O surgimento de casos suspeitos de hepatite aguda infantil de origem desconhecida no Brasil deixa uma dúvida na cabeça dos pais: qual é o momento de procurar os médicos? Considerando que os sintomas podem se confundir com outras doenças, a dúvida fica ainda mais angustiante.
O infectologista Gerson Salvador afirma que as diarreias são comuns em crianças e não justificam uma visita ao médico, se não estiver acompanhada de outros sintomas, como vômito, dor abdominal e febre. Outro ponto de atenção importante, segundo ele, é observar a aparência da criança. “A icterícia ou amarelecimento da pele e dos olhos é um sinal que merece atenção”, diz o especialista do Hospital Universitário da USP.
Também ficar atento ao momento em que a criança vai ao banheiro: urina muito escura - mais escura que aqueles dias em que a criança bebe pouca água - e fezes mais claras também merecem uma observação mais atenta.
Rogério Alves, gastroenterologista e hepatologista da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo, acrescenta que o quadro de virose, como se caracteriza a hepatite aguda, acarreta falta de ânimo, mal-estar e cansaço. As crianças pequenas, por exemplo, ficam quietas e amuadas. “No pronto socorro, os testes do fígado aparecem bem altos, acima de mil, o que não é muito comum, mas não há nenhum sintoma muito específico”, explica.
Nesse momento, é difícil falar em prevenção específica para a hepatite aguda, pois a causa dos novos casos ainda não foi identificada. Essa é a opinião do infectologista Marco Aurélio Sáfadi, presidente do Departamento de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). “É importante não criar alarme. Não há medida preventiva que possa ser orientada neste momento. É o momento de divulgar informações para que os casos sejam notificados de forma correta”, diz o especialista.
Por enquanto, valem as recomendações comuns para que se evite a propagação de uma virose, como lavar as mãos com água e sabão antes das refeições, antes e depois de ir ao banheiro e sempre que espirrar ou tossir, por exemplo.
O momento, portanto, é de atenção, como define Nésio Fernandes, presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). “É um quadro de alerta epidemiológico. Temos uma rede de vigilância em cada Estado e municipio para poder aumentar a suspeita diagnóstica dos profissionais de saúde e comunicar as ocorrências de casos ao Ministério da Saúde. É o momento de atenção e notificação”, resume.
Recomendação do Ministério da Saúde destaca a importância da notificação dos casos para aumentar o nível de suspeição dos médicos e da população, ou seja, para que todos fiquem atentos aos casos suspeitos.
“Estamos numa fase de alerta em que os casos suspeitos são notificados para acumularmos conhecimento e descobrir se é um agente infeccioso, por exemplo. A partir daí, podemos desencadear outras ações de saúde pública”, diz o cirurgião Rodrigo Surjan, do Hospital Nove de Julho, de São Paulo.
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