Uma vida mais digna para as pessoas com deficiência é uma das lutas do Centro Integrado de Reabilitação (Ceir), localizado na zona sul de Teresina, e que é referência em todo o país na prestação dos serviços de atenção à saúde, voltados para a habilitação, reabilitação e readaptação das pessoas com deficiência do Estado. O Centro faz reabilitação físico-motora, reabilitação intelectual e possui Programa de Saúde Auditiva.
As crianças são um grande público do Centro, onde muitas são atendidas diariamente. Para os pais, dedicação e muito amor são essenciais para garantir o seu desenvolvimento. A pequena Cinthia Araújo, de 2 anos, é uma das crianças atendidas. Após 26 dias de nascimento, ela teve meningite neonatal, que acabou causando paralisia cerebral e hidrocefalia. Aos sete meses ela entrou no Ceir e desde então vem desenvolvendo cada vez mais suas capacidades.
Para a mãe de Cinthia, Carla Fernanda Araújo, o amor é o melhor tratamento. “Ela é a minha primeira e única filha. Eu acho que os pais ao descobrirem que seu filho está nessa situação, precisam criar coragem e lutar por eles. Não é fácil, mas tudo que eles querem é que a gente lute por eles. Tudo que a gente faz é porque eles merecem, merecem muito amor. Você precisa viver um dia após o outro e entender que amor é o que eles mais querem”, afirmou.
- Foto: Lucas Dias/GP1Carla Fernanda com a filha Cinthia Araújo
Ela explicou que o Ceir vem ajudando sua filha a desenvolver suas habilidades. “Ela faz fisioterapia, fonoaudiologia, música e capoeira. Na aula de música ela toca tambor e canta. Eu tenho observado muita evolução dela, sem o Ceir isso não teria acontecido. Não teria evolução nenhuma, a gente nota a diferença rápido e é um serviço que a gente não paga, pois senão seria um custo altíssimo. Os profissionais que temos aqui são maravilhosos”, destacou.
Nivaldo Soares também é pai de uma criança que precisa de atendimentos especiais. O filho, Davi Soares, de 2 anos e cinco meses, ficou internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da Maternidade Santa Fé na mesma época que Cinthia estava internada após ser diagnosticada com meningite. Hoje eles fazem atividades juntos no Ceir.
Davi nasceu morto, mas acabou sendo ressuscitado e hoje possui paralisia cerebral e síndrome de West, que é uma forma grave de epilepsia. “Minha mulher teve uma gravidez normal, mas no dia do parto, houve complicações e ele nasceu morto. Ele foi ressuscitado e depois descobrimos que ele estava com a paralisia cerebral. Hoje ele está há dois anos no Ceir e faz fisioterapia, fonoaudiologia, música e teoria ocupacional e consigo ver que ele melhorou muito mesmo”, explicou.
- Foto: Lucas Dias/GP1Nivaldo Soares com o filho Davi
Para Nivaldo, os pais precisam acreditar nos potenciais dos filhos, não importa a situação. “Os pais precisam colocar na cabeça que essas são crianças normais às outras. A deficiência é uma coisa da cabeça da pessoa”, afirmou ao GP1.
Apesar de histórias diferentes, é a dedicação aos filhos que unem muitos dos que visitam o Centro. Raimunda Costa, mãe de Wanderson Guilherme, de 2 anos e 8 meses, foi abandonada pelo marido após o nascimento do filho com paralisia cerebral. Para ela, apesar das dificuldades, isso não impediu de continuar buscando sempre um tratamento melhor. Ela mora na cidade de Porto, no norte do Piauí, e vai uma vez por semana ao Ceir para que seu filho realize atividades que ajudem no seu desenvolvimento.
“Eu tive uma gravidez normal, mas na hora do parto, ele demorou muito a sair e acabou ficando com essa paralisia”, explicou. Questionada sobre o que sentiu ao receber a notícia da paralisia, ela afirmou que “foi difícil, mas eu aceitei e segui em frente. O pai dele não lidou muito bem, não aceitou, e foi embora quando ele tinha sete meses, mas é assim mesmo. Eu tenho mais dois filhos de outro relacionamento e hoje o Wanderson está há mais de um ano aqui e tem melhorado bastante, no próximo ano vai começar a estudar lá na minha cidade. Eu dependo muito mesmo daqui, se esse serviço fosse pago, eu não teria condições de fazer isso, pois tudo é muito caro”.
- Foto: Lucas Dias/GP1Raimunda Costa com o filho Wanderson Guilherme
Pisiane Barbosa Dias, só descobriu que a Nicole Sofia, de 1 ano e seis meses, tinha síndrome de Down após o nascimento. “Só descobri depois que nasceu, mas o que eu posso dizer sobre isso, é que não me importa [se ela tem a síndrome de Down], pra mim, ela me completa. Desde março ela vem para as atividades e é impossível não perceber a melhora, tudo isso ajuda bastante”, declarou.
Atividades
Priscila Almeida Santos é fisioterapeuta na ala infantil e trabalha a 8 anos no Centro, segundo ela, todas as atividades realizadas buscam o desenvolvimento da criança. “A atividade depende muitos aspectos, nós sempre estamos buscando dar o máximo de funcionalidade, sempre buscando se mexer e fazendo adaptações de acordo com a necessidade de cada um. Nós acreditamos mesmo que isso melhora muito a vida das crianças”, disse.
O esporte é outro incentivo, pois há aulas de natação, capoeira, futebol para amputados e basquete em cadeiras de rodas. “O setor de reabilitação esportiva é composto por três educadores físicos, onde temos inúmeras atividades. O basquete está desde a criação da instituição e temos alunos que mesmo tendo alta, acabam voltando. Ficamos satisfeito de reabilitar o paciente através do esporte. A gente ajuda fortalecendo, dando continuidade a trabalhos com o troco, usamos manejo de bola, manejo de cadeira e o condicionamento físico para principalmente vencer limites, fazer atividades em grupo e saber que você não é único, que há outros na mesma situação, que pode ter amigos e trabalhar juntos com ele”, afirmou Childerico Robson, Supervisor de Reabilitação Esportiva.
O Ceir possui serviços de fisioterapia, fonoaudiologia, serviço social, psicologia, pedagogia, arte-reabilitação, musicoterapia, terapia ocupacional, hidroterapia, hidroginástica e reabilitação desportiva, além disso, possui profissionais de cardiologia, clínica médica, neurologia, pediatria, neuropediatria, ortopedia, urologia, otorrinolaringologia, enfermagem, nutrição, odontologia, otorrino, fonoaudiólogo, assistente social e psicólogo.
Como ser atendido
Paulo André da Silva Ramos, Supervisor da área Ortopédica e responsável por montar a oficina de próteses, afirmou que é por meio do SUS que os pacientes conseguem ter atendimento gratuito no Ceir, para isso é necessário ir até uma unidade de saúde da sua cidade. “Nossos atendimentos são pelo SUS, então a pessoa precisa ir a um posto de saúde da sua cidade, falar com o médico e pegar um receituário. Depois da prescrição, todos os documentos serão encaminhados para um Centro de Regulamentação ou a Secretaria de Saúde, isso depende muito da cidade. Aí o município é encarregado de trazer isso ao Ceir. Já aqui nós cadastramos o paciente e enviamos ao SUS, quando volta tudo autorizado o restante é bem rápido. Para fazer uma prótese, depende do tipo, mas normalmente é um dia”, explicou.
- Foto: Lucas Dias/GP1Paulo André é o responsável pelo setor ortopédico do Ceir
A fonoaudióloga Maria Cecília Baldi, explicou que para conseguir um aparelho auditivo, o paciente precisa passar pelos procedimentos do Ceir. “Aqui somos um PAS, um programa do Ministério da Saúde Federal que manda verbas para que a gente possa estar investigando se essa pessoa é surda ou não, dando um aparelho gratuito pelo SUS. Então tudo isso é um trâmite que vem da Secretaria de Saúde do município ou dos postos de saúde para o Ceir. O paciente irá passar por exames com a fonoaudióloga e se os resultados derem alterados, ele vai para a médica otorrino e aí ela vai liberar o aparelho. Depois dos testes com o aparelho, fazemos o molde que será mandado para a empresa responsável pela fabricação e aí o processo retorna para o SUS autorizar a compra. Então todo esse trâmite todo até receber o aparelho dura de dois a três meses”, explicou.
Voluntariado
Quem tiver interesse em ajudar, pode se candidatar para prestar serviço voluntário. “No nosso site temos esse chamamento e as pessoas vêm muito aqui pessoalmente. É necessário preencher uma ficha de inscrição e depois fazemos uma entrevista, se a pessoa corresponder as expectativas, começa a trabalhar logo. Um dos requisitos é que o voluntário não pode atuar no mesmo setor correspondente a sua formação acadêmica, tem que ser em setor diferente e tem que ter no mínimo 20 anos de idade e disponibilidade para ajudar pelo menos uma vez na semana por quatro horas por dia”, disse Nazaré Bezerra, Supervisora do setor de Voluntariado do Ceir.
Ver todos os comentários | 0 |