A falta de chuva em Teresina, além da temperatura elevada nesta época do ano, favorece a proliferação de aguapés no Rio Poti, que é bastante comum neste período. Em entrevista ao GP1, na manhã desta quarta-feira (16), o professor de Biologia formado pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), João Miguel Costa, destacou a importância da presença da vegetação aquática para a sobrevivência do rio, mas alertou sobre os perigos de seu crescimento desenfreado.
De acordo com ele, os aguapés são um tipo de planta presente em lagos e rios, que contribuem para a filtragem da água, absorvendo metais pesados e auxiliando na sua oxigenação. No entanto, se torna prejudicial quando o ambiente fornece matéria orgânica em abundância com a ausência de predadores naturais.
- Foto: Lucas Dias/GP1Em 2018, os aguapés obstruíram parte do espelho d'água do Rio Poti
“Você tem o Rio Poti e em seu entorno temos vários empreendimentos. Agora você imagina a quantidade de toneladas diárias de lixo que esses lugares despejam diretamente na água do rio. Elas com aquele alimento vão se reproduzir cada vez mais para poder continuar consumindo aquele material, porque todo ser vivo é assim: se houver condições para a vida eles se reproduzem e se tornam uma praga”, destacou o professor.
Prejudicial à vida
A atividade reprodutiva natural dos aguapés, segundo João Miguel Costa, oferta riscos tanto à população humana quanto à vida aquática quando não há o devido controle. Animais aquáticos e vegetações submersas passam a receber menor carga de radiação solar, prejudicando o processo natural de fotossíntese e na oxigenação do ambiente.
A atividade ribeirinha também fica prejudicada. O professor conta que, após o ciclo de vida das plantas, toxinas são liberadas durante o processo natural de decomposição, afetando de forma direta na pesca predatória e no consumo de água potável.
“Quando elas se multiplicam muito, acaba com o espelho da água, ou seja, não vai entrar radiação solar suficiente para as camadas mais profundas. A gente sabe que na água existem as algas que fazem fotossíntese e, portanto, contribuem para a oxigenação da atmosfera e da água; eles [os aguapés] acabam prejudicando a atividade desses microrganismos. Então, ele vai prejudicar na taxa de fotossíntese das algas e vai prejudicar a cadeia alimentar presente naquela região”, pontou João Miguel.
Combate à proliferação
Segundo informou o professor, mecanismos químicos e naturais atualmente são as principais armas para combater a proliferação exagerada da vegetação. João Miguel destaca a busca pelo equilíbrio natural como um dos fatores cruciais para o seu controle.
“Você pode controlar ela de maneira química utilizando herbicidas, venenos. Mas para você utilizar esse herbicida, você tem que ter uma quantidade ideal para poder utilizar esse herbicida, porque pode afetar não só vegetais aquáticos como até mesmo a mata ciliar. Hoje em dia há mecanismos para a retirada. O controle de praga é quando você introduz naquele rio, mediante estudo técnico, peixes herbívoros que vão consumir os aguapés e em seguida você autoriza a caça predatória desses peixes porque eles estão comendo, vão se multiplicar e eles podem prejudicar o ambiente”, finalizou.
Ação dos órgãos públicos
Segundo o presidente da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Olavo Braz, a Prefeitura de Teresina realiza o trabalho de monitoramento da vegetação, em parceria com pescadores ribeirinhos. De acordo com ele, a retirada da carga do total de aguapés do Rio Poti acarretaria em desequilíbrio ecológico ao meio.
- Foto: Marcelo Cardoso/GP1Olavo Braz
“A Prefeitura de Teresina, através da Secretaria de Meio Ambiente, não são instituições exterminadoras de aguapés. O papel da secretaria é monitorar o excesso de aguapés. No momento, não há excesso. A lâmina d’água do rio está liberada, apenas uma ilha de aguapés está flutuando entre o Zoobotânico e a Ponte Estaiada. Esse monitoramento está sendo feito em parceria com o Sindicato dos Pescadores da cidade de Teresina”, disse o secretário.
Segundo dados da secretaria, em comparação a anos anteriores, o volume de aguapés se apresenta em menor proporção, em virtude da ampliação da rede de cobertura de esgotamento sanitário, que passou de 19% para 31%, após o início da operação da empresa Águas de Teresina, na Capital.
Por meio de nota, a Águas de Teresina informou que aumentou a cobertura de esgoto em mais de 60% no período de julho de 2017 a julho de 2018 e que a empresa tem investido na ampliação da captação de esgoto e tratamento, cumprindo a legislação.
Confira a nota na íntegra:
A sustentabilidade e preservação dos recursos hídricos são valores que a Águas de Teresina prioriza em sua operação e, por meio destes, busca construir um legado positivo para a cidade. Todo o esgoto coletado recebe o devido tratamento, em cumprimento à legislação vigente.
No período de um ano de operação da Águas de Teresina (julho 2017 a julho de 2018), a capital do Piauí evoluiu sua cobertura de esgoto de 19% para 31%, um crescimento de mais de 60%.
Desde que assumiu os serviços de água e esgotamento sanitário, a concessionária vem investindo na ampliação, manutenção, melhorias e serviços do sistema viabilizando a garantia de mais pessoas atendidas, eficiência e confiabilidade operacional.
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