O Facebook já era um terreno fértil para os partidarismos, os artigos insanos e teorias de conspiração bem antes da eleição presidencial nos Estados Unidos, em 2016. A rede social foi otimizada com vistas a um “engajamento”, incentivando as pessoas a continuarem navegando, clicando e comentando assuntos ao promover conteúdo que provoca fortes reações. Mas foi necessária a revelação de uma maciça campanha de propaganda russa para políticos, jornalistas e os usuários do Facebook começarem a tomar conhecimento dos riscos envolvidos. Algo similar ocorrerá com a eleição de 2020 – mas desta vez no caso do Instagram (cujo proprietário é o Facebook).
A popularidade do Instagram explodiu desde 2016. Uma das razões é que as pessoas estão cansadas da interface atravancada do Facebook e os seus incômodos controles de privacidade. O Instagram oferece imagens bonitas e é fácil de usar. O que sobrealimentou seu crescimento foi a introdução, no final de 2016, das Stories – um feed de fotos e vídeos que desaparecem depois de um dia.
Embora o “grid”, como o perfil tradicional do Instagram é conhecido, seja meticulosamente organizado e supervisionado pelos seus usuários para apresentarem seus melhores momentos na vida, as Stories implicaram uma licença para se divertirem e se sentirem seguros sabendo que as postagens não sobreviverão por muito tempo.
O uso cresceu exponencialmente, especialmente entre as pessoas mais velhas. Em junho de 2016 o Instagram contabilizava 500 milhões de usuários, um número que aumentou para um bilhão em junho de 2018; metade dos membros do Congresso americano e quase três quartos dos senadores assinam o Instagram. Podemos afirmar com segurança que essa base de assinantes aumentou e é hoje muito maior. Além disto, os níveis de envolvimento são estratosféricos. A décima maior conta do Instagram tem três vezes mais interações que a da maior do Facebook, segundo o website político Axios.
As Stories mudaram o Instagram com a introdução de texto no que seria uma mídia visual. E deram aos usuários a possibilidade de recompartilhar postagens de outras pessoas com mais facilidade. Esta combinação de texto e compartilhamento, juntamente com uma enorme base de usuários, tornou o Instagram muito mais semelhante ao Facebook, e uma ferramenta irresistível para os propagandistas. E o melhor de tudo, ainda é visto como um lugar para fotos inofensivas de entardeceres, taças de café e jovens “influenciadores” atrativos vendendo batom, de maneira que os usuários baixam a guarda.
Mas a política há muito tempo corrompeu o Instagram. Seu papel na eleição americana em 2016 foi ignorado, segundo um estudo encomendado pela Comissão de Inteligência do Senado. Em 2017, ainda de acordo com o estudo, os propagandistas russos mudaram o foco para o Instagram depois das revelações na mídia das suas operações no Facebook e Twitter. Outro estudo feito pela Universidade de Nova York alerta que o Instagram “será o veículo de escolha das pessoas que pretenderem disseminar desinformação com base em memes”, na eleição de 2020, observando que “além da interferência rua, “trotes” e teorias de conspiração gerados internamente, estão proliferando cada vez mais no Instagram.
Contas dedicadas a assuntos polêmicos, como memes políticos, ou vacinas, já são generalizadas. Os seguidores são informados então de contas similares, algoritmicamente reforçando as opiniões, do mesmo modo que as notícias no Facebook fomentam histórias absurdas. Os usuários também encontram meios de inserir política no seu “grid”, como mudar a cor das suas fotos de perfil para vermelho em apoio à Caxemira, ou azul para o Sudão.
Desde 2016 o Facebook se uniu a agências encarregadas de checagem dos fatos, contratou milhares de moderadores de conteúdo e tentou reduzir a difusão de material incendiário. Sua rede social menor, que vem crescendo mais rápido, tem menos salvaguardas. Todos os sinais de alerta estão aí. Mas será preciso que ocorra outro caso de descrédito de uma plataforma, em uma nova eleição, para todo mundo ficar atento.
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