As taxas de morte materna pela covid-19 no Brasil mais que dobraram este ano na comparação com 2020. Em média, foram 118 mortes mensais em 2021, ante 49 no ano passado. O cálculo considera dados do Sistema de Informação de Vigilância da Gripe (Sivep-Gripe), compilados pelo Estadão, e leva em conta os meses de março a dezembro do ano passado e janeiro a abril deste ano. Desde o início da pandemia, o Brasil registrou 960 mortes de grávidas ou mulheres que acabaram de dar à luz diagnosticadas com a covid-19.
Nesta sexta-feira, 16, o secretário de Atenção Primária à Saúde do Ministério da Saúde, Raphael Câmara Medeiros afirmou que a pasta recomenda às mulheres adiar a gravidez, se possível, enquanto durar o pico da pandemia da covid-19 no Brasil. Especialistas apontam que grande parte das mortes maternas pela covid-19 é decorrentes de falhas na assistência a grávidas e mulheres que acabaram de dar à luz.
Só entre janeiro e abril deste ano, pelo menos 240 gestantes morreram em decorrência da covid-19, segundo dados do Sivep-Gripe - em todo o ano passado, foram 242 mortes de grávidas. Em relação a mulheres que acabaram de dar à luz (puérperas), o Brasil registrou 231 mortes nos primeiros meses deste ano, ante 247 em todo o ano passado.
Os óbitos maternos este ano atingiram o pico em março - os dados de abril ainda não estão consolidados. Foram 263 mortes em março, mais do que o dobro do registrado em junho do ano passado (111), durante o pico da primeira onda da covid-19.
Segundo Medeiros, apesar da falta de estudos, "a visão clínica de especialistas mostra que a variante nova tem ação mais agressiva nas grávidas". Dados sobre as mortes de gestantes e puérperas, porém, revelam falhas na assistência a esse público - um quarto das gestantes que morreram este ano não receberam atendimento em Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Há casos de mulheres que moram longe de centros urbanos com assistência adequada. A distância até receber atendimento complica a evolução da doença. Em casos de mortes maternas identificados pelo Estadão, mulheres foram testadas com exames de baixa qualidade e demoraram a receber atenção médica específica para a covid-19. Algumas deram à luz intubadas e nem chegaram a conhecer as crianças.
Projeto prevê dispensa do trabalho, mas ainda falta sanção
Gestantes também enfrentam dificuldades para conseguir dispensa do trabalho, o que aumenta o risco de infecção. Nesta semana, o Senado aprovou um projeto de lei que determina o trabalho remoto para funcionárias gestantes durante a pandemia. O texto foi enviado para a sanção do presidente Jair Bolsonaro. Segundo o projeto aprovado, a empregada gestante deverá permanecer afastada de atividades de trabalho presencial, sem redução no salário, no período de emergência decretado pelo Ministério da Saúde em função da covid, sem data para terminar.
Não é prevista punição ou multa para empresas que descumprirem a norma. Nesse caso, porém, elas podem ser acionadas na Justiça com ações trabalhistas. Parte dos parlamentares, no entanto, vê risco de empresas pequenas ligadas a atividades presenciais, como de cozinha, não terem recursos para manter suas funcionárias grávidas em trabalho remoto.
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