O Instituto Butantan iniciou a preparação dos bancos virais para atualizar a vacina contra a gripe e tornar o produto eficaz contra a variante Darwin do vírus A H3N2, que já causa surtos epidêmicos em ao menos seis Estados - São Paulo, Rio, Bahia, Espírito Santo, Amazonas e Rondônia. A produção dos insumos farmacêuticos ativos (IFAs) para a produção do imunizante ativo contra essa versão do vírus, conforme as recomendações já feitas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), começa em janeiro, segundo o instituto paulista. Especialistas e clínicas temem, porém, que a vacina só fique disponível para a população em março.
O Butantan é o maior produtor de vacinas para a gripe do Hemisfério Sul. Este ano, o instituto paulista entregou mais de 80 milhões de doses contra a influenza H1N1 para o Programa Nacional de Imunizações (PNI), do Ministério da Saúde. O imunizante foi usado na campanha nacional de vacinação contra a gripe, realizada entre os meses de abril e julho de 2021.
A vacina é trivalente, ou seja, age contra três cepas do vírus da gripe, duas referentes à linhagem A, que são H1N1 e H3N2, e outra da linhagem B, conhecida como B Victoria. O Butantan já vinha produzindo desde setembro a vacina contra a gripe que seria utilizada na campanha de 2022, mas viu-se obrigado a refazer a vacina após o advento da nova cepa e a nova orientação formulada pela OMS.
Inicialmente, segundo o instituto, é possível manter a entrega dos lotes de vacina modificada para março, como acontece anualmente, atendendo à logística estabelecida pelo Ministério da Saúde. A pasta federal informou que acompanha com atenção o aumento de casos de influenza em alguns Estados. Disse ainda avaliar "as evidências científicas em relação à eficácia da vacina utilizada na campanha deste ano para a prevenção da nova cepa circulante".
Ainda segundo o ministério, já foram iniciadas as tratativas com o Butantan para aquisição de vacinas para a campanha de 2022. "O imunizante encomendado é recomendado pela OMS para o Hemisfério Sul e contempla em sua composição o vírus H3N2, circulante no país neste momento", informou.
Conforme a infectologista Raquel Stucchi, como o imunizante eficaz contra a variante Darwin faz parte das vacinas previstas para as campanhas de vacinação do Hemisfério Sul em 2022, as indústrias já devem estar finalizando o processo de produção. Ela acredita, no entanto, que as vacinas só estarão disponíveis para aplicação nas pessoas no início de março.
O presidente da Associação Brasileira das Clínicas de Vacinas (ABCVac), Geraldo Barbosa, acredita que o mercado privado pode disponibilizar a nova vacina também em março de 2022. Segundo ele, a produção que abastece as clínicas do Brasil provém dos Estados Unidos, Bélgica e Alemanha. “Normalmente, a indústria consegue se antecipar em uma ou duas semanas à vacina do Butantan. O problema é que este surto é atípico e acontece em um momento em que a produção está voltada para o Hemisfério Norte. As fábricas não estavam esperando ter de antecipar a produção para o Hemisfério Sul.”
Segundo, já se detectou um aumento na procura por vacinas contra a gripe em clínicas do Rio, São Paulo, Bahia e Espírito Santo. Se a corrida continuar, ele teme que possa haver falta de vacina. “A gente trabalha com um universo de demanda histórica. O setor público e a iniciativa privada têm condições de produzir algo em torno de 100 milhões de doses, mas se houver crescimento de 10% ou 20% na demanda, como está se prenunciando, infelizmente não teremos vacina para todo mundo”, disse.
Barbosa avaliou que o cenário pode se complicar porque os surtos estão acontecendo em um período de festas, em que as pessoas se aglomeram e há relaxamento com as medidas sanitárias. Ele lembra a importância de tomar a vacina atual, já que ela funciona como imunização de bloqueio. “A circulação anormal do vírus nesta época do ano deve-se à baixa cobertura vacinal que tivemos durante a campanha. É preocupante porque, se os cuidados contra a covid-19 fossem seguidos, como uso de máscara, distanciamento e álcool gel, eles também evitariam o vírus influenza”, disse.
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