Uma funcionária pública identificada como Pabla Georgia Silva de Jesus entrou em contato com o GP1, nesta segunda-feira (14), para relatar que passou por momentos de angústia e constrangimento ao ser acusada injustamente de furto em uma unidade da Farmácia Pague Menos em Teresina. O fato ocorreu no último dia 03 de fevereiro deste ano. Mulher negra, de 37 anos, ela disse que foi vítima de racismo.
Pabla Georgia informou que a unidade onde aconteceu o fato fica situada na Rua Coelho de Resende. “Entrei na Pague Menos, e quando entrei na farmácia fui logo na prateleira que fica bem na entrada, para ver especificamente um sabonete dermatológico que minha médica passou e fiquei olhando”, lembrou.
Ela relata que entrou em contato com a mãe para lembrar a marca do produto que estava procurando. Ela pegou um sabonete para conferir se era o mesmo da foto que recebeu via WhatsApp e quando viu que não era, colocou o produto na prateleira e o celular de volta na bolsa, saindo do estabelecimento em seguida, foi quando os funcionários decidiram abordá-la.
“Saí em direção à porta de saída quando ouvi os gritos: ‘Ei, ei! Para, para!’. Eu olhei para trás rapidamente, mas continuei a caminhar, porque tinha certeza absoluta que não era comigo, só que os gritos estavam mais altos, mais próximos de mim, aí olhei novamente e vi que era comigo, parei. No que eu parei, eram dois funcionários, uma mulher e um homem, perguntando: ‘o que você botou na bolsa?’. Eu por segundos me calei, fiquei nervosa, a única coisa que falei foi que estava no celular falando com minha mãe e coloquei meu celular na bolsa, e eles não acreditaram”, detalhou.
Foi levada para uma sala
Pabla Georgia afirma que foi levada para uma sala, para revistarem suas coisas. “Ela [funcionária] perguntou para ele [funcionário] que fica nas câmeras: ‘você viu ela botando na bolsa? É essa bolsa?’, e ele: ‘É, é essa bolsa’. Como eles não acreditaram eu disse: ‘Tá aqui minha bolsa, pode olhar’. Aí ele disse: ‘aqui não, vamos ali’. Eu fiquei pensando: ‘meu Deus, o que vão fazer comigo’. Eu fui, era uma sala, um depósito, tinham duas caixas no meio dessa sala, coloquei minha bolsa em cima, e ficaram olhando um para o outro. Eu falei: ‘sou cliente daqui, eu estava falando com a minha mãe sobre um produto e coloquei meu celular dentro da bolsa’. Ficaram olhando um para o outro. Eu disse: ‘agora vocês vão revistar minha bolsa, podem tirar tudo’”, narrou.
Na sequência, ela pediu para ver os registros das câmeras de segurança, e na sala onde funcionava o circuito interno de segurança ela esvaziou sua bolsa novamente. “Tirei todas as minhas coisas de dentro da bolsa e joguei em cima da mesa, até um sutiã eu coloquei em cima, tirei tudo. Vi as câmeras, o produto é um sabonete grande, dá para ver ele branco, bem branco, dá para ver eu colocando na prateleira, eu não tinha dúvidas, só queria mostrar o que eles tinham feito comigo”, explanou.
Racismo
Pabla Georgia acredita que sofreu uma discriminação racista. “Sim, acredito que foi racismo, porque eu deixei bem claro antes de me levarem para sala que era cliente há muitos anos de lá e não acreditaram. A mulher ainda perguntou novamente se era aquela bolsa que eu tinha colocado o produto, o rapaz disse que sim que estava nas câmeras monitorando. Pela forma da abordagem correndo aos gritos, se fosse uma pessoa branca não gritariam como gritaram comigo na frente de todos”, ressaltou.
Sem pedidos de desculpa
A funcionária pública lamentou, pois, segundo ela, ninguém da empresa procurou se retratar. Ela ressalta que foi vítima de preconceito. "Quando eu estava saindo em momento nenhum eu tive um pedido de desculpa, em nenhum momento me pediram desculpas em relação ao que fizeram, a humilhação, o constrangimento a calúnia, o preconceito”, colocou.
Após o fato ela conta que ficou muito abalada psicologicamente e desenvolveu problema de insônia. “É muito difícil rever essa situação toda. Eu não consigo mais dormir, é uma coisa que eu sempre prezei muito, o meu sono. Eu não tinha insônia nem nada, já agora não consigo dormir, eu acordo lembrando. Acordo três ou quatro vezes na madrugada”, pontuou.
Pabla Georgia registrou Boletim de Ocorrência e a Polícia Civil vai investigar o caso. “Não tem como ficar impune uma situação dessa, em 37 anos de idade eu nunca passei por uma situação tão humilhante, tão preconceituosa, nada parecido. É inadmissível”, concluiu.
O que diz a Farmácia Pague Menos
O GP1 procurou a assessoria da Farmácia Pague Menos, nesta segunda-feira (14), em busca de um posicionamento a respeito do caso. Em nota, a assessoria afirmou que repudia qualquer ato de racismo e garantiu que as medidas necessárias serão tomadas.
Confira a nota na íntegra:
A Pague Menos reforça que repudia veementemente qualquer tipo de discriminação e preconceito, seja racial, religioso, de origem, de gênero e de orientação sexual. O respeito às pessoas – clientes, parceiros e colaboradores – e à diversidade está presente, inclusive, no Código de Ética da companhia e em seu "Manifesto de Diversidade & Inclusão", amplamente divulgados e comunicados a todo o quadro funcional da rede de farmácias.
Além disso, as lideranças são devidamente treinadas para não só darem o exemplo, mas também multiplicarem seus conhecimentos aos colaboradores. A Pague Menos informa que apura o fato para que sejam tomadas as medidas cabíveis.
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