O titular do 13º Distrito Policial, delegado Odilo Sena, concedeu entrevista ao GP1 e deu mais detalhes sobre uma das maiores investigações da Polícia Civil do Piauí que culminaram com a deflagração da Operação Hidra de Lerna, resultando nas prisões de 16 pessoas, que foram investigadas por atuarem em uma organização criminosa que agia em um complexo esquema de aquisição documentos de carros que não existem com a utilização de notas fiscais frias. As diligências tiveram início quando a Procuradoria Jurídica do Departamento de Trânsito do Piauí encaminhou informações a unidade policial. Estima-se que o prejuízo do órgão foi de R$ 130 milhões.
O delegado informou que as primeiras prisões da Operação Hidra de Lerna tiveram início em março de 2021, quando dois integrantes do grupo criminoso foram detidos por equipes do 13º Distrito Policial. Um deles, trata-se de Carlos André e ficou apontado que, somente em cinco dias, ele tinha recebido R$ 450 mil em sua conta bancária. Além dele, Gabriel Seabra também foi detido nas investigações iniciais.
“Quando a gente pegou essa situação, nós já tínhamos uma noção do que estava por vir e contei com aqueles que eu coloquei para cuidar da delegacia do 13º DP, enquanto eu iria trabalhar nesses inquéritos relacionados a operação. E, de fato, foi desenvolvido, estamos aí com 70% de tudo concluído, eu vou dividir as novas investigações em três partes e indiciar com essas pessoas que já foram presas, outros já estão fugindo e vão ser indiciados, alguns que não se apresentaram, eu vou pedir a prisão preventiva. A gente começou dando passos de tartaruga, primeiro tivemos no ano passado a prisão do Carlos André e detenção do Gabriel Seabra e, como estratégia, eu preferi baixar uma portaria, ter cuidado e consegui extrair o máximo de informações possíveis. É um negócio gigantesco, grandioso, ocorria pagamento de notas fiscais para pagamento e é por isso que, muitas vezes, os envolvidos colocavam o carro em valor um pouco mais abaixo para pagar o menos possível para tentar não chamar atenção e depois vendia no valor de mercado. Então foi uma investigação muito bem feita e eu congratulo com minha equipe de policiais, o Vieira, Carlos Alberto e Moisés, que fizeram uma investigação de alto nível”, detalhou o delegado.
Mais servidores podem estar envolvidos
Além dos presos, o delegado Odilo Sena revelou ao GP1 que as próximas fases da operação podem desencadear mais prisões de servidores do Detran, inclusive, novos inquéritos devem ser instaurados a fim de que se consiga combater outras formas de corrupção dentro do órgão de trânsito.
“Tem servidores que ainda vão continuar insistindo nas bobagens que eles fazem, mas ainda vai haver muita coisa e é uma das operações que nós temos mais etapas, dois inquéritos policiais e outros que não são diretamente ligados. O Detran precisa urgentemente de um choque de gestão e só o diretor não é suficiente, a sociedade tem que começar a pressionar, porque, muitas vezes, o serviço público presta serviço ruim e a gente se acostuma e fica por isso mesmo e a gente não pode deixar isso acontecer em um órgão daquele, que tem influência em todo o estado. Só um diretor, só uma delegacia não é suficiente, tem que trabalhar com o judiciário, com o Ministério Público, enfim, tem que cobrar”, ressaltou o delegado Odilo Sena.
Operação Hidra de Lerna conseguiu realizar 16 prisões
Ainda conforme o titular do 13º DP, ao todo, 16 envolvidos foram presos durante o andamento da Operação Hidra de Lerna. As prisões foram temporárias e tiveram como principal objetivo apreender bens e também a obtenção de documentos que vão auxiliar no prosseguimento da investigação.
“Ao todo foram 16 presos, foram prisões temporárias e a grande utilidade dessas prisões foi justamente arrecadar bens, que foram adquiridos em face da subtração de dinheiro que não eram deles. Também buscamos a apreensão de celulares ou de documentos que ajudem a esclarecer o imbróglio e também buscamos chamar a atenção da sociedade para o que acontece no nosso órgão de trânsito”, destacou Odilo Sena.
Polícia Civil pode contar com uma delegacia no Detran
Devido as revelações, com o final dessa fase da Operação Hidra de Lerna, o delegado Odilo Sena revelou que já conversou com o delegado geral Luccy Keiko e foi apresentada a necessidade de se ter uma unidade policial para apurar crimes de corrupção dentro do Detran do Piauí.
“A investigação não para, ainda vou conversar com o nosso delegado geral, que ficou bastante satisfeito com o resultado parcial da operação, ainda falta muita coisa, ainda vamos conversar o advogado do Detran, que se colocou à disposição para o que precisava, e vamos pedir para movimentar e tentar a criação de uma delegacia, para cuidar dessas questões de autarquia, ou de defraudações, eu acho muito pertinente. Vamos esperar que as nossas autoridades e nosso gestores possam se conscientizar com a situação, que é um sofrimento. A gente vive um problema de corrupção crônica, nós somos uma polícia muito eficiente, mas é uma polícia que precisa de mais pessoas, precisa de mais estrutura. As pessoas têm que entender, o judiciário tem que entender, o Ministério Público, que não se pode passar a mão cabeça de um criminoso. A gente tem que trazer os nossos juízes, os nossos promotores para dentro dessa realidade, porque, às vezes, não é má fé do juiz, do promotor, pelo contrário, mas é a forma da cultura jurídica, porque ela só olha, só observa o criminoso e esquece da vítima”, finalizou o titular do 13º DP.
Crimes
Os alvos da operação são acusados de 12 crimes e podem ser indiciados por: estelionato, falsificação de documento público, falsificação de documento particular, falsidade ideológica, uso de documento falso, adulteração de sinal identificador de veículo automotor, inserção de dados falsos em sistema de informações, peculato, concussão, corrupção passiva, corrupção ativa, organização criminosa e lavagem de dinheiro.
A Operação Hidra de Lerna contou com o apoio do GRECO, onde o delegado Odilo Sena e sua equipe passaram a desempenhar as investigações, além de demais delegacias especializadas da Polícia Civil do Piauí, da Polícia Civil do Maranhão e ainda da Polícia Rodoviária Federal.
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