,1 milhão cada. Entre 2014 e 2017 o senador eleito comprou dois apartamentos de R$ 4,2 milhões.
Para justificar o número voluptuoso de depósitos, Flávio disse se tratar de parte do pagamento de um apartamento na Barra da Tijuca, que vendeu por R$ 2,4 milhões. Flávio disse que os depósitos foram feitos no valor de R$ 2 mil porque era o limite do caixa eletrônico.
Além de justificar as transações, Flávio precisava justificar a origem do dinheiro. O senador eleito é dono de uma franquia da loja de chocolates Kopenhagen no shopping do Rio.
Análise
O jornalista Caio Junqueira comenta ainda os danos causados no recém-chegado governo. Para o jornalista, embora os escândalos da Operação Lava Jato, que tenham levado à prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sejam “muito maiores que as suspeitas” que recaem sobre Flávio, o governo apresenta desgaste por ter defendido investigações “irrestritas” sobre políticos e ter mudado de ideia. Flávio recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo a suspensão das investigações, alegando possuir foro privilegiado. Para o jornalista, os últimos acontecimentos geraram “um prejuízo e tanto” em menos de um mês de governo.
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