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Empresa de avião que levava Marília Mendonça é investigada pelo MPT

PEC Táxi Aéreo já foi multada por descumprir o prazo de repouso de um tripulante.

A empresa PEC Táxi Aéreo, proprietária do avião que caiu em Caratinga (MG), causando a morte da cantora sertaneja Marília Mendonça e de outras quatro pessoas, é investigada por, supostamente, submeter seus pilotos a jornadas excessivas de trabalho. As investigações foram confirmadas pela Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) e pelo Ministério Público do Trabalho de Goiás (MPT-GO). A empresa já foi multada por descumprir o prazo de repouso de um tripulante, colocando o voo em risco.

O avião que transportava a cantora caiu na sexta-feira, 5, em uma cachoeira, a 4 km do aeroporto da cidade, após se chocar com um cabo de transmissão de energia elétrica. Além de Marília, morreram seu tio e assessor, Abicieli Silveira Dias Filho, o produtor Henrique Ribeiro, o piloto Geraldo Martins de Medeiros e o copiloto Tarcisio Pessoa Viana. O Centro de Investigação de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) ainda apura as causas do acidente.


O MPT de Goiás informou que há um inquérito instaurado este ano para apurar possíveis desrespeitos a jornadas de trabalho e descanso. “Quanto ao caso que envolve o acidente aéreo que levou a óbito a cantora Marília Mendonça e outros, este órgão irá apurar, no âmbito do citado inquérito, se houve ou não desrespeito a essas e outras normas trabalhistas, já que, no caso do piloto, caracteriza-se acidente de trabalho”, disse, em nota. Segundo o MPT, serão requeridos mais documentos à PEC e ouvidas testemunhas e representantes da empresa. “Os laudos produzidos pelos demais órgãos envolvidos na investigação do acidente também irão subsidiar o inquérito conduzido pelo MPT de Goiás”, pontuou.

Conforme noticiou o Estadão, em 2019, a TEC Táxi Aéreo foi julgada em segunda instância pela Anac e multada, após processos por descumprimento dos prazos de repouso de um dos tripulantes. Conforme a decisão, a empresa “colocou em risco vários voos por ela realizados” na época do descumprimento da jornada, em julho de 2008.

O avião de prefixo PT-ONJ, que caiu em Caratinga, já apresentou problema de embaçamento do pára-brisas, causando prejuízo visual em pousos e decolagens, como dá conta outra denúncia enviada à Anac. Em nota, a agência informou que em março de 2021 recebeu um documento denunciando esse problema, tendo adotado as providências para a apuração. No caso do para-brisas, segundo a agência, “ficou constatada a substituição da peça em maio deste ano”.

A agência ressaltou a importância de aguardar o avanço das investigações pelo Centro de Investigação de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), órgão responsável pela apuração das causas do acidente, e disse que se mantém à disposição para contribuir com as investigações.

Procurada para se manifestar sobre a denúncia do MPT, a PEC Táxi Aéreo não tinha dado retorno até a conclusão da reportagem. Em seu site oficial, a empresa lamentou o acidente e informou que o avião estava “devidamente homologado pela Anac para transporte de passageiros e esta plenamente aeronavegável”. Disse ainda que a tripulação “tinha grande experiência de voo”, era habilitada pela Anac e estava com os treinamentos atualizados.

Destroços serão encaminhados para o Rio

Nesta segunda-feira, 8, os investigadores do Terceiro Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Seripa III) continuavam a analisar e recolher os destroços da aeronave que levava a cantora Marília Mendonça e caiu em Caratinga. Um guincho contratado pela empresa dona do avião recolheu um dos motores, que havia caído em área de mata. O outro submergiu na cachoeira e ainda será retirado. Segundo o centro de comunicação do Comando da Aeronáutica, no decorrer desta semana os restos do avião serão encaminhados para a sede do Seripa, no Rio de Janeiro, onde as investigações continuam.

Conforme o órgão, ainda não é possível afirmar se a queda está relacionada com o choque da aeronave contra o cabo de transmissão de energia. “A equipe realiza mais entrevistas com testemunhas e acompanha a finalização do processo de remoção da aeronave”, disse. Ainda segundo o Cenipa, a conclusão das investigações terá o menor prazo possível. O avião King Air C90A, com capacidade para seis passageiros, foi fabricado em 1984 e tinha autorização para operar em regime de fretamento, segundo a ANAC. O Certificado de Verificação de Aeronavegabilidae (CVA) estava válido até julho de 2022.

Suspeita é de que avião estava em baixa velocidade

De acordo com análise do youtuber Lito Sousa, especialista em aviões, o avião bimotor que levava Marília Mendonça estava em baixa velocidade e caiu “como um tijolo”. A queda “na horizontal” causou poucos estragos no aparelho, mas trouxe um grande impacto no corpo das pessoas que estavam no avião. Análise do médico legista Pedro Fernandes, do Instituto Médico Legal (IML) de Belo Horizonte, que realizou as necropsias, indicou que as cinco vítimas sofreram poli traumatismos cranianos, além de traumatismos em outras regiões vitais do corpo, como abdômen, tórax e pescoço.

Mecânico de aviação comercial há 30 anos, Sousa mantém um canal no Youtube sobre “aviões e música”. Sua live sobre o acidente com a cantora sertaneja tinha mais de 140 mil visualizações até a tarde desta segunda-feira, 8. Ressalvando que apenas a investigação oficial poderá revelar as causas do acidente, ele disse que as imagens do local e as informações já disponíveis dão pistas do que aconteceu. “O estado em que a aeronave ficou, com a fuselagem em boas condições, indica que ele caiu de ‘barriga’. O nariz está inteiro, o pára-brisas, as janelas laterais estão intactas, indicando que o acidente foi em baixa velocidade”, disse.

Segundo sua análise, o local da queda tem muitas pedras em elevação e, se o avião estivesse em voo horizontal quando foi ao solo, teria se espatifado. “Foi confirmado que a aeronave bateu nos fios (da linha de transmissão de energia), então ele vinha em baixa altitude e com velocidade reduzida para a aproximação da pista. Em baixa velocidade, os controles do avião ficam inoperantes, pois não há força aerodinâmica para manter o avião controlado.”

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