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Biografia de Eder Jofre emocionou Festival de Gramado em 2018

Boxeador, que morreu neste domingo, 2, teve sua vida retratada no filme ‘10 Segundos para Vencer’.

Eder Jofre morreu neste domingo, 2, aos 86 anos (clique aqui para relembrar sua trajetória). Diagnosticado com uma doença neurológica degenerativa há cerca de sete anos, vinha em situação delicada de saúde desde 4 de março deste ano, quando foi internado por conta de uma pneumonia. A vida do maior peso galo do boxe em todos os tempos foi tema da cinebiografia 10 Segundos para Vencer, lançada em 2018.

O crítico Luiz Zanin Oricchio acompanhou a estreia do longa no Festival de Gramado em 24 de agosto de 2018 e fez uma análise ao Estadão. Confira a íntegra abaixo:


Entre jabs, esquivas e uppercuts, chegou à tela do Palácio dos Festivais o até agora mais emocionante concorrente de Gramado - 10 Segundos para Vencer, cinebiografia do nosso super campeão de boxe, Éder Jofre. O filme é dirigido por José Alvarenga Jr. Daniel de Oliveira interpreta Eder adulto e Osmar Prado, em trabalho incrível, encarna o pai do pugilista e seu treinador, Kid Jofre.

Deve-se dizer que 10 Segundos para Vencer é aquele tipo dois em um - pelo menos. É filme sobre pugilismo como nenhum outro feito até agora no Brasil (nos Estados Unidos há toda uma coleção de obras-primas sobre o esporte, como Punhos de Campeão e Touro Indomável, por exemplo). Mas é, também e talvez acima de tudo, um filme sobre o relacionamento entre pai e filho.

O filme acerta também na recriação de clima, na São Paulo da Zona Leste nos anos 40 e 50, quando o argentino Kid Jofre mantinha sua Academia de Boxe e depositava todas suas fichas no talento de um irmão de sua mulher, Zumbanão (Ricardo Zelli), forte como touro, porém brigão, mulherengo e incontrolável. Com essa carreira promissora indo pelo ralo, sobra o jovem Éder, então dividido entre o boxe e um curso de desenhista no Liceu de Artes e Ofícios.

Em tom naturalista e com boa carpintaria clássica, Dez Segundos para Vencer percorre a trajetória de Éder, das primeiras vitórias ao desafio da primeira luta nos Estados Unidos, contra o então segundo do ranking, o mexicano Elóy Sanchez. Outras lutas clássicas são reconstituídas, como as com Joe Medel e José Legrá.

A trajetória profissional de Éder se estende de 1957 a 1976 e foi a mais estupenda de um boxeador brasileiro. Campeão do mundo em duas categorias - Galo e Pena - Éder é considerado, por especialistas, um dos dez maiores pugilistas de todos os tempos. Está no Hall da Fama, nos Estados Unidos, Meca da modalidade.

Eder projetou-se numa época em que tudo no Brasil parecia ir de vento em popa. No intervalo de poucos anos, entre o final dos anos 50 e começo dos 60, nos tornamos campeões mundiais de boxe, futebol e tênis, construímos uma nova capital no meio do nada, surgiu uma música moderna e internacional como a bossa nova, um novo teatro agitava a cena e o Cinema Novo despontava. Éramos reis, nesse tempo de otimismo e Éder era um dos nossos ídolos maiores, nosso herói positivo. A depressão viria logo depois.

O filme se concentra nessa realização de sonho, partilhado entre pai e filho. O sacrifício do sucesso, a dedicação fanática à vida esportiva, com o suplício do corpo que precisa emagrecer sem perder o vigor, a família sempre em segundo plano - tudo isso é mostrado, com vigor e inteligência. E o resultado, no ringue, vem sob a forma de lutas reconstituídas com realismo e verossimilhança, graças às imagens de Lula Carvalho, um bamba.

O ritmo do filme é empolgante e não se volta apenas aos fãs da nobre arte. É uma obra sobre o núcleo familiar e seus problemas, sobre o desafio da gente pobre de abrir caminhos com seus próprios punhos (no caso, de maneira literal). E, como dissemos, sobre a relação entre pai e filho. Daniel de Oliveira decerto está ótimo como o rapaz cheio de energia, ambição mas também cercado de dúvidas quanto ao seguimento da carreira e consequente sacrifício da vida familiar. É artista dedicado e adquiriu corpo e maneiras de pugilista.

Já Osmar Prado, como Kid Jofre, é simplesmente magnífico. A meu ver, a maior interpretação masculina deste festival. Duro e obstinado, este capo familiar persegue seu objetivo com mão de ferro, e impõe sua disciplina aos outros. No entanto, a grandeza do ator está em fazer respirar o disfarçado afeto que inspira sua dureza e lhe dá sentido.

Belíssimo e emocionante filme.

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