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Política

Bolsonaro fala de interferência externa na eleição dos Estados Unidos

'(Presidente) tem uma vaga noção do que ocorre no mundo e confunde os interesses de mercado com posição ideológica', diz cientista político.

O presidente Jair Bolsonaro criticou nesta terça-feira, 3, a "ingerência de outras potências" no atual processo eleitoral dos Estados Unidos e já lançou dúvidas sobre possíveis interferências na eleição de 2022 no Brasil, na qual ele pretende tentar a reeleição.

"É inegável que as eleições norte-americanas despertam interesses globais, em especial, por influir na geopolítica e na projeção de poder mundiais", publicou Bolsonaro no Twitter. "Até por isso, no campo das informações, há sempre uma forte suspeita da ingerência de outras potências, no resultado final das urnas. No Brasil, em especial pelo seu potencial agropecuário, poderemos sofrer uma decisiva interferência externa, na busca, desde já, de uma política interna simpática a essas potências, visando às eleições de 2022."


O presidente afirmou que vê a América Latina caminhando para a esquerda. "Não se trata apenas do Brasil. Devemos nos inteirar, cada vez mais, do porquê, e por ação de quem, a América do Sul está caminhando para a esquerda. Nosso bem maior, a liberdade, continua sendo ameaçado. Nessa batalha, fica evidente que a segurança alimentar, para alguns países, torna-se tão importante e aí se inclui, como prioridade, o domínio da própria Amazônia."

"Bolsonaro tem uma vaga noção do que ocorre no mundo e confunde os interesses de mercado com posição ideológica", diz o cientista político José Álvaro Moisés, da USP. "Ele não aceita a diversidade política que pode levar a esquerda ao poder. Seu conceito de liberdade é restritivo, se refere apenas às correntes que ele defende. Seria interessante saber se ele vai recusar apoio externo a sua candidatura e como faria isso."

Bolsonaro passará o dia de olho na eleição dos Estados Unidos. Além da torcida por Donald Trump, de quem já se declarou fã e aliado incondicional, o presidente brasileiro acompanha o desempenho do líder americano no confronto com o democrata Joe Biden como um laboratório para 2022, quando tentará a recondução ao Palácio do Planalto.

Com a declaração do vencedor, a Presidência já está preparada para que Bolsonaro faça um telefonema ao vitorioso. Se o resultado for alvo de uma disputa judicial, a recomendação é a de que o presidente opte pela neutralidade até um desfecho, segundo apurou o Estadão.

No fim de setembro, Bolsonaro rebateu declaração do candidato democrata Joe Biden sobre auxílio financeiro à Amazônia e possíveis consequências econômicas, caso a preservação da região não melhorasse. Na ocasião, o chefe do Executivo avaliou a fala de Biden como "lamentável", além de "gratuita e desastrosa". A publicação nas redes sociais hoje recebeu endosso do filho do presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que é presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara.

"Visão geopolítica é essencial neste mundo globalizado. O que acontece nos EUA tem reflexos no Brasil e na região", comentou Eduardo no texto publicado na página do Facebook de Bolsonaro.

Nesta terça, na saída do Palácio da Alvorada, Bolsonaro perguntou a apoiadores "vai dar Trump ou vai dar Biden?". Na sequência, depois de ouvir de um apoiador que "tem que dar Trump", Bolsonaro disse: "Não vou nem responder. Tem gente que acha que o Brasil está livre de problemas. Cheio de estrategista político por aí".

Apesar das pesquisas indicarem vantagem de Biden, para a CNN Brasil hoje Bolsonaro disse acreditar na reeleição de Trump. “Estou confiante com a reeleição de Donald Trump, porque será boa para as relações comerciais e diplomáticas com o Brasil”, afirmou.

Mourão diz que EUA precisam primeiro resolver os problemas deles na área ambiental

O vice-presidente Hamilton Mourão avaliou que a possível vitória do democrata Joe Biden pode trazer mudanças nas cobranças ao Brasil em relação ao meio ambiente. Segundo ele, a equipe de Biden pode ter uma atuação mais "incisiva" que a atual de Donald Trump. Ele opinou, contudo, que primeiro os Estados Unidos devem resolver seus próprios problemas na área ambiental antes de interferir na situação do Brasil.

"Acho que pode ser que a equipe dele tenha, vamos dizer, uma ação mais incisiva (na área de meio ambiente). Mas, vamos lembrar que os Estados Unidos é um dos países que mais emitem gás carbônico no mundo", disse na chegada à vice-presidência nesta terça. "Primeiro eles (EUA) têm que resolver os problemas deles para depois vir para os nossos", declarou. Na avaliação de Mourão, a depender do resultado do pleito norte-americano, podem haver "mudanças pontuais" nas relações com o Brasil, mas "no conjunto da obra" os dois países manterão "as mesmas ligações".

"O relacionamento do Brasil com os Estados Unidos é um relacionamento de Estado para Estado, independente do governo que estiver lá. Óbvio que cada governo tem suas prioridades e tem suas características", afirmou. Sobre a defesa do presidente Jair Bolsonaro pela reeleição de Trump, Mourão afirmou se tratar de uma opinião pessoal do chefe do Executivo. "Isso aí é opinião pessoal dele. Se bem que quando o presidente fala, ele fala por todos do governo".

Mourão reiterou que a posição brasileira em caso de judicialização das eleições americanas será de neutralidade. O presidente Donald Trump já sinalizou que o pleito pode ser alvo de disputa judicial em caso de sua derrota. "Neutra, lógico. Nós não temos nada haver com as questões internas americanas. Isso é princípio constitucional nosso. A gente não admite ingerências nos nossos assuntos internos e também não fazemos com os assuntos internos dos outros."

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