O GP1 obteve acesso a novas informações sobre as investigações envolvendo o assassinato do empresário Janes Cavalcante de Castro, um dos herdeiros da rede de farmácias do Grupo Toureiro, e traz à tona movimentações financeiras entre empresas ligadas ao empresário Flávio Leal dos Santos (um dos investigados pela morte de Janes Castro) e empresas do Grupo Toureiro, gerenciadas pelo empresário Gerardo Ponte Cavalcante Neto, irmão de Janes Cavalcante de Castro.
Os valores, os quais a Coluna vai expor a seguir, estão no Recurso em Sentido Estrito apresentado pelo promotor Rômulo Cordão, e foram extraídos de relatório técnico da Polícia Civil produzido no bojo do inquérito que investiga o núcleo intermediário do crime, ocorrido em 18 de setembro de 2020, na cidade de Parnaíba.
Segundo o relatório bancário ao qual o GP1 obteve acesso, com exclusividade, a Polícia Civil constatou que Flávio Leal dos Santos, responsável pela empresa Transeletro, recebeu através de sua conta pessoal e da conta de sua esposa, Carla Mariah, o valor total de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais), que teria sido transferido ou por Gerardo Ponte, através de sua conta pessoal, ou por alguém do setor financeiro do Grupo Toureiro, usando as contas da família Toureiro e da empresa de Gerardo, a Geralog.
A Polícia Civil frisou que as referidas transferências que totalizaram o valor de meio milhão de reais foram realizadas antes e após o assassinato de Janes Castro, sem especificar datas. No entanto, a polícia chamou atenção para duas delas que foram feitas 10 dias após o crime e que totalizam o valor de R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais). Relatório ainda ressaltou o pagamento de uma "mesada de R$ 2.000,00" (dois mil reais) para Carla Mariah (esposa de Flávio Leal dos Santos), feita logo após a 1ª fase da Operação Sicário, em 14 de abril de 2021. A advogada Carla Mariah mantinha relação de confiança com Gerardo Ponte desde 2014, tendo atuado como advogada do empresário em alguns processos, inclusive, um envolvendo a sua empresa, a Geralog, em junho de 2020, menos de três meses antes da morte de Janes Castro.
"As contas usadas em nome das pessoas jurídicas do Grupo Toureiro são em nome de Maria Adelaide Cavalcante de Castro e Raimundo Florindo de Castro – pais de Janes e Gerardo. [...] conforme depoimento da irmã da vítima, seus pais Maria Adelaide e Raimundo Florindo, não movimentam mais suas contas, ficando a cargo dos funcionários do setor financeiro, capitaneado por Gerardo Neto", explicou a Polícia Civil.
Análise dos extratos bancários
Ainda na análise dos extratos, referentes a quebra de sigilo bancário, contatou-se também transações de pequeno valor saindo da empresa Geralog (de responsabilidade de Gerardo Ponte) para a Transeletro (ligada a Flávio Leal) no período compreendido entre o dia 07/03 de 2017 e o dia 13/01 de 2020. Em importante destacar, que Gerardo Ponte já foi sócio do irmão de Flávio, o empresário Danilo Leal dos Santos, na Transportadora de Cargas Geralog LTDA, entre os anos de 2014 e 2018.
"Consoante o Relatório Técnico Nº 00030/GIPC/2022, analisaram os últimos extratos referente ao segunda fase da quebra bancária e destaca algo intrigante, pois pode se observar que houve um padrão, qual seja, transações de pequeno valor saindo da empresa Geralog [empresa de Gerardo] para a Trans Eletro [empresa ligada a Flávio] no período compreendido entre o dia 07/03/2017 e o dia 13/01/2020, padrão rompido por 3 transferências atípicas, sendo uma no dia 03/07/2020 no valor de R$ 20.145,00, outra no dia 24/07/2020 no valor de R$ 28.500,00 e mais uma no dia 05/08/2020 no valor de 15.960,00, totalizando o montante de R$ 64.605,00", diz trecho do relatório.
Transferências antes da morte de Janes Castro
No recurso apresentado ao Tribunal de Justiça do Piauí, o promotor Rômulo Cordão destacou outras transferências que foram feitas pelo empresário Gerardo Ponte para a empresa ligada a Flávio Leal, alguns meses antes do assassinato de Janes Castro.
"Vemos também pela análise [da Polícia Civil], que o senhor Gerardo Cavalcante Neto transferiu nos meses de maio e junho de 2020, de sua conta pessoal para a Transeletro, valores que, quando somados aos R$ 64.605,00 já citados, e que foram enviados da Geralog Transportes, nos meses de julho e agosto, chegam ao montante de aproximadamente R$ 95.290,00", destacou o promotor.
Ministério Público diz que valores podem ter sido usados como entrada no pagamento do crime
O Ministério Público apontou que os R$ 64.605,00 podem ter sido utilizados como “entrada” no pagamento dos pistoleiros que vieram de Pernambuco e Alagoas para levantamento logístico em Parnaíba, no dia 14/08/2020, portanto, um mês antes do assassinato de Janes Castro.
Os pequenos valores transferidos da Geralog Transportes para a Transportadora Transeletro, permaneceram por mais de um ano, ocorrendo uma mudança a partir de 21/10/2021, cerca de um ano após o crime. A partir da referida data, foram realizadas 31 transferências, porém, não mais da Geralog para a Transeletro, mas o inverso, essas quando somadas totalizaram um montante em torno de R$ 346.000,00, em um lapso de apenas dois meses, ou seja, as transferências se tornaram quase que diárias e em valores superiores aos que costumeiramente eram realizadas.
Transferências continuaram após a morte de Janes
É importante salientar que as transferências feitas após a morte de Janes se deram após a deflagração da primeira fase da Operação The Mercenary, realizadas em 29/09/2021. Nessa primeira fase Flávio Leal já constava como investigado devido ao seu forte vínculo com o casal Mário Roberto (intermediário entre o mandante e os executores do crime) e Elizabeth Ruth Rangel (esposa de Mário).
Também houve duas transferências, no mesmo período, nos valores de R$ 15.000,00 cada, da Transeletro (empresa ligada a Flávio) para a SB Transportes, de propriedade de Samuel Brito, filho do empresário Gerardo Ponte.
"Não há dúvidas do envolvimento dos atores"
Para o Ministério Público, não há dúvidas de que há fortes indícios do envolvimento dos atores citados com o crime ora em investigação, razão pela qual foram requeridas medidas cautelares as quais poderão auxiliar as investigações, quanto a autoria intelectual do assassinato de Janes Castro.
"Portanto, por haver fortes indícios do envolvimento dos indivíduos acima mencionados com o crime ora em investigação, medidas cautelares foram requeridas as quais poderão aclarar a solução, mormente a situação de autoria intelectual ainda não descortinada", frisou o promotor Rômulo Cordão.
*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1
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