O juiz Daniel Saulo Ramos Dultra, substituto da 1ª Vara da Comarca de São Raimundo Nonato, aceitou a denúncia do Ministério Público do Piauí contra sete alvos da Operação Juros Altos, acusados de integrar uma associação criminosa voltada para a prática de extorsão, usura pecuniária e outros crimes, conhecida como "família do tráfico". O grupo utilizava violência, ameaças e empréstimos com juros abusivos para explorar financeiramente suas vítimas. A denúncia foi recebida no último dia 28 de janeiro.
Os crimes imputados aos denunciados incluem associação criminosa (artigo 288 do Código Penal), extorsão (artigo 158 do Código Penal) e usura pecuniária (artigo 4º da Lei nº 1.521/1951). A denúncia formalizada pelo Ministério Público aponta que os réus se beneficiaram de um esquema de cobrança de dívidas, retenção de bens e transações financeiras ilegais.
Atuação de cada integrante
Entre os réus estão: Joel de Oliveira Gomes, apontado como principal responsável pela lavagem de dinheiro; Ivanete Gomes de Oliveira, que atuava na administração dos recursos ilícitos; Luís Gonzaga de Oliveira Gomes, conhecido como "Cabeludo", apontado como líder operacional do esquema; Tomaz Oliveira Gomes, executor das cobranças com extremo uso de violência; Dalvarez Gomes de Oliveira, identificado como "laranja" do grupo; e Juscimara Ferreira de Sousa, responsável pela intermediação de transações financeiras.
O grupo utilizava sua posição de poder econômico para controlar pessoas em situação de vulnerabilidade financeira. As vítimas, muitas delas dependentes de benefícios sociais, eram forçadas a entregar cartões bancários, imóveis e outros bens em troca de empréstimos com juros abusivos. O líder Joel Gomes e sua esposa Ivanete eram responsáveis pela administração dos recursos financeiros, enquanto outros membros, como Luís Gonzaga e Tomaz, realizavam as cobranças físicas e psicológicas.
Investigação contra os acusados
As ações criminosas foram apontadas com apoio de medidas como quebra de sigilo bancário e telefônico, que identificaram transações financeiras ilícitas envolvendo grandes somas de dinheiro, assim como a retenção de cartões de benefícios sociais e outras práticas de coerção sobre as vítimas.
Durante as operações de busca e apreensão, foram encontrados documentos financeiros, anotações detalhadas de valores cobrados e outras evidências que confirmam a atuação criminosa. A análise de movimentações bancárias e laudos periciais apontaram os indícios de que os acusados estavam envolvimentos em atividades de lavagem de dinheiro, utilizando bens de luxo e propriedades como forma de ocultação de patrimônio ilícito.
O Ministério Público, que já havia feito diversas diligências para coletar provas, também pediu a reparação de danos morais às vítimas, estipulando valores de 15 salários mínimos para cada um dos acusados.
Áudios revelam extorsões
O GP1 obteve acesso a áudios extraídos pela Polícia Civil do Piauí com autorização judicial, que mostram como agiam os alvos da Operação Juros Altos. Nos áudios, o investigado Luís Gonzaga de Oliveira Gomes ameaça as vítimas que contraem empréstimos a juros abusivos.
“Olha galega, tu fala para esse ‘noia’ do teu marido aí, que eu já fui na casa da mãe dele e as vizinhas me falaram que ela foi para São Paulo para onde o marido, e vocês se mudaram daí, mas eu vi ele na rua, mas na hora que eu ver ele na rua o que ele tiver eu vou tomar, ou carro, ou moto, eu vou tomar, para ele pagar a minha dívida, para ele dar parte [à polícia] e a gente resolver você pode botar fé na minha palavra. Ele tem que pagar o meu dinheiro”, diz Luís Gonzaga.
Em outra conversa, ele ameaça acionar membros do Primeiro Comando da Capital (PCC). “Zelito, se tu não vier me acertar, eu vou mandar os caras do PCC atrás de tu, entendeu? E na hora que eu te ver, tu vai ver”, afirma.
Operação Juros Altos
O Departamento de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (DRACO) deflagrou a Operação Juros Altos em São Raimundo Nonato, Teresina, Timon (MA) e São Paulo (SP) no dia 21 de agosto deste ano, com o objetivo de desarticular o núcleo criminoso responsável por uma série de crimes. Na ocasião, foram cumpridos 11 mandados de prisão preventiva e 13 mandados de busca e apreensão, além de 24 medidas cautelares, incluindo o bloqueio de bens e valores em dinheiro, e a apreensão de veículos de luxo contra os membros do mesmo núcleo familiar.
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