Em depoimento realizado nesta quarta-feira, 6 de setembro, para o juiz Sérgio Moro, em Curitiba, o ex-ministro Antonio Palocci fez várias revelações que incriminam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no processo que investiga o pagamento de propinas pela Odebrecht. Palocci é ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil, nos governos de Lula e Dilma Rousseff.
Alvo da operação Lava Jato, ele confirmou que praticou crimes na Petrobras e revelou que o Partido Trabalhadores recebeu R$ 300 milhões da Odebrecht. O advogado de Palocci, Tracy Reinaldet, ainda relatou dois encontros que incriminam o ex-presidente Lula, onde foi fechado um acordo entre a Odebrecht e o governo do ex-presidente, para beneficiar a empresa nos contratos com a Petrobras, em troca de propinas.
- Foto: Cassiano Rosário/Futura Press/Estadão ConteúdoAntonio Palocci
“Para comprar a boa vontade do novo governo, sobretudo a partir da influência do Lula na presidente Dilma, a empresa Odebrecht por intermédio de Emílio Odebrecht, propõe ao Lula um pacote de vantagens indevidas: composto pela compra do terreno do Instituto Lula, pela compra do sítio em Atibaia e pela disponibilização de R$ 300 milhões de vantagens indevidas para utilização em campanhas ou para fins partidários ou pessoais. Para manter essa relação fluida entre a empresa Odebrecht e o governo do PT”, revelou o advogado Tracy.
Ex-presidente recebeu R$ 4 milhões
Desses R$ 300 milhões, pelo menos R$ 4 milhões foram para o ex-presidente Lula afirmou a defesa de Palocci. "A destinação dos recursos era determinada a partir da cúpula do PT, seja pelo presidente Lula, Paulo Okamotto ou Antonio Palocci. Aí, foram destinados R$ 4 milhões do ex-presidente, questões pessoais de Antonio Palocci. Por exemplo, R$ 4 milhões em espécie que foram retirados para pagamento de gastos do Instituto Lula. Então, isso foi um favorecimento pessoal. Mas também, essa conta foi usada para o pagamento de campanha, seja por caixa dois, seja por caixa oficial", disse o advogado André Pontarolli.
Compra de terreno
O advogado Adriano Bretas revelou que o ex-presidente sabia da compra do terreno para o Instituto Lula. “No caso do Instituto, ficou claro que o assunto foi deliberado por um conjunto de pessoas composto por Paulo Okamotto, José Carlos Bumlai, Roberto Teixeira, o próprio Antonio Palocci, que não nega sua meia culpa, que não se exime de sua responsabilidade, mas também admite que integrava também esse colegiado o ex-presidente Lula, que participava e acompanhou par e passo todo andamento dessa operação que culminou pela compra desse imóvel”, afirmou o advogado Adriano Bretas, que defende Palocci.
- Foto: Marcelo Cardoso/GP1 Lula em Teresina
Jantar com o Lula
“No jantar ocorrido no apartamento do presidente Lula, em que participaram todas essas pessoas, o ex-ministro Palocci os convenceu e os dissuadiu no sentido de que essa operação era escandalosa e que poderia expor demais essa situação. Ficou clara toda a participação do ex-presidente Lula”, revelou Bretas.
Ex-presidente Lula é acusado nesse processo por crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Já o ex-ministro está negociando um acordo de delação premiada. Segundo o Estadão, o Ministério Público Federal acredita que as propinas pagas pela empreiteira chegaram a R$ 75 milhões em oito contratos com a Petrobras. Desse valor está um terreno de R$ 12,5 milhões para Instituto Lula e a cobertura vizinha à residência de Lula em São Bernardo no valor de R$ 504 mil.
Dinheiro e terreno para instituto
Palocci disse a Moro que pediu para Marcelo Odebrecht dinheiro para cobrir um buraco nas contas do Instituto Lula. "Em 2012, 2013, eu volto a tratar de alguns recursos a pedido do ex-presidente Lula. Tem um episódio, que o Marcelo relatou, que é verdadeiro. É um pedido que eu fiz a ele, de R$ 4 milhões pro Instituto Lula. Isso é verdade."
"Acho que foi meio para o final de 2013, começo de 2014. Ele [Paulo Okamotto, presidente do instituto] tinha um buraco nas contas, me pediu para arrumar recursos. Eu fui ao Marcelo Odebrecht. Eu ia viajar para o exterior, ele disse que precisava com muita urgência. A ideia dele era que eu procurasse várias empresas. Eu disse: 'Não posso, vou procurar só o Marcelo'. Pedi R$ 4 milhões", detalhou o ex-ministro a Moro.
"O Marcelo concordou em dar, falou que tinha disponibilidade. Pedi ao Brani [Branislav Kontic, ex-assessor de Palocci] para transmitir ao Paulo Okamotto que seriam dados os R$ 4 milhões que ele havia pedido."
Palocci afirmou ainda que teve uma conversa com o ex-presidente sobre um imóvel que a Odebrecht iria comprar para ser a nova sede do Instituto Lula.
"Eu voltei a falar com ele [Lula] sobre o prédio do instituto. Falei da minha conversa com o Bumlai e falei: 'eu não gostaria que fizesse desse jeito. Se o senhor está fazendo um instituto para receber doações e fazer sua atividade, não sei porque procurar agora um terreno. Não tem problema nenhum receber uma doação da Odebrecht, mas que seja formal ou que, pelo menos, seja revestida de formalidade'", afirmou.
"Eu até comentei com ele nesse dia: 'nosso ilícito com a Odebrecht já está monstruoso. Se nós fizermos esse tipo de operação, nós vamos criar uma fratura exposta desnecessária'", disse Palocci a Moro.
Lava Jato
Palocci disse a Moro que "em algumas oportunidades" se reuniu com Lula "no sentido de criar obstáculos para a Lava Jato".
"Posso citar casos, se o senhor desejar", diz o ex-ministro. "Vamos deixar isso para outra oportunidade, essa questão", responde Moro, dizendo que vai se ater ao objeto da ação para a qual Palocci estava prestando depoimento.
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