O novo ministro da Saúde, o médico cardiologista Marcelo Queiroga, assumirá a pasta sob desconfiança de políticos do Centrão que controlam o Congresso e formam a base de apoio do presidente Jair Bolsonaro no Legislativo. Queiroga precisará agir e mostrar resultados logo para não ganhar a antipatia do grupo.
“Não teremos paciência com ele (Queiroga). É acertar ou acertar”, disse ao Estadão o deputado Marcelo Ramos (PL-AM), atual vice-presidente da Câmara dos Deputados e aliado do presidente da Casa, Arthur Lira (Progressistas-AL).
Mais cedo, Ramos escreveu em sua conta no Twitter que “a situação do país não permite que o ministro da Saúde tenha tempo para aprender a ser ministro. As respostas terão que ser rápidas e efetivas”.
A pressão de políticos do Centrão contribuiu para a queda do antecessor de Queiroga no Ministério da Saúde, o general da ativa Eduardo Pazuello. Grande parte desse grupo apoiava o nome da médica Ludhmilla Hajjar.
A principal “linha vermelha” para Queiroga, no diagnóstico de Ramos, será a vacinação: se o processo não for acelerado, o ministro perderá apoio político do Centrão. “Ele começa com todo o apoio e com toda a torcida para que dê certo. Pelo bem do País. Se ele errar, serão outros milhares de brasileiros mortos”, disse o político amazonense.
Ramos afirmou, ainda, que Bolsonaro não conta com aval do grupo ao tomar atitudes equivocadas na condução da pandemia. “Você não ouve uma só voz de apoio ao presidente, salvo dos seus seguidores ideológicos, quando ele erra na condução da pandemia”, disse o deputado. “Bolsonaro nunca teve apoio do Centrão para promover aglomerações, para negar o uso da máscara ou a gravidade da pandemia.”
Ludhmila Hajjar chegou a Brasília no domingo e se reuniu com Bolsonaro duas vezes para discutir uma possível nomeação para comandar a Saúde. Hajjar tinha respaldo de políticos do Centrão e de ministros do Supremo Tribunal Federal, mas recusou o convite, que foi aceito por Queiroga. Bolsonarista, o presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia não tem ligação com um grupo político específico. Queiroga, porém, é próximo do filho mais velho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ).
Ramos afirmou que ainda não conversou com Lira sobre o assunto, mas disse acreditar que ele estivesse “contrariado” por causa do “conjunto da obra” no ministério. Lira apoiou publicamente o nome de Ludhmila Hajjar para a pasta.
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