A Superintendência de Operações Integradas da Secretaria de Segurança Pública do Piauí afirmou nesta quinta-feira (28), que durante as investigações que culminaram na deflagração da Operação Cribelo foi constatado que o grupo criminoso, formado para fraudar o processo de emissão de CNH, cobrava de R$ 400,00 a R$ 600,00 por aprovação em cada exame prático realizado no Detran. Para isso, a fraude contava com a participação de examinadores, instrutores, despachantes e o proprietário de uma autoescola, em Teresina.
Em entrevista ao GP1, o delegado Roni Silveira ressaltou que a investigação teve início há cerca de 2 anos e conseguiu desbaratar um esquema fraudulento, que acontecia no momento crucial do processo da primeira habilitação, que é o teste prático, onde o candidato realiza a baliza e o percurso.
“Recebemos um expediente do Detran noticiando que haviam sido detectada possíveis irregularidades na condução da prova prática. Isso chamou nossa atenção e começamos uma série de trabalhos de campo. A partir daí, alguns fatos nos chamaram atenção. Por exemplo: os examinadores do Detran e alguns instrutores de autoescola comumente se reuniam em um restaurante, exatamente, em frente ao portão de entrada do local de prova. Então a gente foi descobrindo que esse indivíduo, o proprietário do restaurante, usava esse local como um ponto de reunião de tratativas. Assim, diuturnamente, os examinadores do Detran estavam em contato com esse cara, os instrutores estavam em contato com essa pessoa e ali, no restaurante, ocorriam a tratativas”, disse o delegado Roni Silveira.
Quebra de sigilo
Para aprofundar as investigações, a Superintendência de Operações Integradas representou pela quebra do sigilo bancário e fiscal dos investigados, a fim de detectar transações financeiras, que corroborassem com os elementos de prova já arrecadados. Nesse momento, a polícia detectou uma movimentação atípica, incompatível com a renda dos investigados.
“A partir disso, a gente teve elementos para pedir o afastamento bancário e fiscal dos investigados e notamos que havia um uma movimentação patrimonial, diferente do normal, eles declaravam x, porém, a movimentação bancária deles era de 3x, eram movimentações bancárias muitos superiores ao valor que foi declarado para a Receita Federal. O estudo patrimonial deles também nos chamou atenção, os veículos que eles usavam eram incompatíveis com o salário que eles ganhavam e tudo isso foi chamando atenção e chegamos à existência do esquema criminoso orquestrado, que envolvia vários servidores de Detran, vários instrutores e uma autoescola”, acrescentou.
Como ocorria a fraude na prova prática
O GP1 indagou o titular da investigação sobre como se dava a prática criminosa, que visava aprovar o candidato, sob a cobrança de R$ 400,00 a R$ 600,00 por cada teste prático. “O crime se dava da seguinte forma: o examinador, no momento da prova prática, deixava de registrar faltas que resultariam na reprovação do candidato. Então, se o candidato deixasse de sinalizar uma virada de carro para direita, para a esquerda, passasse mais tempo na baliza, que é a primeira etapa da prova prática, passasse mais tempo do que a norma de trânsito permite, se ele deixasse o carro estancar várias vezes no curso da prova prática, ele deixava de registrar essas faltas, justamente, para viabilizar a aprovação do candidato”, explicou o delegado Roni Silveira.
Ainda de acordo com o delegado, a cooptação dos candidatos se dava antes da realização da prova, por meio dos instrutores da autoescola, ou depois do teste, diretamente com o próprio examinador. “A cooptação muitas vezes ocorria pelo instrutor, porque o instrutor tinha contato com o aluno meses antes ensinando. Então, a maioria dos alunos demonstravam insegurança para realizar a prova prática e ali era um momento que o instrutor fazia proposta”, completou o delegado.
A casa caiu
Com o avanço das investigações, a a Superintendência de Operações Integradas conseguiu identificar um grupo de 7 examinadores, 8 instrutores e 2 despachantes, que acabaram tendo as prisões temporárias decretadas pelo Poder Judiciário e cumpridas em sua totalidade na manhã desta quinta-feira (28).
Detran vai pedir nulidade das CNHs obtidas por meio de fraude
Em entrevista coletiva, a diretora do Detran-PI, Luana Barradas, afirmou que logo que a Polícia Civil identifique quais processos foram emitidos por meio de fraude, o Departamento Estadual de Trânsito vai proceder pela cassação da CNH obtida mediante fraude.
“Nós encaminhamos para Secretaria de Segurança Pública, então agora, na verdade, nós vamos esperar as definições do judiciário e das autoridades policiais, mas nós vamos fazer o afastamento administrativo de todos os dos servidores efetivos do Detran. Hoje, com a nova plataforma do Detran, nós temos o sistema totalmente auditável e totalmente transparente para que a gente possa colaborar com a Secretaria de Segurança Pública para identificar e suspender essas CNHs”, explicou da diretora do Detran-PI, Luana Barradas.
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