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O filhote de passarinho ou os traumas pessoais na etiologia das neuroses


Imagem: DivulgaçãoClique para ampliarPássaros(Imagem:Divulgação)Pássaros
Certo dia, antes de sair para trabalhar, fui completar a água da cumbuca da Bia, nossa bela labradora. A cumbuca sempre fica na varanda que dá acesso ao jardim. Pois bem, ao aproximar-me do jardim, notei, o que me pareceu ser, à primeira vista, uma folha agitada pelo vento. Olhando com mais vagar, verifiquei que não havia vento suficiente para tamanha agitação da suposta folha, bem como vi que os movimentos não eram compatíveis com a calmaria do restante do jardim.

Aproximei-me, então, e verifiquei que se tratava de um pequeno filhote de passarinho extremamente agitado. Achei, inicialmente, que o diminuto ser estava a se contorcer em razão da sua exposição excessiva ao sol. A proximidade me fez ver a verdadeira realidade...

A tenra criatura debatia-se em razão de estar sendo atacada pelas formigas da região, que identificaram no neonato um prato fácil. Prontamente o peguei nas mãos e de imediato retirei as várias formigas que certamente já mordiam aquela pele frágil. Ato contínuo, procurei identificar o eventual ninho de origem, que se quedava na parte mais alta do telhado próximo.

De pronto, chamei o jardineiro para trazer uma escada que alcançasse o teto e enquanto o aguardava, segurei nas mãos o pequeno filhote. Já totalmente sem formigas sobre o seu corpo frágil, a novel criatura já não mais se estrebuchava, e aos poucos, com o calor e o conforto das minhas mãos, pareceu relaxar por completo. Num dado momento, fitou-me com um olhar cansado e ali não estavam mais duas criaturas de espécies distintas, mas dois filhos de Deus.

Provavelmente, a agitação de tantos outros seres, caracterizada pela agressividade, inquietude e hostilidade gratuita, passa não pelas mordidas de formigas, mas pelo pulsar das suas feridas internas.

Boa sorte a (nós) todos.
Eusébio/CE, 19 de setembro de 2014.
José Anastácio de Sousa Aguiar


*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1

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