Novo epicentro da pandemia de covid-19, a Índia continua superando seus próprios recordes de infecções e registrou, nesta sexta-feira, 7, 414.188 casos da doença em 24 horas. O número de mortes no mesmo período foi de 3.915, em meio a uma segunda onda devastadora que levou o sistema de saúde do país ao colapso.
A última atualização divulgada pelo Ministério da Saúde eleva o total de casos e óbitos no país para 21,4 milhões e 234.083, respectivamente. Dessa forma, a Índia, segunda nação mais afetada pela pandemia em números absolutos, vai diminuindo a distância até o primeiro lugar, ocupado pelos Estados Unidos (32,6 milhões de casos).
Além de resultar em escassez de oxigênio e de insumos básicos para internações, o colapso no sistema de saúde levou o país a uma sucessão de acidentes hospitalares nas últimas semanas.
No dia 21 de abril, 24 internados com covid morreram devido a um vazamento de oxigênio em um hospital em Nashik, no estado de Maharashtra. Dois dias depois, um incêndio em uma UTI no mesmo estado deixou pelo menos 13 vítimas fatais. Em 1º de maio, outro incêndio matou 16 pacientes de covid e duas enfermeiras em um hospital no estado de Gujarat.
Outra consequência da sucessão de recordes de infecções foi o fechamento de fronteiras internacionais. Países como Sri Lanka, Bangladesh e Nepal estão entre os que suspenderam a entrada de voos vindos da Índia. A medida, contudo, não foi o suficiente para impedir que a explosão de casos se alastrasse pelo Himalaia. Vizinho, o Nepal registrou 57 vezes mais infecções pelo coronavírus em maio do que no mês anterior, e já teme não ser capaz de oferecer leitos para todos nas próximas semanas.
O aumento expressivo de casos na Índia foi atribuído em parte ao relaxamento de medidas restritivas e à organização de eventos com grande público, como comícios eleitorais e festivais religiosos. O governo de Narendra Modi reconheceu, no entanto, que o recrudescimento da pandemia tem uma forte correlação com a maior presença da variante mais agressiva e "duplo mutante" do vírus, conhecida como B.1.617.
O programa de vacinação, aberto no último sábado, 1, a toda a população com mais de 18 anos, é visto como a principal esperança para sair desta crise, enquanto autoridades sanitárias alertam que uma terceira onda de infecções é praticamente inevitável.
O país administrou 2,3 milhões de doses de vacina nas últimas 24 horas, elevando o total para 164 milhões desde janeiro. Embora pareça expressivo, o número está longe de abranger uma parcela suficiente da população, estimada em cerca de 1,35 bilhão de habitantes. Em termos proporcionais, pouco mais de 2% dos indianos já receberam as duas doses do esquema vacinal.
Pressão por lockdown
Diante da situação, o primeiro-ministro Narendra Modi vem enfrentando pressão crescente para impor uma coordenação nacional com bloqueios severos em todo o país. Embora mantenha diálogo com líderes sanitários, governadores e com a população, Modi tem deixado para os governos estaduais a responsabilidade de combater o vírus, atitude pela qual é criticado.
Muitos especialistas médicos, líderes da oposição e alguns juízes da Suprema Corte sugeriram que os bloqueios parecem ser a única opção para frear a contaminação nas cidades e vilas, onde hospitais são obrigados a recusar pacientes por falta de leitos.
O Dr. Randeep Guleria, um especialista em saúde do governo, defende que a Índia faça um lockdown completo e agressivo, especialmente nas áreas onde mais de 10% dos testes deram positivo para covid.
Já o presidente da Fundação de Saúde Pública da Índia, Srinath Reddy, afirmou que uma "estratégia nacional coordenada" é necessária, mesmo que nem todos os estados estejam experimentando a pandemia na mesma intensidade. De acordo com Reddy, embora baseadas nas condições locais, as decisões devem ser coordenadas pelo governo central. “Como uma orquestra que toca a mesma partitura, mas com instrumentos diferentes”, disse.
Anthony Fauci, médico conselheiro do presidente Joe Biden, também sugeriu que uma paralisação completa de duas a quatro semanas na Índia pode ser necessária para ajudar a aliviar o surto de infecções. "Assim que os casos começarem a cair, será possível vacinar mais pessoas e se antecipar à trajetória da pandemia", disse em entrevista à CNN americana na quinta-feira, 6.
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