Passados mais de quatro meses desde a última manifestação, a oposição no Congresso Nacional voltou a buscar apoio popular para impulsionar o pedido de impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O principal argumento técnico para a medida são as suspeitas de pedaladas fiscais no programa Pé-de-Meia, que prevê transferência de renda para estudantes.
Além disso, a oposição vem explorando o atual cenário político para fortalecer a narrativa pró-impeachment. Entre os fatores usados para sustentar a mobilização estão a alta dos preços dos alimentos, a valorização do dólar, o aumento da taxa de juros e os esforços do governo para ampliar a taxação sobre a população.
Os congressistas acreditam que Lula já possui as condições políticas e jurídicas para um processo de impedimento, contudo, isso só se tornaria viável se o Legislativo fosse pressionado pela insatisfação popular. “Com o povo brasileiro indo às ruas para pedir sua saída, acredito que isso será fundamental para avançarmos com o impeachment aqui no Congresso”, disse o deputado federal Rodolfo Nogueira (PL), autor do pedido de impeachment. Assim, os esforços de mobilização estão caminhando para uma manifestação de rua marcada para ocorrer no dia 16 de março, na Avenida Paulista, em São Paulo.
O pedido de impeachment de Lula ganhou força após o Tribunal de Contas da União bloquear, em caráter provisório, R$ 6 bilhões destinados ao programa de transferência de renda Pé-de-Meia, que paga bolsas de R$ 200 para estudantes. A destinação desses recursos, no entanto, ocorreu por meio de transferências entre fundos controlados pelo governo, sem passar pelo Tesouro. Isso impediu que os valores fossem submetidos à política de austeridade fiscal e registrados como despesas do governo.
A manifestação está sendo organizada por ativistas de direita por meio da internet com base em doações para confecção de material publicitário e contratação de carro de som. Uma das articuladoras é a deputada federal Carla Zambelli (PL), que foi cassada pelo Tribunal Regional Eleitoral. O clima político para o pedido de impeachment começou a se configurar após uma série de crises enfrentadas pelo governo desde o final de 2024, quando em dezembro o real se desvalorizou e o dólar ultrapassou o valor de R$ 6, seguido do mês de janeiro, quando a Receita Federal instituiu uma nova norma que visava melhorar o monitoramento de operações financeiras, inclusive o Pix. A oposição apontou como a determinação poderia ser usada para aplicar impostos já existentes sobre a parcela da população mais pobre que trabalha na informalidade, repercutindo a ponto de o governo ter que cancelar a normativa.
Logo em seguida, o próprio governo jogou luz sobre a crise da alta dos preços dos alimentos. Após ser cobrado por Lula por uma solução para o problema, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, disse em uma entrevista à estatal de comunicação EBC que o governo faria intervenções para baratear os alimentos. A fala foi interpretada como intervenção no livre mercado e gerou temores de congelamento de preços. O governo afirmou rapidamente que a declaração foi uma falha de comunicação do ministro, contudo, a alta dos alimentos passou a ser discutida no Congresso e nas ruas e o aumento da carne e do café ficou no foco dos debates.
Na abertura dos trabalhos do Congresso na segunda-feira (03), deputados de oposição fizeram um protesto na Câmara usando bonés com uma mensagem exigindo "comida barata novamente", em uma crítica ao governo Lula.
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