O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou ontem que a proposta de reforma tributária do governo “se autoimplodiu” com o veto à discussão de um novo tributo que seria cobrado sobre os meios de pagamentos nos moldes da antiga CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira).
A ideia defendida pela equipe econômica era usar esse novo imposto para reduzir a carga tributária que as empresas pagam sobre a folha de salários dos funcionários, como forma de baratear as contratações para reduzir o nível do desemprego no País. “Vocês preferem a perversidade dos encargos trabalhistas ao imposto feio? Escolham. O imposto sobre transação é feio, o outro é cruel. Você prefere o feio ou o cruel? Isso era uma opção que ofereceríamos. Estava no nosso programa oferecer essa opção à Câmara e ao Senado”, disse Guedes à Jovem Pan.
“Nossa proposta estava praticamente pronta, nós íamos lançar e ela se ‘autoimplodiu’ com o mal entendido a respeito do imposto de transações. O nosso secretário sai, nós temos de reprogramar os cálculos todos”, afirmou.
Marcos Cintra, ex-chefe da Receita, caiu pela defesa enfática à criação do imposto sobre pagamentos. Para o seu lugar, foi nomeado na sexta-feira José Barroso Tostes Neto.
Na visão do ministro, a “dança” da reforma tributária começou a sair errada quando Câmara e Senado travaram uma disputa pelo protagonismo na simplificação dos impostos. “Começou a bagunça e virou baile funk, deram tiro para cima e começou a correria no salão. Pedimos: ‘Cintra, dá licença, vai embora, acalma tudo’.”
Guedes disse que o novo chefe da Receita vai trabalhar com Vanessa Canado, da equipe do economista Bernard Appy, mentor da proposta que está atualmente na Câmara, no novo formato da reforma.
Perseguição
Na mesma entrevista, o ministro disse que quer fazer uma renovação na Receita, como antecipou o Estado, e que não quer o órgão envolvido em tumultos políticos. Depois do aceno com a escolha de Tostes, funcionário de carreira, a fala de Guedes chateou a categoria. Um auditor ouvido pelo Estadão/Broadcast refutou qualquer tipo de perseguição política pela Receita e disse que as declarações do ministro não ajudam o órgão neste momento.
Outro representante da categoria acredita que Guedes ainda entende pouco a “missão institucional” do órgão e que prefere não ter “confusão” porque depende de um bom ambiente político para tocar seus projetos.
Na Receita, a escolha de Tostes foi vista como um nome de Everardo Maciel, o ex-secretário do órgão durante o governo Fernando Henrique e muito próximo a Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal. A escolha foi definida pelo presidente Jair Bolsonaro e Guedes.
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