O ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) voltará à prefeitura do Rio de Janeiro. Com 64% dos votos válidos até o momento - 88% das urnas apuradas -, ele derrotou o prefeito Marcelo Crivella (Republicanos), que tentava a reeleição com o apoio do presidente Jair Bolsonaro e ficou com apenas 36%. Paes ganhou em todas as zonas eleitorais da cidade.
Favorito desde o início da campanha, Paes conseguiu manter o favoritismo tanto no primeiro quanto no segundo turno, e em nenhum momento se viu ameaçado. Durante o primeiro, o ex-mandatário focou em falar de propostas e dizer que “o Rio vai voltar a dar certo”, sempre comparando seus mandatos com o de Crivella, que é altamente rejeitado pela população.
Sem uma marca clara, o atual prefeito apelou para a aproximação com o bolsonarismo e, no segundo turno, partiu para o ataque contra Paes, propagando inclusive fake news requentadas de 2018, como o suposto “kit gay”, “ideologia de gênero” e alegando até que haveria “pedofilia nas escolas” caso o adversário vencesse. Ele foi denunciado pela Procuradoria Regional Eleitoral por difamação e propaganda falsa.
Alvo dos ataques, Paes reagiu, martelando que Crivella era o “pai da mentira”, numa referência à figura do diabo na Bíblia. O prefeito é bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus e sobrinho do líder da agremiação, o bispo Edir Macedo. O eleito também alegou que Crivella não tinha lealdade, chamando-o de traidor por ter sido aliado do PT durante os governos Lula e Dilma Rousseff e agora se apresentar como bolsonarista.
A derrota do prefeito vai sendo a maior de um candidato em segundo turno no Rio desde a redemocratização. Antes, o recorde havia sido em 1996, quando Luiz Paulo Conde (PFL, hoje DEM) venceu Sérgio Cabral (PSDB), que viria a ser governador pelo MDB, com 62% contra 38%.
Eleito agora pelo DEM, Paes ocupou a prefeitura pelo MDB entre 2009 e 2016. Com o esfacelamento completo do partido no Estado - motivado pelos escândalos de corrupção -, migrou para a atual legenda, pela qual começou sua carreira política no final dos anos 1990, quando ainda se chamava PFL.
No Rio, o partido da família Maia vem ocupando o vácuo deixado pelo ex-governador Sérgio Cabral e seus aliados, todos presos ou condenados. Quem comanda a sigla em terras fluminenses é o ex-prefeito Cesar Maia, hoje vereador, que é pai do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, e foi padrinho político de Paes. Na eleição para vereador na capital, o DEM fez sete vereadores. Trata-se da maior bancada, empatada com PSOL e o Republicanos de Crivella.
Apesar de ser a maior vitória do DEM nas capitais, considerando que o Rio é a segunda cidade mais populosa do País, Paes não tem um vínculo partidário tão forte e se recusa a se apresentar como cabo eleitoral de qualquer projeto da legenda para o País em 2022. Diz sempre que só é “palanque” para o Rio de Janeiro, e que a cidade está abandonada demais para ele pensar em cenários nacionais. Um dos partidos que o apoiou na eleição deste ano foi o PSDB, do governador paulista e possível presidenciável João Doria.
A vitória de Paes marca a volta por cima dele após a surpreendente derrota na eleição de 2018 para o agora afastado Wilson Witzel (PSC), que surfou a onda bolsonarista. Apesar de ter perdido para ele, o ex-prefeito o venceu na capital fluminense, o que dava sinais de seu favoritismo para este ano.
Prefeito na época do Rio dos grandes eventos, especialmente a Olimpíada, Paes receberá agora uma prefeitura com situação financeira mais desfavorável. A tendência é que seja feita uma gestão com menos obras e projetos de grande porte, ao contrário da marca de seus mandatos anteriores. Durante a campanha, o prefeito eleito focou em retomar serviços básicos que, segundo ele, foram sucateados durante o governo Crivella, “o pior prefeito que o Rio já teve”.
Histórico
Hoje com 51 anos, Paes tinha 39 quando assumiu o Executivo carioca. Antes, havia sido deputado federal e o vereador mais votado do Rio. Em 2006, desistiu de continuar na Câmara para tentar o governo do Estado pelo PSDB, mas obteve apenas 5% e apoiou, no segundo turno, o homem que seria figura-chave, para o bem e para o mal, na sua trajetória dali em diante: o emedebista Sérgio Cabral.
No ano seguinte, Paes virou secretário de Esportes e Turismo do novo governo e se filiou ao MDB, pelo qual seria eleito prefeito e atuaria em parceria com Cabral durante a era dos grandes eventos. Reeleito com 62% no primeiro turno de 2012, o prefeito viu as coisas piorarem a partir de 2016, quando seu então partido viveu uma hecatombe no Rio após os escândalos envolvendo Cabral virem à tona.
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