A possível exoneração do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM), anunciada por ele mesmo a auxiliares, gerou uma corrida nos bastidores entre aliados do presidente Jair Bolsonaro para escolha do sucessor no comando da pasta. A decisão de retirar Mandetta é vista como irreversível por interlocutores de Bolsonaro. Falta ainda encontrar um nome que não afronte o ambiente técnico nem o político, segundo integrantes do governo.
O ministro descobriu que seria exonerado após ligações de colegas médicos que haviam sido sondados ao cargo. Na sequência, Mandetta iniciou uma operação de bastidores para anunciar a sua saída a subordinados do ministério e evitar desgaste político. Ele ainda aguarda decisão oficial de Bolsonaro.
O desafio neste momento, segundo um integrante do Palácio do Planalto, é que a troca seja feita com segurança, para evitar desgaste para o presidente.
Bolsonaro, por sua vez, quer um ministro que se alinhe ao seu discurso contra o isolamento social para evitar um colapso da economia, o que contraria as orientações de autoridades sanitárias em todo o mundo. Também é considerado fundamental que o novo ministro não se oponha ao uso ampliado da hidroxicloroquina para o tratamento da covid-19.
Em reunião ministerial na terça-feira, 13, Bolsonaro ressaltou que o enfrentamento da pandemia não é um trabalho de um só ministério, mas de todas as pastas, uma vez que a crise atinge diversos setores. O recado mirava Mandetta. O presidente se incomodou com o protagonismo que o ministro ganhou a partir de março. Para ele, foi a partir disso que o auxiliar passou a agir de modo insubordinado.
Presente à reunião ministerial, Mandetta chegou atrasado e se manteve em silêncio. Ele ainda participou da entrevista coletiva de imprensa no Palácio do Planalto. Mais tarde, começou a avisar aos técnicos da equipe que estaria fora do governo em uma questão de tempo.
Uma ala do Planalto e do Congresso acha que uma solução temporária seria deixar no comando do ministério o atual “número 2” da pasta, o secretário executivo João Gabbardo. Ele foi secretário de saúde na gestão do deputado federal Osmar Terra (MDB) na prefeitura de Santa Rosa (RS), na década de 1990. O nome de Gabbardo, porém, já foi apontado como ligado à esquerda pelo próprio Bolsonaro, ainda que o “número 2” do ministério tenha feito campanha nas eleições de 2018 ao presidente.
Parte da classe médica apoia o nome do oncologista Nelson Teich. Consultor da campanha de Bolsonaro a presidente na área de Saúde, ele tem boa relação com empresário do setor de saúde. Teich chegou à campanha eleitoral por meio do atual ministro da Economia, Paulo Guedes, e foi cotado durante a transição de governo para comandar a Saúde.
O argumento pró-Teich de parte da classe médica será que ele trará dados para destravar debates hoje politizados sobre o enfrentamento à covid-19. Estes integrantes do setor de saúde afirmam que a ideia não é ceder completamente a argumentos sobre uso ampliado da cloroquina ou de isolamento vertical, por exemplo, mas dizem que há exageros na posição atual do ministério. O médico já teria conversado com interlocutores de Bolsonaro e sinalizado interesse em integrar o governo.
Outra ala ligada a entidades médicas, porém, ainda tenta viabilizar a permanência de Mandetta. Membros da Frente Parlamentar de Medicina no Congresso e de entidades decidiram ontem tentar marcar reuniões com Mandetta e Bolsonaro para atuar como “bombeiros”.
Os nomes do deputado Osmar Terra e do presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, perderam força no Planalto, apesar de eles terem a confiança de Bolsonaro. A leitura é que a escolha de um destes não seria bem aceita no Congresso e entre entidades médicas, por causa da mudança radical de discurso que eles levariam ao ministério.
Na lista de cotados ao cargo de Mandetta aparece ainda Claudio Lottemberg, presidente do Conselho do Hospital Israelita Albert Einstein. O nome, no entanto, teria se desgastado por ele presidir o LIDE Saúde, grupo ligado ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB), desafeto de Bolsonaro.
Defensora do uso da hidroxicloroquina, a oncologista Nise Yamaguchi também teria perdido força por ter pouco apoio da classe médica. A diretora Ciência e Inovação da Sociedade Brasileira de Cardiologia, Ludhmila Hajjar, é outra citada como possível substituta do ministro, mas ainda vista como pouco provável.
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