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Pesquisa mostra Brasil como o 5º país do mundo na pirataria

Foram 4,5 bilhões de streams e downloads não licenciados entre janeiro e setembro de 2021.

Dor de cabeça dos estúdios desde a era do VHS, a pirataria continua tirando o sono de muitos executivos do entretenimento – principalmente no Brasil. Um relatório divulgado em fevereiro deste ano, sob responsabilidade da Akamai, empresa global de cibersegurança e entrega de experiências digitais, mostra a persistência da pirataria online no Brasil. Em 2021, o País ficou em 5º lugar no ranking global de acessos em sites de pirataria, atrás de Estados Unidos, Rússia, Índia e Turquia na lista.

Com o nome de Piratas à Vista, o relatório de segurança da Akamai, em colaboração com a Muso, empresa de tecnologia antipirataria, forneceu dados sobre a atividade de pirataria de streaming e download nos setores impactados (cinema, TV, música, editorial e softwares) e ilustra como a pirataria continua sendo financeiramente prejudicial a essas indústrias no País. Segundo o estudo, foram 4,5 bilhões de streams e downloads não licenciados entre janeiro e setembro de 2021.


Globalmente, 61,5% dos consumidores que visitaram websites de pirataria os acessaram diretamente, enquanto 28,6% pesquisaram ativamente por eles. É um prejuízo imenso, que tira boa parte dos rendimentos de empresas. Segundo um levantamento do Fórum Nacional Contra a Pirataria e Ilegalidade (FNCP), apenas em 2020, o mercado ilegal custou R$ 287 bilhões ao Brasil, atingindo principalmente as áreas de música e televisão.

“Além do evidente aumento dos volumes praticados, o entendimento do que é a pirataria inclui fatores econômicos e fatores tecnológicos. Especialistas identificaram que a pandemia causou não só uma explosão no consumo de conteúdo digital, mas também na pirataria desse conteúdo. Obviamente, existem enormes interesses econômicos, tanto pelo lado dos negócios quanto do crime”, diz Claudio Baumann, diretor da Akamai na América Latina.

Globalmente, os principais setores pirateados foram televisão, 64 bilhões de visitas totais (veja quadro ao lado), editoração (30 bilhões de visitas totais), cinema (14,5 bilhões de visitas totais), música (10,8 bilhões de visitas totais) e software, que inclui videogames e softwares modernos para PC (8,9 bilhões de visitas totais).

Quando os serviços de streaming começaram a ganhar força no Brasil e no mundo, muitos especialistas apontavam que esse seria o fim da linha para a pirataria. Afinal, é muito mais simples e cômodo pagar uma certa quantia em dinheiro para ter uma boa quantidade de conteúdo com alguns toques no controle remoto. No entanto, não foi o que aconteceu.

Segundo o relatório, muitas das conversas que os pesquisadores da Akamai observaram online, relacionadas à pirataria, mostram que enquanto um determinado programa ou filme está sendo pirateado, quem procura por esse conteúdo também paga para acessar outros serviços de streaming de forma legal. “Parte (da pirataria no Brasil) ainda se dá pela falta de acesso a certos conteúdos na região”, explica o executivo.

Além disso, vale lembrar que algumas distribuidoras adotaram uma tática de “digital first” em 2021 – em outras palavras, priorizaram o digital. Foi o caso da Warner: nos Estados Unidos, o estúdio lançava seus filmes no HBO Max simultaneamente com os cinemas, enquanto demorava um pouco mais para esse lançamento digital no Brasil. Com isso, abriu-se uma janela em que a pirataria acontecia sem freios e sem controle.

“É importante lembrar, porém, que existem dois caminhos diferentes na pirataria hoje. De um lado, há quem pirateia filme e está no streaming, que poderia assistir com uma assinatura de R$ 15. Do outro, há um problema dos próprios serviços de streaming, que não oferecem filmes antigos, filmes clássicos”, diz Hugo Harris, professor e coordenador do curso de Jornalismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie. “Uma coisa é assistir Viúva Negra, que está com fácil acesso. Outra coisa é pegar um filme oculto de 1943.”

No caso da pirataria da TV, também é notável que a maioria das séries e temporadas está disponível em serviços de streaming. Três estão no Disney+ (WandaVision, Loki e Falcão e o Soldado Invernal), quatro no HBO Max (Rick and Morty, Game of Thrones, The Flash e Superman & Lois), uma no Star+ (The Walking Dead) e uma na Netflix (Vikings). Só uma, a novela coreana True Beauty, não está disponível em streaming algum no Brasil.

Isso indica outro fator que favorece a pirataria: o excesso de serviços torna o mercado mais restritivo, impedindo financeiramente que as pessoas tenham acesso a todos streamings e seus conteúdos. “Se antes o consumidor assinava uma única plataforma de streaming para ter acesso ao que fosse de seu interesse, hoje existem muito mais opções. E aqui entra o fator econômico e a praticidade, pelo fato de muitas pessoas não estarem dispostas a assinar tantas plataformas”, diz Baumann.

Há alguma maneira de restringir a pirataria? “Posso ser bem sincero? Não tem o que fazer”, diz Harris. “A gente infelizmente mora em um País em que há a cultura da vantagem. Talvez a única solução seria bloquear esses downloads. Só que, assim como tem gente que descobre maneiras de bloquear, alguém vai desbloquear.”

Baumann chama a atenção para a tecnologia. “Um dos focos que emissoras e serviços de streaming devem ter é se proteger de possíveis vulnerabilidades nos processos e interfaces de acesso aos conteúdos, pois os criminosos procuram constantemente explorar essas áreas”, diz o executivo. Recentemente, a Disney seguiu esse caminho quando comprou a patente de um sistema que usa a blockchain, um método de registro de informações, para tentar diminuir o acesso de piratas aos seus sistemas.

No entanto, mais que isso, é preciso focar na educação dos consumidores. “Uma das vertentes que temos é a educacional: mostrar ao consumidor que ele não pode participar dessa cadeia ilegal e não dar seguimento a práticas ilegais”, diz Edson Vismona, presidente do Fórum Nacional contra a Pirataria e Ilegalidade (FNCP).

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