O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou neste sábado, 2, que os beneficiários da Proposta de Emenda à Constituição deveriam “pegar todo o dinheiro” e não votar no presidente Jair Bolsonaro (PL) em outubro.
“Eu queria dizer para ele (Bolsonaro) o que o povo baiano está dizendo para ele: ‘Bolsonaro, aprove as suas leis, porque a gente vai pegar todo o dinheiro que você mandar, mas a gente não vai votar em você. A gente vai votar em outras pessoas’. Porque o dinheiro que ele está dando agora é só até dezembro”, afirmou o petista em discurso nos festejos da Independência do Brasil na Bahia, em Salvador.
A festa de 2 de julho é um tradicional termômetro da popularidade para candidatos em ano eleitoral. Além do petista, outros três presidenciáveis participaram de atos em Salvador, a poucos quilômetros uns dos outros. Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) participaram da tradicional Caminhada do Largo da Lapinha e se encontraram no trajeto, saudando a democracia e o respeito durante as eleições. Jair Bolsonaro (PL), por sua vez, participou de uma motociata pelas ruas da orla de Salvador, além de criticar governadores do Nordeste por serem contra o teto do ICMS.
Aprovada na quinta-feira, 30, com amplo apoio da oposição no Senado, inclusive a bancada do PT - apenas o senador José Serra (PSDB-SP) votou contra -, a PEC mencionada por Lula foi a resposta do governo federal à disparada dos combustíveis. O texto prevê auxílio-gasolina de R$ 200 por mês a taxistas, destinação de R$ 500 milhões ao programa Alimenta Brasil, um aumento no Bolsa Família de R$ 400 para R$ 600 até o final do ano e uma “bolsa-caminhoneiro” de R$ 1 mil por mês.
Segundo apuração do Estadão/Broadcast, o ministro da Economia, Paulo Guedes, que anteriormente havia batizado a Emenda de PEC Kamikaze, deu aval às medidas, em articulação que envolveu o senador Flávio Bolsonaro, líder do PL no Senado, e o próprio presidente da República.
Ao lado do pré-candidato à vice-presidência, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB) e lideranças da frente de esquerda que apoia sua candidatura, Lula também defendeu que a retomada do crescimento e da geração de empregos no País depende da criação de um ambiente de “estabilidade política, econômica e institucional” que seria alcançado por meio da revogação de medidas de responsabilidade fiscal criadas nos últimos anos.
“É preciso estabelecer um ambiente de estabilidade política, econômica e institucional que proporcione confiança e segurança aos investimentos que interessam ao desenvolvimento do país. É preciso revogar o teto de gasto, que tira dos pobres e dá aos ricos, e rever o perverso regime tributário brasileiro. É preciso colocar os pobres outra vez no orçamento, e os ricos no imposto de renda para a gente começar a recuperar esse País”, declarou.
Caminhada com apoiadores
O ex-presidente chegou ao cortejo do 2 de julho por volta das 9h, na altura do convento da Soledade, e caminhou durante aproximadamente uma hora. Ele deixou a caminhada no bairro do Barbalho e foi ovacionado por apoiadores que o acompanhavam.
Ele estava acompanhado da esposa, Janja, de Alckmin, do candidato ao governo Jerônimo Rodrigues (PT), do ex-ministro Aloizio Mercadante, do governador Rui Costa (PT) e do senador Jaques Wagner (PT).
Apesar do forte esquema de segurança pessoal e de um cordão humano com voluntários militantes que reforçaram a sua segurança, alguns populares conseguiram furar o bloqueio e chegaram até o ex-presidente para abraçá-lo. Em sua rede social, o petista enfatizou que a caminhada transcorreu em segurança, rebatendo comentários de apoiadores de Bolsonaro que o acusam de estar com receio de caminhar em eventos públicos.
Estivemos em uma caminhada em Salvador com milhares de pessoas e não houve um incidente sequer, numa demonstração de que o povo brasileiro não só é democrático como gosta de manifestações democráticas.
— Lula (@LulaOficial) July 2, 2022
????: @ricardostuckert pic.twitter.com/xotoaFfK4T
Nós cerca de 800 metros por onde caminhou, Lula fez algumas paradas e chegou a carregar um bebê de menos de um ano no colo. Em um dos momentos, Lula colocou um turbante do bloco Filhos de Gandhy na cabeça. O público foi estimado inicialmente em 8 mil pessoas pela Policia Militar.
Na sequência, o ex-presidente voltou ao hotel e de lá seguiu para a Arena Fonte Nova, onde participou do evento ‘Grande Ato da Independência’.
Eleições na Bahia
O destaque para Jerônimo Rodrigues ao lado de Lula no evento foi uma forma de reforçar o apoio do presidente a sua candidatura. O ex-secretário da Educação do governo Rui Costa ainda é desconhecido da população, mas tem potencial de crescimento ao ser apontado como candidato de Lula. Isso porque o petista aparece com larga vantagem em relação ao presidente Jair Bolsonaro (PL) no Estado, com 63% frente a 17% do presidente, conforme pesquisa Genial/Quaest, divulgada no dia 18 de junho.
Bolsonaro fez um movimento semelhante, ao discursar junto do deputado federal e ex-ministro da Cidadania João Roma (PL), que também é pré-candidato ao governo do Estado. Roma chegou a percorrer a motociata na garupa da moto do presidente.
Ciro Gomes, por sua vez, sinalizou ainda na sexta-feira, 1º, que considera o ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil) como a melhor opção para o governo da Bahia. O PDT, de Ciro, está negociando acordo para apoiar o ex-prefeito de Salvador.
ACM Neto aparece como favorito para vencer o pleito pelo governo do Estado, segundo a pesquisa do instituto Real Time Big Data divulgada na quinta-feira, 9 de junho. Ele registrou 56% das intenções de voto. Rodrigues apareceu com 18%, no segundo lugar, enquanto Roma teve 10%.
No âmbito das eleições parlamentares baianas, o senador Otto Alencar (PSD) ganhou posição de destaque no evento de Lula, como candidato da chapa ao Senado. Em entrevista, ele disse que conversou ontem com o presidente do partido, Gilberto Kassab, que ainda estaria indeciso sobre apoiar o ex-presidente já no primeiro turno. Segundo Otto, ainda há uma chance de fechar apoio. “Ele está indeciso porque tem alguns estados que ainda discordam dessa posição. Eu tenho conversado muito com ele, eu, Kassab e o Lula também. Os estados do sul, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul refluiu a favor da gente”, sinalizou o senador.
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