Diferentes no estilo, na visão política e no trato, os presidentes Jair Bolsonaro e Joe Biden terão seu primeiro encontro nesta quinta-feira (09) em Los Angeles. Se tudo der certo nas previsões do Itamaraty e da Casa Branca, o encontro será lembrado apenas pela foto dos dois presidentes juntos. A reunião foi articulada às pressas e não houve a costura de uma agenda comum do encontro.
Biden evitou qualquer contato com Bolsonaro desde que assumiu a Casa Branca, em janeiro de 2021, mas se dobrou à ideia de um encontro bilateral com o brasileiro na iminência de sediar uma Cúpula das Américas esvaziada. Garantir a reunião foi a forma como encontrou para atrair Bolsonaro, que até então se sentia desprezado pelo americano.
Uma extensa lista de tópicos é mencionada por diplomatas brasileiros quando o assunto é o encontro bilateral, mas os aliados de Bolsonaro sabem que o que pode render manchetes é a conversa sobre eleições no Brasil. Bolsonaro coloca em xeque a legitimidade da eleição de Biden, como cópia do discurso de seu ídolo, o ex-presidente Donald Trump. Também seguindo o exemplo do republicano, o presidente brasileiro ataca o sistema eleitoral do próprio país, o que preocupa a Casa Branca.
Nos anos em que Trump era presidente, Bolsonaro teve três amigáveis reuniões com o americano, incluindo uma recepção oficial na Casa Branca, algo que Biden nunca ofereceu. A distância que quer manter de Bolsonaro é mantida mesmo no esforço de aproximação nas últimas semanas. Para convencer o argentino Alberto Fernández a viajar para a Califórnia, por exemplo, Biden fez um telefonema para a Casa Rosada e prometeu recebê-lo na Casa Branca em julho. Com Bolsonaro, mandou um interlocutor.
De nenhum dos lados há a expectativa de que seja um encontro de “caneladas”, mas Biden não deve se furtar aos assuntos incômodos, segundo a Casa Branca. Nesta quarta-feira, o Conselheiro de Segurança Nacional, Jake Sullivan, afirmou que o americano irá tratar da questão de eleições “abertas, livres, justas, transparentes e democráticas” no Brasil. Parlamentares do partido democrata e ativistas ainda pedem que Biden cobre Bolsonaro sobre posicionamento a respeito do desaparecimento do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira na Amazônia.
A Casa Branca também quer tratar da questão ambiental, cara ao governo Biden. Segundo Sullivan, é uma área onde pode haver progresso concreto na relação entre os dois países. Diplomatas próximos a Bolsonaro dizem que o presidente está pronto para comentar bons resultados do Brasil na questão, adotados desde abril do ano passado, após pressão dos americanos pelo compromisso do Brasil com metas concretas para reduzir o desmatamento.
Mas o mais importante para Biden era que Bolsonaro viajasse a Los Angeles, por isso a ideia da Casa Branca não é fazer uma agenda de cobranças. A imprensa americana vinha tratando o encontro das Américas como um fiasco, pela ausência de lideranças da região como o mexicano López Obrador. O equilíbrio para fazer o encontro acontecer, no entanto, é delicado. De um lado, o americano estava pressionado pelo risco de um evento micado e a falta de liderança na região. De outro, qualquer aproximação com Bolsonaro é alvo de ataques da base progressista do partido democrata.
Na pauta, o Brasil quer se posicionar como um potencial fornecedor de energia, um player na discussão de segurança alimentar e manter canal de diálogo para que sanções econômicas sobre a Rússia não afetem a logística do transporte de fertilizantes ao País. Como pedido, o Brasil também pretende solicitar a Biden que derrube a cota de importação de aço brasileiro, com argumento de que as restrições à indústria nacional beneficiam exportações russas.
Diplomatas brasileiros argumentam que a reunião poderia desfazer a imagem de que Bolsonaro é um pária internacional. Também dizem que o encontro pode virar a página de eventuais desavenças pessoais entre os dois líderes. Em Washington, no entanto, a percepção de diplomatas é de que é tarde demais para isso. Durante um coquetel com diplomatas, jornalistas e autoridades regionais, um empresário de alto escalão afirmou que a proximidade das eleições brasileiras, em outubro, derruba o interesse por Bolsonaro no evento. A estrela da vez é o chileno Gabriel Boric, que fez sua estreia nos EUA e lotou salas de reunião com empresários.
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