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Saúde

Fatores genéticos e imunológicos podem explicar casos graves de covid-19

Presença de anticorpos que boicotam o sistema de defesa do corpo pode levar a uma piora da doença; essa resposta incorreta do organismo está relacionada com alteração em genes.

Uma minoria significativa de pessoas que sofrem com sintomas graves da covid-19 tem anticorpos que boicotam o funcionamento do sistema imunológico ao bloquear um tipo determinado de mensageiro molecular. Além disso, fatores genéticos também explicariam essa resposta inadequada e a ocorrência de casos graves em 15% dos infectados. As constatações são de dois artigos publicados na quinta-feira, 24, na revista Science.

Os pesquisadores examinaram 987 pacientes com pneumonia grave devido à infecção pelo novo coronavírus. Em 10,2% deles, foram identificados anticorpos que atacaram e neutralizaram o interferon tipo 1, que atua de forma vital na batalha contra um vírus durante o início da contaminação. Ele atua na liberação de uma resposta local intensa e imediata quando um vírus invade uma célula, despertando-a para produzir proteínas que vão atacar o invasor. Na ausência dessa atividade, o próprio sistema imunológico impede uma resposta adequada contra o novo coronavírus.


Em alguns casos, os anticorpos que agiam contra o organismo foram detectados em amostras de sangue coletadas antes das pessoas se infectarem. Em outros, eles foram identificados nos estágios iniciais da infecção. Das 101 pessoas com esses anticorpos, 95 eram homens, o que sugere a presença de algum fator genético que favoreça o aparecimento deste fenômeno neles. De fato, um estudo anterior mostrou que 94% dos pacientes que tiveram os interferons atacados eram do sexo masculino.

Quem também apresenta mais dessa ocorrência são os idosos. Cerca de metade dos pacientes com essas células de defesa nocivas tinha mais de 65 anos, enquanto 38% daqueles abaixo dessa idade apresentaram a condição. Os cientistas também analisaram a presença desses anticorpos na população geral saudável, na qual apenas quatro de 1.227 pessoas tinham esse tipo específico. A descoberta permitirá identificar quem dos infectados terá mais chance de desenvolver sintomas graves da covid-19, o que vai facilitar a adaptação dos tratamentos.

Genética pode explicar casos graves

No segundo estudo, os cientistas tentaram decifrar o porquê de a resposta individual à infecção variar tanto de um indivíduo para o outro. Eles analisaram variações genéticas a partir de amostras de sangue de mais de 650 pacientes hospitalizados com pneumonia grave por causa do coronavírus, dos quais 14% morreram. Também incluíram amostras de outro grupo de 530 pessoas assintomáticas ou com infecção leve. Foram observados 13 genes conhecidos por serem importantes para a defesa contra o vírus da gripe mediante os interferons tipo 1.

Os resultados mostraram que um número significativo de pessoas com caso grave tinham alguma alteração em todos esses genes e, especificamente, mais de 3% apresentou mutações que impediam uma resposta adequada contra o SARS-CoV-2 por falta de atividade do interferon.

"Durante os últimos 15 anos, já foram descritas mutações nesses 13 genes em casos pontuais e excepcionalmente graves de outras infecções virais, como a gripe", explicou Roger Colobran, pesquisador do Grupo de Pesquisa em Imunologia Diagnóstica do Instituto de Pesquisa Vall d'Hebron. "O que nos surpreendeu neste estudo foi a elevada frequência com a qual encontramos essas alterações em pacientes com covid-19."

Segundo a professora Aurora Pujol, geneticista do Instituto de Pesquisa Biomédica de Bellvitge, "agora que conhecemos uma das causas moleculares de porque algumas pessoas jovens desenvolvem formas graves da doença, podemos afunilar nossas opções terapêuticas, como o tratamento com interferon". Ela acrescentou que pacientes com pior prognóstico sem qualquer alteração desse tipo podem ter alguma patologia prévia ainda não diagnosticada ou outras suscetibilidades genéticas que causem uma resposta imune incorreta.

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