Levantamentos realizados em 2024 apontam a atuação de 72 organizações criminosas e milícias em diversas regiões do Brasil, afetando diretamente a vida de 23 milhões de pessoas, o que equivale à cerca de 11% da população. As pesquisas, conduzidas por instituições como o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e o Datafolha, revelam o avanço do crime organizado no país, com facções e milicianos ampliando sua presença, inclusive nas fronteiras e dentro do sistema penitenciário.
A presença de facções criminosas, como o PCC e o Comando Vermelho (CV), se expandiu para quase todos os estados, com um aumento no número de grupos menores que atuam em parceria com as grandes facções. Em 2024, surgiram quatro novas organizações, que se associam principalmente a atividades de tráfico de drogas e armas.
Os números indicam que, além do controle territorial, essas facções estão enraizadas em presídios, de onde ainda comandam atividades ilícitas, como o tráfico internacional de drogas e a lavagem de dinheiro, utilizando fachadas legais para ocultar suas operações criminosas.
Em áreas urbanas e periféricas, especialmente nas regiões metropolitanas, 20% da população relatou a presença de grupos milicianos ou facções criminosas em seus bairros. No interior, esse número diminui, mas a influência ainda se faz presente. As facções criminosas dominam áreas estratégicas, como as fronteiras, facilitando o tráfico de drogas e expandindo suas rotas de comércio. No caso do PCC, por exemplo, estima-se que a organização envie, mensalmente, toneladas de pasta base de cocaína para a Europa através do Porto de Santos.
Além da violência e do controle territorial, as facções também se inserem na economia de maneira mais sofisticada. O tráfico de drogas, o contrabando e a exploração de recursos naturais na Amazônia são algumas das atividades ilícitas que geram grandes lucros, permitindo o financiamento de campanhas eleitorais e a compra de bens e serviços legais.
Contudo, a falta de estrutura do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) tem dificultado o rastreamento de movimentações financeiras atípicas, que são essenciais para o combate à lavagem de dinheiro do crime organizado.
Por fim, o sistema penitenciário brasileiro se tornou um ponto de controle para essas organizações. A superlotação nas prisões contribui para que facções locais cresçam e se fortaleçam. Apesar de algumas propostas de aumento da capacidade de vagas e maior controle sobre os detentos, especialistas alertam para a necessidade de uma coordenação mais eficaz entre as forças de segurança para enfrentar o avanço das facções.
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