O Brasil é o 5º país com mais mortes violentas de mulheres no mundo. Uma realidade que o país não tem conseguido enfrentar, mesmo aprovando leis como o da Maria da Penha e do Feminicídio. Somente no Piauí, das 57 mulheres assassinadas neste ano de 2018, 25 casos se enquadram em feminicídio, ou seja 43,86% foram assassinadas no estado pelo simples fato de serem mulheres.
O fato do homem não aceitar o fim de um relacionamento ou ciúmes, tem vitimado várias mulheres em todo o país. Todas foram assassinadas de forma extremamente violenta, como o caso da professora Selene Veras, assassinada com 26 facadas, ou como no caso de Aretha Dantas, que foi esfaqueada 20 vezes, além de ter sido atropelada duas vezes. Já Gisleide Soares foi morta com 16 facadas e dois tiros. E assim vão sendo os vários casos registrados.
- Foto: DivulgaçãoMulheres assassinadas pelos companheiros ou ex-namorados no ano de 2018
Com vários prêmios e reconhecimento nacional sobre o seu trabalho pioneiro nessa área, a delegada piauiense Eugênia Villa, afirmou que “as mulheres estão sendo mortas por serem mulheres, e os homens não mortos por serem homens, então como é que pode? É difícil compreender isso. É uma coisa absurda”.
O maior desafio é fazer a mulher entender que ela deve denunciar o caso, não só quando chega na agressão física, mas até mesmo antes disso. Casos envolvendo ameaças de morte e injúria podem sim ser denunciados à polícia, não somente a agressão física. Teresina possui o Plantão de Gênero. Desde que começou a funcionar durante 24h, os casos registrados mais que duplicaram.
Em 2017 foram 336 ocorrências. Em 2018 já foram 796 casos registrados no Plantão de Gênero. A maioria dos casos são registrados no período da noite e durante a madrugada. Domingo é o dia em que mais são registradas ocorrências, seguido de sábado e sexta-feira. No caso do aplicativo Salve Maria, só neste ano foram registradas mais de 482 denúncias.
- Foto: Hélio Alef/GP1Delegada Eugênia Villa
“As mulheres no Piauí estão morrendo e nunca denunciaram. Nenhuma mulher no Piauí, que foi assassinada tinha uma medida protetiva de urgência, nenhuma tinha ido uma única vez na delegacia, isso demonstra que a gente talvez esteja evitando isso. Eu estava avaliando um dado interessante do Salve Maria, porque as pessoas só enxergam a lesão corporal, aquela violência que deixa marcas, as pessoas só criam coragem quando chegam no corpo, é interessante que elas não diagnosticam a violência psicológica. A mulher às vezes só toma a decisão quando não tem mais jeito. O crime de ameaça, se em relação aos outros casos, ele é um crime de menor potencial ofensivo, contra a mulher ele não é. É uma ameaça que pode sim se tornar uma realidade, então a gente leva essa mensagem para os policiais tomarem cuidado com esses casos de ameaça. Quando a mulher chega na delegacia, é porque ela já está esgotada, então é preciso que os delegados e delegadas entendam que esse momento é especial e pode ser o único, por isso trabalhamos com o princípio da única oportunidade”, explicou.
Eugênia Villa destacou a necessidade da mulher entender que não se deve aceitar ameaça e que ela pode procurar a polícia, antes que algo mais grave aconteça. Ela explicou que se a mulher não quiser ingressar com uma ação judicial contra a pessoa, ela poderá pedir apenas uma medida cautelar.
“A polícia vai ouvir a mulher e assim vamos representar uma medida cautelar. Se for em flagrante delito a gente prende ele. Se ele não tiver praticado nenhum crime antes, a gente concede a fiança, agora se tiver cometido, ele vai para uma audiência de custódia. Agora se for uma ameaça grave, tipo uma pessoa que tem arma, então certamente vou pedir uma medida protetiva. Então a medida cautelar diz respeito a cada mulher. Muitas mulheres acham que a gente vai ter que instaurar um procedimento, mas não a gente só instaura se ela quiser. Se ela quiser só a medida cautelar a gente concede. Às vezes a mulher não quer nem aquele homem, ela só quer ficar longe dele, ela não quer nada de processo na justiça, então assim a gente faz. A mulheres precisam ter essa ciência, claro que a gente estimula [a instaurar um procedimento], mas se ela não quer, nós podemos requerer somente a medida protetiva”, pontuou.
Resolução dos casos
“Todos os casos de feminicídio já foram resolvidos e com a autoria definida, apenas um que não está preso, que é o Cícero, que matou a dona Raimundo em Valença em 2015. Ela era trabalhadora rural, negra, ela ficou internada e chegamos a ouvir ela. Fomos no HUT e conversamos com ela, que apontou a autoria. Ele é caçador e está foragido, mas mesmo assim está sendo julgado à revelia”, destacou.
Saiba como pedir ajuda
Salve Maria é um serviço do Governo do Estado do Piauí que viabiliza o envio de denúncias da população de forma anônima. As mensagens são enviadas através de um canal seguro e recebidas por um servidor público que dará seguimento para que sejam tomadas as providências cabíveis ao caso. Estados como o Maranhão e Acre estão adotando o aplicativo que ainda contém um botão do pânico para emergências.
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A delegacia de Plantão de Gênero funciona 24 horas, quatro dias na semana, para atender a mulheres, crianças, travestis e transexuais em toda e qualquer situação de violência doméstica e familiar. Ele funciona no âmbito da Central de Flagrantes de Teresina, na Rua Coelho de Resende, Centro/Sul. O telefone para contato é o: (86) 3216-5038
Confira alguns dos casos que ocorreram neste ano:
Silvia Helena
Um homem identificado como Antônio José de Sousa Silva, de 30 anos, assassinou a facadas a ex-mulher, identificada como Silvia Helena, de 38 anos e depois tirou a própria vida. O crime aconteceu no dia 20 de março dentro da residência da mulher, no bairro Buenos Aires, na zona norte de Teresina. A filha do casal de 7 anos, foi quem encontrou o corpo.
- Foto: Facebook/Sílvia HelenaSílvia Helena
Aretha Dantas
Aretha tinha 32 anos quando foi assassinada pelo ex-companheiro dela, Paulo Alves dos Santos Neto. Ele esfaqueou 20 vezes a vítima e ainda atropelou ela duas vezes na madrugada de 15 de maio, na Avenida Maranhão, na zona sul de Teresina. Ele confessou o crime e foi indiciado por homicídio duplamente qualificado, por meios cruéis e feminicídio.
- Foto: Facebook/ Aretha DantasAretha Dantas
Gisleide Alves
Gisleide, de 35 anos, foi assassinada com 16 facadas e 2 tiros no dia 17 de maio dentro da própria casa, no bairro Santa Fé. O acusado foi identificado como Samuel Lucas e tinha um relacionamento com a vítima. Ele confessou o crime para a irmã, que fez Samuel se entregar à polícia.
- Foto: Facebook/Gisleide AlvesGisleide Alves
Joana Darc
Joana Darc Silva, de 30 anos, foi morta a facadas por Hamilton Macêdo Santos, de 29 anos, no dia 31 de maio, em uma residência situada na Vila São José, no bairro Promorar, na zona sul de Teresina. Logo após o crime, o acusado foi capturado. Os dois tinham um relacionamento amoroso. Joana tinha dois filhos, um menino de quatro anos e uma menina de nove anos. O filho mais novo estava na residência quando o fato ocorreu.
Selene Veras
Selene Veras Roque, de 28 anos, professora e diretora de um colégio municipal, foi assassinada com 26 facadas na tarde de 3 de junho, por volta das 17h, pelo marido, o mecânico Raimundo Neto Pereira, de 32 anos, durante uma discussão no município Luís Correia, situado na região Norte do Piauí.
O fato ocorreu após o casal chegar em casa, localizada no povoado Lameiro, zona rural da cidade. Três dias depois, Raimundo se entregou à Polícia Civil de Parnaíba. O casal tem uma filha de 7 anos.
- Foto: Facebook/Selene VerasSelene Veras
Irismar Castro
A empregada doméstica Irismar Castro, de 38 anos, foi morta a facadas pelo ex-companheiro no dia 19 de junho na cidade de Piripiri. O acusado foi identificado como Zé Ioiô, e não aceitava o fim de seu relacionamento com a vítima. Os dois tinham uma filha, e a vítima ainda tinha uma criança de outro relacionamento. Ele foi preso em flagrante.
- Foto: Facebbok/Irismar CastroIrismar Castro
Francenilda Pereira
Francenilda Pereira de Andrade, conhecida como “Preta”, de 33 anos, foi assassinada a pauladas pelo ex-namorado, José Ribamar Costa, em uma residência situada no bairro Nova Teresina, zona norte de Teresina, no dia 19 de junho. Ele havia chamado a vítima para conversar, mas acabou sendo assassinada na casa do acusado. Ele tentou tirar a própria vida após o crime, mas foi socorrido e levado ao Hospital de Urgência de Teresina.
Lucimara Gomes
No dia 29 de junho, por volta das 2h, Lucimara Gomes Ferreira Costa, de 24 anos, foi assassinada com oito facadas pelo ex-companheiro José Elessandro Ferreira da Silva, de 25 anos, em sua própria residência no município de São Raimundo Nonato. Eles estavam separados há dois dias.
Quando Lucimara chegou na sua residência, encontrou o acusado esperando por ela com uma faca. Os dois tiveram uma briga corporal e ela acabou sendo esfaqueada 8 vezes. A vítima morava com os três filhos, um deles tinha seis meses quando o crime aconteceu. Após cometer o assassinato, José tentou tirar a própria vida. Ele se esfaqueou na região do abdômen, foi internado, mas conseguiu sobreviver.
- Foto: Facebook/Lucimara GomesLucimara Gomes
Rosilene Lima
Maria Rosilene de Lima foi assassinada com golpes de chave de roda pelo ex-companheiro no dia 3 de outubro, na zona rural do município de Monsenhor Hipólito. O acusado, identificado como José Nogueira Ferreira, ingeriu veneno logo após o crime e morreu. O acusado invadiu a casa da vítima, que foi assassinada quando estava dormindo em uma rede. Os dois tiveram um relacionamento amoroso, mas já tinham se separado quando o crime ocorreu. Maria Rosilene tinha dois filhos de 4 e 6 anos, de outro relacionamento, que estavam na residência no momento do crime.
Edinalda Gomes
Edinalda foi morta a pauladas pelo próprio companheiro Gonçalo de Oliveira em uma área de mata queimada nas proximidades da BR 222, na localidade Ladainha, zona rural do município de Batalha, no dia 27 de outubro. Testemunhas relataram que viram a vítima com o acusado discutindo horas antes do crime acontecer no centro de Esperantina. O acusado confessou ao primo sobre o crime. Como Gonçalo estaria sob efeito de drogas, o primo dele foi até o local e encontrou o corpo. Ele acionou a polícia e Gonçalo foi preso.
Lara Fernandes
O corpo de Maria de Lara Fernandes de Silva, de 23 anos, foi encontrado no Rio Parnaíba na manhã do dia 7 de novembro, na região da Santa Maria da Codipi, zona norte de Teresina. Eduardo Pessoa Araújo, vulgo Bafafa, foi preso no dia 3 de dezembro. Ele tinha um relacionamento amoroso com a vítima e teria matado ela por ciúmes. A vítima já sofria agressões físicas do acusado, mas nunca havia denunciado o caso.
- Foto: Facebook/Lara FernandesLara Fernandes
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