Um "boom" de gasolina importada tomou o mercado brasileiro em 2019. Foram 4,4 bilhões de litros de janeiro a novembro, um crescimento de 71,4%, segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). A maior parte do combustível foi trazido pela Petrobras, mas em menor medida do que no ano anterior. Quem ganhou espaço foram as duas maiores distribuidoras privadas - a Raízen, uma junção da Shell com a Cosan, e a Ipiranga.
O consumidor final não ganhou nada com isso. O preço do litro da gasolina continuou subindo: 3,4% no período. Em janeiro era de R$ 4,268 e, em novembro, chegou a R$ 4,413, informa a ANP.
O avanço dos importados no mercado brasileiro é consequência da política de preços da Petrobras. A estatal optou por seguir as cotações internacionais, em paridade com as principais bolsas de negociação.
“A paridade de preços torna a importação atrativa. Para a Petrobras, significa ganho de receita. Não é interessante para ela desestimular a concorrência e perder dinheiro”, avalia Luciano Losekann, especialista em Petróleo e Gás Natural e professor da Faculdade de Economia da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Ao acompanhar a cotação da commodity, a estatal vende gasolina pelo valor negociado na Europa e Estados Unidos e corrige sua tabela pelo câmbio. Com isso, gera uma receita maior do que se optasse pela metodologia tradicional, um somatório de custos de produção com margem de lucro.
Essa política, porém, abre espaço para que concorrentes ganhem mercado. Lidera essa corrida quem tiver mais experiência, infraestrutura logística, e, portanto, menores custos. Considerando a ocupação do mercado em 2019, quem saiu na frente foi a Raízen.
"Não foi uma decisão puramente comercial da Petrobras para aumentar a receita, porque, em alguns momentos, seguir o mercado externo não é bom. Às vezes o preço despenca lá fora. Ela começou a ter dificuldade mesmo quando perdeu a capacidade de produzir o que o mercado doméstico demandava, a partir de 2012", afirmou o consultor de Petróleo e Gás da FCStone, Tadeu Silva
Nos postos de gasolina, porém, nada mudou. Com o petróleo do tipo Brent e o dólar em alta ao longo do ano, a competição entre os fornecedores não foi suficiente para evitar que a gasolina ficasse mais cara.
“A possibilidade de importações é importante para limitar o preço da Petrobras. Mas isso não significa que o momento de mais competição é também o de menores margens e, portanto, benéfico para o consumidor”, complementa Losekann.
Em 2019, a importação respondeu por 12,71% da gasolina vendida pelas distribuidoras no mercado interno, de acordo com a ANP. No ano anterior, a relação era de 7,4%, quase a metade. A FCStone calcula que a Petrobras respondeu por 81% da importação em 2019. Em 2018, tinha ficado com 88%.
Já as três maiores distribuidoras de combustíveis reunidas no Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e Lubrificantes (Sindicom) passaram de 2,06% para 5,95%.
“Empresas com mais capacidade de importar no curto prazo ganham mercado. É preciso ter estrutura para isso, tem que ter acesso a linhas e um método de operação desenvolvido”, considera Silva, da FCStone.
As pequenas comercializadoras encolheram no período de janeiro a novembro do último ano, de 3,53% para 2,41%.
“Quem atua na cadeia completa, como as grandes distribuidoras, tem vantagem sobre as comercializadoras. Elas podem considerar uma margem integrada. Isso explica porque as grandes empresas estão crescendo”, disse o presidente da Associação dos Importadores de Combustíveis (Abicom), Sérgio Araújo.
Procurada, a Petrobras não se pronunciou.
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