Reportagem do jornalista Alexandre Garcia, da Gazeta do Povo, afirma que o Brasil vive uma combinação preocupante de desindustrialização e escândalos de corrupção, que comprometem o futuro econômico do país. Embora o superávit da balança comercial de 2024 tenha sido positivo, alcançando US$ 74,5 bilhões, houve uma queda de 25% em relação ao ano anterior, quando o superávit foi de quase US$ 99 bilhões. Essa diminuição revela o impacto negativo de uma série de fatores, sendo o principal deles a queda da indústria nacional, que está perdendo importância no contexto econômico brasileiro.
Desindustrialização: a Indústria perdendo espaço no PIB
A participação da indústria no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil era de 35% nos anos 80 e 90, mas, atualmente, representa apenas 25,5%. Esse declínio é um reflexo da falta de competitividade da indústria brasileira, agravada por um sistema tributário complexo e punitivo. O Brasil, apesar de ser um grande exportador de minério de ferro para a China, carece de uma indústria siderúrgica robusta que consiga processar esses minérios de forma eficiente. A falta de indústrias de base, capazes de gerar tecnologia e transformar recursos naturais em produtos de maior valor agregado, reflete uma crise estrutural na economia.
A dependência dos produtos importados
Essa desindustrialização também se reflete na importação de produtos industrializados. O Brasil acaba comprando da China, por exemplo, trilhos feitos com o minério brasileiro, evidenciando a dependência de um modelo de exportação de commodities e a falta de capacidade produtiva local para atender às necessidades internas. O empresário Jorge Gerdau Johannpeter, um dos grandes nomes da siderurgia nacional, revelou em uma conversa que, antes mesmo de produzir a primeira tonelada de aço, já estava pagando milhões de reais em impostos. Esse sistema, que desestimula a produção industrial no país, contribui para o enfraquecimento da economia local e a manutenção da dependência de mercados estrangeiros.
Corrupção e desvio de recursos públicos
Além da crise econômica, o Brasil enfrenta um problema crônico de desvio de recursos públicos. O caso recente no Ceará é um exemplo claro dessa distorção: 51 municípios estão sendo investigados pela Polícia Federal por um esquema de corrupção envolvendo emendas parlamentares. Uma empresa, MK Construções e Transporte Escolar, foi criada por um vigia, um funcionário com um salário de menos de R$ 2,5 mil por mês, mas que obteve R$ 8,5 milhões de capital registrado e firmou contratos no valor de R$ 320 milhões com prefeituras. Este é um exemplo de como o dinheiro público, oriundo dos impostos pagos pelos cidadãos, está sendo desviado para fins ilícitos, sem que haja fiscalização adequada.
A situação no Ceará é ainda mais grave, com prefeitos envolvidos em esquemas criminosos. Um deles, o prefeito de Choró, Bebeto do Choró, está foragido, e outro, Júnior Mano (PSB), teve a posse em uma prefeitura impedida devido a acusações de corrupção. A Polícia Federal está investigando, mas a sensação é de impunidade e continuidade dos desvios de recursos.
O problema estrutural da política brasileira
O que se observa é que, na política brasileira, muitos políticos têm projetos de poder que se concentram em garantir dinheiro e influência, e não em desenvolver políticas públicas efetivas para a melhoria do país. Esse modelo fisiológico de poder é alimentado por eleitores que, muitas vezes, não exigem responsabilidade e transparência de seus representantes.
O desinteresse por um projeto ideológico ou de desenvolvimento do país, somado à corrupção sistêmica, resulta em um ciclo vicioso que mina a confiança da população nas instituições e agrava ainda mais a crise econômica que o Brasil enfrenta. É necessário um esforço conjunto da sociedade e dos órgãos de fiscalização para romper com esse ciclo de desindustrialização e corrupção que tem prejudicado o país.
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