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Esquema QG da Propina arrecadou R$ 50 milhões no governo Crivella

Subprocurador-geral de Justiça do Rio, Ricardo Martins afirmou que organização criminosa continuou com desvios mesmo após duas operações policiais e com investigações em curso.

O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro afirmou na tarde desta terça-feira, 22, que o esquema do “QG da Propina” na gestão do prefeito Marcelo Crivella (Republicanos), preso nesta manhã, arrecadou mais de R$ 50 milhões durante o mandato. Esse é o valor da indenização estipulada na denúncia contra o mandatário e outras 25 pessoas por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

“Essa organização criminosa prosseguiu mesmo após duas operações de busca e apreensão, mesmo sabendo que a investigação estava em curso. Nem assim as atividades cessaram”, disse o subprocurador-geral de Justiça Ricardo Martins.


Segundo o MP e a Polícia Civil, só a “Assim Saúde”, contratada para gerir o plano de saúde dos servidores do município, corresponde a R$ 45 milhões. Isso porque, no caso de algumas outras empresas, apesar de indícios claros do envolvimento no esquema, não foi possível mensurar ainda os valores movimentados.

O percentual considerado para calcular a propina era de 3% a 5% em cima dos contratos ou do valor que as empresas deveriam receber de restos a pagar. De acordo com o MP, o QG da Propina, comandado por Crivella por meio do operador Rafael Alves, priorizava para pagamentos de dívidas ou novos contratos as empresas que se submetiam ao esquema e desembolsavam propina.

Em coletiva de imprensa, os investigadores do MP, representados pelo subprocurador-geral e pelos promotores Claucio Cardoso e Fabio Miguel, além de delegados da Polícia Civil, também justificaram a necessidade de prisão preventiva do prefeito. De acordo com eles, o esquema continuou mesmo após duas operações que cumpriram mandados de busca e apreensão. Numa delas, inclusive, Crivella entregou um celular que não era o dele quando os agentes o visitaram, o que foi considerada uma forma de atrapalhar as investigações.

Outro motivo tem a ver com o tamanho da investigação, que passaria para um promotor de primeira instância quando Crivella perdesse o cargo e o foro, em janeiro. “Tivemos uma investigação que se desenvolveu desde 2018, com dois teras de tamanho. Imagina se a gente espera o dia 1º de janeiro e entrega toda a investigação para um promotor de primeiro grau”, alegou o subprocurador Ricardo Martins. “O errado seria ter empurrado com a barriga e deixado para um colega desenvolver sozinho uma denúncia dessa. Não teve nenhum cunho político, não temos nenhum viés político nessa história.”

Segundo a investigação, a lavagem de dinheiro funcionava por meio de empresas de fachada. No caso da Assim, por exemplo, eram criadas outras firmas que prestavam, em tese, consultorias para justificar a movimentação financeira. Perguntados sobre a possível participação da Igreja Universal no esquema – Crivella é bispo licenciado dela, e a agremiação é citada no processo –, os promotores afirmaram haver indícios disso, mas que ainda é cedo para confirmar o envolvimento.

“Ela foi citada pelo Coaf em relatórios de movimentação financeira por valores exorbitantes. Em razão das movimentações atípicas e de mensagens do próprio Rafael Alves, que dizia que podia acabar com o governo e com a igreja, essas informações juntas indicam que a Universal era usada no esquema. Mas a questão da lavagem de forma mais completa é um dos desdobramentos que vai decorrer dessa investigação”, apontou o promotor Fabio Miguel. Para Claucio Cardoso, seria “leviano” afirmar agora que a igreja está envolvida.

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