O governo da Ucrânia decretou estado de emergência no país nesta quarta-feira, 23, em resposta ao aumento de tensão com a Rússia, que ameaça o país com uma invasão. O decreto aprovado pelo Parlamento prevê a instauração de toque de recolher, mobilização de reservistas e veto a reuniões em público e terá a duração de 30 dias. O Parlamento da Ucrânia também aprovou uma lei para permitir que as pessoas carreguem armas de fogo para sua defesa.
Kiev também denunciou um ciberataque em grande escala contra sites do governo, do Ministério das Relações Exteriores e do serviço de segurança estatal da Ucrânia. Autoridades ucranianas disseram nesta semana que viram avisos online de que hackers estavam se preparando para lançar grandes ataques contra agências governamentais, bancos e o setor de defesa. A Ucrânia sofreu uma série de ataques cibernéticos que Kiev atribuiu à Rússia. Moscou nega.
O toque de recolher anunciado pelo governo não se aplica às duas regiões separatistas de Donetsk e Luhansk que foram reconhecidas como independentes por Putin na segunda-feira e onde os combates eclodiram quando a Rússia apoiou rebeldes separatistas na região em 2014. Dois terços do território estão sob o controle de Kiev, e o resto está sob controle insurgente.
O movimento de Putin de reconhecer as regiões em sua totalidade, não apenas as áreas sob controle rebelde, aumentou drasticamente os riscos de uma grande escalada militar.
Mais cedo, o governo ucraniano rejeitou a acusação de Putin de que a Ucrânia poderia desenvolver armas nucleares, uma acusação usada pelo presidente russo para tentar justificar suas ações contra o país. A Ucrânia desistiu de armas nucleares em 1994 em troca de garantias no Memorando de Budapeste da Rússia, Estados Unidos e Reino Unido de que eles não atacariam a Ucrânia.
Falando na Conferência de Segurança de Munique no sábado, o presidente ucraniano Volodmir Zelenski disse que a adesão à Otan ofereceria mais proteção para a Ucrânia do que o memorando. Ele convocou uma cúpula dos signatários do acordo de 1994, exigindo a afirmação de suas garantias de segurança. Caso contrário, alertou, a Ucrânia pode concluir que o acordo de Budapeste não está funcionando.
Ucrânia pede que cidadãos saiam da Rússia
Também nesta quarta-feira, o governo da ucraniano solicitou que cidadãos não visitem a Rússia e alertou que ucranianos que já estão no país vizinho devem sair imediatamente. Em comunicado, o ministério das Relações Exteriores afirmou que ignorar essas recomendações "complicará significativamente" a proteção adequada de ucranianos em território russo.
"Com a intensificação da agressão russa contra a Ucrânia, que, entre outras coisas, pode levar a restrições significativas à prestação de assistência consular na Federação Russa, o Ministério das Relações Exteriores recomenda que os cidadãos ucranianos se abstenham de quaisquer viagens à Federação Russa. Quem está neste país deve deixar o território imediatamente", informa o comunicado.
Países como Portugal, Brasil, Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Noruega, Dinamarca, Bélgica, Países Baixos, Alemanha, Espanha, Israel, Austrália, Nova Zelândia, Japão, Iraque, Kuwait e Itália já pediram aos seus cidadãos que deixem a região onde um conflito parece iminente.
No Twitter, o ministro Dmytro Kuleba pediu que o Ocidente imponha sanções mais duras contra o governo de Vladimir Putin.
"Para impedir Putin de mais agressões, pedimos aos parceiros que imponham mais sanções à Rússia agora. Os primeiros passos decisivos foram dados ontem, e estamos gratos por eles. Agora a pressão precisa aumentar para parar Putin. Ataquem sua economia e comparsas. Ataquem mais. Ataquem forte. Ataquem agora", escreveu.
To stop Putin from further aggression, we call on partners to impose more sanctions on Russia now. First decisive steps were taken yesterday, and we are grateful for them. Now the pressure needs to step up to stop Putin. Hit his economy and cronies. Hit more. Hit hard. Hit now.
— Dmytro Kuleba (@DmytroKuleba) February 23, 2022
Reservistas são recrutados
Nesta quarta-feira, as Forças Armadas da Ucrânia informaram em comunicado que começaram a recrutar reservistas com idades entre 18 e 60 anos, após um decreto do presidente Zelenski. O período máximo de serviço no país é de um ano.
Zelenski disse nesta terça-feira que daria início a medida, mas descartou uma mobilização geral após a Rússia anunciar que está enviando tropas para o leste do território ucraniano.
Um soldado foi morto e seis ficaram feridos após bombardeios por separatistas pró-Rússia, no leste da Ucrânia, nas últimas 24 horas. Conforme militares ucranianos, as violações do cessar-fogo continuam em alto nível.
A Ucrânia acusou a Rússia de provocar violência, usando isso como pretexto para reconhecer formalmente o leste do país como independente e transferir tropas russas para a região, precipitando uma crise que o Ocidente teme que possa desencadear uma grande guerra.
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