A perda total ou em parte da renda mensal já atingiu 40% dos brasileiros. Esse é um dos impactos da pandemia do novo coronavírus, segundo pesquisa "Os brasileiros e o consumo no pós-isolamento" da Confederação Nacional da Indústria (CNI), encomendada ao Instituto FSB Pesquisa. Deste total, 23% afirmam já terem ficado totalmente sem salário e 17% apontam terem tido alguma redução na renda. Apenas 36% das pessoas dizem que continuarão recebendo normalmente seu salário.
Uma das medidas para manter os postos de trabalho durante a pandemia adotadas pelo governo federal foi a criação do Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda, que permite a redução proporcional de jornada e salário após acordo entre empregador e trabalhador, pelo período de três meses. A previsão é de que 24,5 milhões de trabalhadores sejam atingidos por esses acordos.
Com o efeito da crise no bolso, o levantamento aponta que 77% dos brasileiros que estão no mercado de trabalho têm medo de perder o emprego, segundo a pesquisa. Para 88% dos entrevistados, a percepção é de que é grande o impacto da pandemia da covid-19 na economia brasileira. Apenas 3% falam em pouco ou nenhum impacto.
Esse medo de perder o emprego com a queda na renda levam os consumidores a terem a intenção de manter reduzido o nível de consumo no cenário pós-covid-19. Na avaliação da CNI, isso pode dificultar a retomada da economia.
"Há muito a ser feito nos próximos meses, mas devemos manter a confiança na ciência e na resistência da nossa economia. Certamente, com persistência e atuação conjunta, conseguiremos vencer o novo coronavírus, esse poderoso inimigo, superar a crise decorrente da pandemia e retomar a rota do desenvolvimento econômico e social do Brasil", afirma o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade.
Questionados sobre como pretendem se comportar no futuro, a maioria dos entrevistados planeja manter pós-pandemia o nível de consumo adotado durante o isolamento. Isso pode indicar, na avaliação da CNI, que as pessoas não estão dispostas a retomar o mesmo patamar de compras que tinham antes.
A pesquisa investigou ainda em quanto tempo após o fim do isolamento social o consumidor brasileiro pretende comprar alguns bens de consumo duráveis. Dos 11 bens de consumo testados, dois despontam como os que terão maior procura no curto prazo. Entre os entrevistados, 34% pretendem comprar roupas e 31% calçados em até 3 meses após o fim do isolamento.
Todos os nove outros bens, incluindo eletrodomésticos, eletroeletrônicos e móveis, têm menos de 10% das pessoas afirmando que pretendem comprar no prazo de 90 dias pós-isolamento. Quando se leva em consideração o período de até um ano após o fim das medidas restritivas, além de roupas (70% das pessoas pretendem comprar nesse prazo) e calçados (66%), aparecem móveis (28%), celulares (27%), eletroeletrônicos (23%) e eletrodomésticos (20%).
Dívidas
O endividamento atinge mais da metade da população, 53%, segundo o levantamento. O porcentual é a soma dos 38% que já estavam endividados antes da pandemia e os 15% que contraíram dívida nos últimos 40 dias. Entre os que têm dívida, 40% afirmam estar com algum pagamento em atraso, sendo que 57% destes passou a atrasar suas parcelas nos últimos 40 dias.
Isolamento
Mesmo com as perdas econômicas, 86% da população brasileira ainda é favorável ao isolamento social e 93% dos entrevistados mudaram sua rotina durante o período de isolamento. Já no cenário pós-pandemia, apenas 30% dos brasileiros falam em voltar a uma rotina igual à anterior. A maior parte dos trabalhadores formais e informais, 43%, afirma sentir-se segura para o retorno ao trabalho após o fim do isolamento. Outros 39% se dizem mais ou menos seguros e 18% inseguros.
"É preciso estabelecer uma estratégia consistente para que, no momento oportuno, seja possível promover uma retomada segura e gradativa das atividades empresariais", afirma Robson Andrade.
A pesquisa do Instituto FSB foi feita entre os dias 2 e 4 de maio, por telefone, com 2.005 pessoas com idade a partir de 16 anos, nos 26 Estados e no Distrito Federal. A margem de erro no total de amostra é de 2 pontos porcentuais, com intervalo de confiança de 95%.
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