A vacina de tratamento terapêutico para a dependência em cocaína e crack, desenvolvida pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), é finalista do Prêmio Euro Inovação na Saúde. O medicamento recebeu o nome de Calixcoca, e a patente já foi depositada pela Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica (CTIT) da UFMG.
Atualmente, os tratamentos disponíveis para esses vícios são de ordem comportamental ou usam medicamentos com função sintomática, que ajudam apenas a tolerar a abstinência ou diminuir a impulsividade.
Segundo Frederico Duarte Garcia, professor do Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Medicina e pesquisador responsável, a vacina em questão possibilita aos pacientes com dependência a reinserção na sociedade.
"Esse é um problema prevalente, vulnerabilizante e sem tratamento específico. Nossos estudos pré-clínicos comprovam a segurança e eficácia do imunizante nessa aplicação. Ele oferece uma solução que permite aos pacientes com dependência retomarem seus sonhos", disse o professor.
O dinheiro do prêmio pode ajudar a manter o sonho vivo
A vacina Calixcoca já passou da fase de testes pré-clínicos. No entanto, os testes feitos até aqui foram apenas em animais. Ao todo, 26 animais foram testados.
Agora, o que a equipe deseja é financiamento para prosseguir à etapa de testes em humanos.
“Até então, esse projeto foi inteiramente desenvolvido com recursos governamentais. Para restaurar a liberdade das pessoas com dependência e prevenir as consequências fatais, precisamos dar início aos estudos com humanos. Acreditamos que o Prêmio Euro pode viabilizar esse sonho”, projetou o professor Frederico.
Como funciona a vacina brasileira que trata a dependência
O medicamento desenvolvido na UFMG induz o sistema imune a produzir anticorpos que se ligam à cocaína na corrente sanguínea. Essa ligação transforma a droga numa molécula grande, que não passa pela barreira hematoencefálica. “Demonstramos a redução dos efeitos, o que sugere eficácia no tratamento da dependência. Pensamos em utilizar o fármaco para evitar recaídas em pacientes que estão em tratamento, dando mais tempo para eles reconstruírem sua vida sem a droga”, apontou o pesquisador.
Além disso, outro ponto observado nos testes em ratas grávidas é que a vacina também preveniu as consequências obstétricas e fetais da exposição à cocaína.
“A vacina impediu a ação da droga sobre a placenta e o feto. Observamos menos complicações obstétricas, maior número de filhotes e maior peso do que as não vacinadas”, relatou o professor Frederico.
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