A revista Isto É, edição desta semana, traz uma reportagem sobre o advogado piauiense Acilino Ribeiro, que teria feito parte da escolta pessoal do ex-ditador da Líbia Muamar Kadafi, durante três meses. Na reportagem, de Vasconcelo Quadros, Acilino Ribeiro conta a sua experência com Kadafi e afirma que 70% dos projetos sociais da Prefeitura de Teresina, durantes de 1985 a 1988, gestão do ex-prefeito Wall Ferraz tiveram ajuda do Centro Cultural Islâmico Beneficente, entidade que possui escritórios em São Paulo e no Rio de Janeiro. O centro funcionou como uma espécie de braço filantrópico de Kadafi no Brasil.
Confira a reportagem:
Um brasileiro na guarda de Kadafi
Quem é e como vive Acilino Ribeiro, o ex-integrante da escolta pessoal do ditador líbio que fez treinamento militar em Trípoli e participou de missões secretas no Brasil
Alvo de um mandado internacional de prisão e escondido em algum lugar da África, o ex-ditador Muamar Kadafi ainda tem fiéis seguidores no Brasil. Um deles é o advogado piauiense, professor de geopolítica e ativista de esquerda Acilino Ribeiro, ex-militante do PCB e do MR-8. A relação com o ex-ditador é antiga e inabalável. A intimidade é tanta que Ribeiro mantém contato frequente com familiares e assessores de Kadafi, mesmo nos períodos turbulentos da Primavera Árabe. Aos 58 anos, Acilino vive hoje em Brasília, mas conhece como poucos as entranhas do regime autoritário da Líbia. Por força da militância internacional, o brasileiro acabou integrando o seleto grupo de seguranças que formavam o escudo humano de proteção física ao ditador. Em Trípoli, além de integrar a escolta pessoal de Kadafi, ele fez treinamento militar e conviveu com ativistas de outros países. Tornou-se amigo do ditador e continua a defendê-lo, apesar das denúncias sobre seus desmandos no poder. Acilino ainda acha que nem tudo está perdido. “Acredito nisso. É uma questão política, mas também é uma questão de gratidão. Devo isso a ele. Ele me salvou, me protegeu, me ajudou”, diz.
O período mais intenso da relação de Acilino com o regime líbio se deu entre 1979 e 1981, quando o ativista se transformou em quadro e fiel adepto de Kadafi. Permaneceu na guarda pessoal por três meses, dentro de um rodízio com voluntários de outros países. Antes de se refugiar na Líbia, Acilino atuou no minúsculo Movimento dos Comitês Revolucionários (MCR). Nessa época, militantes de esquerda do mundo inteiro eram convidados para conhecer a revolução líbia, mas o acesso às bases militares e à doutrina do regime era apenas para quem se convertia incondicionalmente ao kadafismo: “Tenho muito orgulho de ter sido de sua guarda pessoal e de tê-lo protegido com meu corpo”, afirma Acilino. Enquanto esteve por lá, conheceu personagens que mais tarde virariam celebridades políticas na América Latina, como o presidente da Bolívia, Evo Morales. O grupo era formado por centenas de voluntários, mas ninguém se conhecia. Os exercícios militares eram rigorosos e as aulas de história puxadas e obrigatórias.
Não se ouviam reclamações porque a utopia revolucionária estava na moda e um bom combustível era o pensamento e a filosofia do coronel Kadafi impressos no chamado Livro Verde. Acilino não entra em detalhes, mas admite que depois do que aprendeu na Líbia participou de missões secretas em vários países pela Internacional Revolucionária. Nessa época, Kadafi ajudava as organizações de esquerda latino-americanas com dinheiro, armas e documentos. No início dos anos 80, Acilino organizou manifestações e grupos de resistência armada que chegaram a atuar no Nordeste defendendo camponeses e favelados.
A ilusão revolucionária seria abandonada com o início da redemocratização, mas a imagem de Kadafi estava tão ligada ao ativista que seus adversários políticos no Piauí o acusaram de usar petrodólares líbios nas campanhas eleitorais que disputou. Acilino elegeu-se vereador em Teresina, em 1982, mas depois, em 1998 e 2002, perdeu as disputas ao Senado e ao governo do Piauí pelo PPS. Ele jura que tudo não passou de “intriga da direita”, mas não nega que Kadafi o ajudou financeiramente a viabilizar programas sociais.
O dinheiro era repassado pelo Centro Cultural Islâmico Beneficente, entidade com escritórios em São Paulo e no Rio de Janeiro, que funcionou durante muitos anos como braço filantrópico de Kadafi no Brasil. Segundo Acilino, cerca de 70% dos projetos sociais tocados pela Prefeitura de Teresina, entre 1985 e 1988, durante a gestão do então prefeito Wall Ferraz (PMDB), tiveram contrapartida da entidade líbia. Um dos programas levava leite a escolas e moradores pobres. A maioria desses projetos tinha orçamento financeiro modesto, entre R$ 10 mil e R$ 100 mil e finalidade diversa: socialização de prostitutas, implantação de pequenas cooperativas para favelados e criação de sindicatos de trabalhadores rurais no Piauí. Uma das últimas ações bancadas por Kadafi foi o périplo da seleção brasileira de futsal na Líbia, em fevereiro de 2009. Organizada por Acilino Ribeiro a pedido de um dos filhos de Kadafi, Mohamed, a seleção participou de três jogos no país africano. Foi a última vez que Acilino encontrou-se pessoalmente com o ex-ditador.
Confira a reportagem:
Um brasileiro na guarda de Kadafi
Quem é e como vive Acilino Ribeiro, o ex-integrante da escolta pessoal do ditador líbio que fez treinamento militar em Trípoli e participou de missões secretas no Brasil
Alvo de um mandado internacional de prisão e escondido em algum lugar da África, o ex-ditador Muamar Kadafi ainda tem fiéis seguidores no Brasil. Um deles é o advogado piauiense, professor de geopolítica e ativista de esquerda Acilino Ribeiro, ex-militante do PCB e do MR-8. A relação com o ex-ditador é antiga e inabalável. A intimidade é tanta que Ribeiro mantém contato frequente com familiares e assessores de Kadafi, mesmo nos períodos turbulentos da Primavera Árabe. Aos 58 anos, Acilino vive hoje em Brasília, mas conhece como poucos as entranhas do regime autoritário da Líbia. Por força da militância internacional, o brasileiro acabou integrando o seleto grupo de seguranças que formavam o escudo humano de proteção física ao ditador. Em Trípoli, além de integrar a escolta pessoal de Kadafi, ele fez treinamento militar e conviveu com ativistas de outros países. Tornou-se amigo do ditador e continua a defendê-lo, apesar das denúncias sobre seus desmandos no poder. Acilino ainda acha que nem tudo está perdido. “Acredito nisso. É uma questão política, mas também é uma questão de gratidão. Devo isso a ele. Ele me salvou, me protegeu, me ajudou”, diz.
O período mais intenso da relação de Acilino com o regime líbio se deu entre 1979 e 1981, quando o ativista se transformou em quadro e fiel adepto de Kadafi. Permaneceu na guarda pessoal por três meses, dentro de um rodízio com voluntários de outros países. Antes de se refugiar na Líbia, Acilino atuou no minúsculo Movimento dos Comitês Revolucionários (MCR). Nessa época, militantes de esquerda do mundo inteiro eram convidados para conhecer a revolução líbia, mas o acesso às bases militares e à doutrina do regime era apenas para quem se convertia incondicionalmente ao kadafismo: “Tenho muito orgulho de ter sido de sua guarda pessoal e de tê-lo protegido com meu corpo”, afirma Acilino. Enquanto esteve por lá, conheceu personagens que mais tarde virariam celebridades políticas na América Latina, como o presidente da Bolívia, Evo Morales. O grupo era formado por centenas de voluntários, mas ninguém se conhecia. Os exercícios militares eram rigorosos e as aulas de história puxadas e obrigatórias.
Não se ouviam reclamações porque a utopia revolucionária estava na moda e um bom combustível era o pensamento e a filosofia do coronel Kadafi impressos no chamado Livro Verde. Acilino não entra em detalhes, mas admite que depois do que aprendeu na Líbia participou de missões secretas em vários países pela Internacional Revolucionária. Nessa época, Kadafi ajudava as organizações de esquerda latino-americanas com dinheiro, armas e documentos. No início dos anos 80, Acilino organizou manifestações e grupos de resistência armada que chegaram a atuar no Nordeste defendendo camponeses e favelados.
A ilusão revolucionária seria abandonada com o início da redemocratização, mas a imagem de Kadafi estava tão ligada ao ativista que seus adversários políticos no Piauí o acusaram de usar petrodólares líbios nas campanhas eleitorais que disputou. Acilino elegeu-se vereador em Teresina, em 1982, mas depois, em 1998 e 2002, perdeu as disputas ao Senado e ao governo do Piauí pelo PPS. Ele jura que tudo não passou de “intriga da direita”, mas não nega que Kadafi o ajudou financeiramente a viabilizar programas sociais.
O dinheiro era repassado pelo Centro Cultural Islâmico Beneficente, entidade com escritórios em São Paulo e no Rio de Janeiro, que funcionou durante muitos anos como braço filantrópico de Kadafi no Brasil. Segundo Acilino, cerca de 70% dos projetos sociais tocados pela Prefeitura de Teresina, entre 1985 e 1988, durante a gestão do então prefeito Wall Ferraz (PMDB), tiveram contrapartida da entidade líbia. Um dos programas levava leite a escolas e moradores pobres. A maioria desses projetos tinha orçamento financeiro modesto, entre R$ 10 mil e R$ 100 mil e finalidade diversa: socialização de prostitutas, implantação de pequenas cooperativas para favelados e criação de sindicatos de trabalhadores rurais no Piauí. Uma das últimas ações bancadas por Kadafi foi o périplo da seleção brasileira de futsal na Líbia, em fevereiro de 2009. Organizada por Acilino Ribeiro a pedido de um dos filhos de Kadafi, Mohamed, a seleção participou de três jogos no país africano. Foi a última vez que Acilino encontrou-se pessoalmente com o ex-ditador.
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