O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), é um defensor do apoio do PMDB à reeleição de Dilma Rousseff. Mesmo após as derrotas impostas pelos partidos aliados à presidente, o deputado diz que não há chance de os peemedebistas abandonarem a aliança reeleitoral com o PT. Se atua como bombeiro no atacado, Alves engrossa no varejo as fileiras incendiárias comandadas pelo colega Eduardo Cunha (RJ), considerado inimigo figadal do Planalto. Em entrevista ao site de VEJA, ele diz que o governo prioriza o PT em detrimento das demais siglas aliadas, razão central da rebelião deflagrada esta semana no Congresso. “O problema é existir um partido que leva quase tudo no governo enquanto o restante da base fica com quase nada.” Com 43 anos de mandato parlamentar, Alves avisa que os peemedebistas e os integrantes do chamado blocão reagirão ao projeto de poder hegemônico dos petistas, que prevê, inclusive, a retomada do comando da Câmara. Aproveita ainda para provocar: “O PMDB é fisiológico com cinco ministérios? E o partido que tem dezessete ministérios é o quê? Se tem fisiologismo, não é no PMDB.”
Essa é uma posição do senhor ou da maioria do PMDB? É uma posição de todos os líderes do partido. Como o PMDB abandonará uma candidata que tem 46% nas pesquisas de intenção de voto? Há problemas? Claro que há, principalmente na nossa relação com o PT. Por isso, quero que a presidente tenha uma posição de magistrada. Ela tem de entender o PT e o PMDB como aliados de verdade, sem distinção. Queremos que a presidente trate o PT e o PMDB da mesma forma.
O governo privilegia o PT em detrimento dos outros partidos governistas? Queremos participar da discussão dos projetos, das questões administrativas e das agendas políticas nos estados. Hoje, não participamos. Há muitas coisas que são feitas para o PT sem o conhecimento do PMDB. Esse é o motivo da insatisfação atual.
O projeto de poder petista assusta o PMDB? Nós fomos para a campanha passada, que resultou na eleição da nossa bancada de 80 deputados, com o comando dos ministérios da Integração, da Saúde e das Comunicações, todos com visibilidade. O que dá voto é você mostrar que realizou e ter ministros fortes que privilegiam o partido na campanha e vão ao seu estado pedir voto. Agora, vamos para eleição com o Ministério da Agricultura, que perdeu metade das suas atribuições para o Desenvolvimento Agrário, comandado justamente pelo PT. É disso que reclamamos. O problema é existir um partido que leva quase tudo no governo enquanto o restante da base fica com quase nada.
A imagem de partido fisiológico atrapalha o PMDB? O PT tem dezessete ministérios. Aí, a presidente fala do fisiologismo do PMDB? E a gente tem de ouvir isso calado? Não dá. O PMDB é fisiológico com cinco ministérios, entre eles a Previdência, que só serve para pagar conta? E o partido que tem dezessete ministérios é o quê? Se tem fisiologismo, não é no PMDB.
Petistas também reclamam da presidente. Sim, há grupos do PT insatisfeitos com o governo. A insatisfação é em toda a base aliada. Não é uma coisa só do PMDB ou do Eduardo Cunha. Não é uma questão só de mérito, mas da forma como a presidente conduz a relação com os partidos. Dizer sim é fácil, mas às vezes saber dizer não é mais importante, porque implica paciência para ouvir e postura respeitosa para dialogar. Mas reconheço que acertar na forma é ainda mais difícil neste período de tensão pré-eleitoral, com PT e PMDB disputando espaços.
Falta habilidade do governo para negociar? O Aloizio Mercadante (chefe da Casa Civil) não conhece como funciona a Câmara. A Ideli Salvatti (ministra de Relações Institucionais) também não. Eles só conhecem o Senado, que é mais paciente com o governo porque os senadores se elegem numa eleição majoritária, com o apoio de governador e de uma aliança de partidos. A sistemática da Câmara é completamente diferente. Cada deputado tem de ralar a sua própria eleição na rua. Aqui, a ebulição é maior, a tensão é maior, e o ritmo é outro. Exige-se mais rapidez, mais atenção, do governo.
Qual a solução para estreitar a relação do governo com a Câmara? O governo tem do lado dele o Michel Temer, que foi três vezes presidente da Casa e conhece a Câmara como ninguém, mas o Planalto só pede a ele para ser o bombeiro, para atuar na hora de apagar o fogo. O Michel tinha que ser o construtor de pontes. Ele poderia dar uma grande contribuição nessa negociação para melhorar, de forma republicana, a relação entre o Legislativo e o Executivo. Ele deveria estar sempre nas negociações do governo com o Legislativo. Por que isso não é feito? Para não prestigiar o PMDB. É um erro.
Petistas querem tomar a presidência da Câmara do senhor? Eles têm de esperar as eleições para saber quem elegerá a maior bancada e ver se a tese do rodízio na presidência, entre PT e PMDB, prevalecerá. Agora, o blocão é também para isso (Leia-se: para reunir, desde já, deputados no apoio à reeleição de Henrique Alves).
Foi essa a motivação para a criação do blocão? Estimulei o blocão para tratar da pauta legislativa. Os partidos crescem com a visibilidade das suas bancadas, quando votam projetos de interesse da sociedade, como a regulamentação da profissão de doméstica. O deputado quer chegar ao seu estado dizendo que votou a favor de um projeto que dá voto. Mas o governo, de propósito, travou a pauta do plenário com projetos com urgência constitucional. Alguns têm prioridade, como o marco civil da Internet, mas outros não se justificam. Se a gente não tomar as rédeas das votações, corre-se o risco de ser o ano com a pior produção legislativa. Se for necessário, o blocão derrubará as urgências do governo e imporá uma pauta de votações de interesse da sociedade, que rende mais visibilidade e prestígio. Se o governo entender a situação, vamos abrir um diálogo. Se ignorar, derrubaremos as urgências.
As derrotas impostas ao governo nesta semana servem de alerta para a disposição do blocão? Na minha vida pública, assumi o compromisso de valorizar o Legislativo. Antes de tudo, primar por seu respeito e altivez, frutos de sua independência. O Executivo pode e deve ter melhor relação com o Legislativo, mas pela via do convencimento e do diálogo. As decisões desta semana foram tomadas no âmbito e nas prerrogativas do Legislativo. É muito bom, saudável, o governo e seus ministros esclarecerem os questionamentos dos deputados. Essas são coisas boas da democracia.
Imagem: Pedro França/Agência SenadoHenrique Eduardo Alves (PMDB-RN), presidente da Câmara dos Deputados: "A insatisfação é em toda a base aliada"
Qual a chance de o PMDB romper com a presidente Dilma e negar apoio à reeleição? Não vejo nenhuma possibilidade de o PMDB não estar com a presidente Dilma na eleição. Nós somos governo. Bem ou mal, temos cinco ministros, o vice-presidente da República, e estamos a poucos meses da eleição. Vamos para onde? Com qual discurso? Não faz o menor sentido. É zero a chance de o PMDB não apoiar a reeleição da Dilma.Essa é uma posição do senhor ou da maioria do PMDB? É uma posição de todos os líderes do partido. Como o PMDB abandonará uma candidata que tem 46% nas pesquisas de intenção de voto? Há problemas? Claro que há, principalmente na nossa relação com o PT. Por isso, quero que a presidente tenha uma posição de magistrada. Ela tem de entender o PT e o PMDB como aliados de verdade, sem distinção. Queremos que a presidente trate o PT e o PMDB da mesma forma.
O governo privilegia o PT em detrimento dos outros partidos governistas? Queremos participar da discussão dos projetos, das questões administrativas e das agendas políticas nos estados. Hoje, não participamos. Há muitas coisas que são feitas para o PT sem o conhecimento do PMDB. Esse é o motivo da insatisfação atual.
O projeto de poder petista assusta o PMDB? Nós fomos para a campanha passada, que resultou na eleição da nossa bancada de 80 deputados, com o comando dos ministérios da Integração, da Saúde e das Comunicações, todos com visibilidade. O que dá voto é você mostrar que realizou e ter ministros fortes que privilegiam o partido na campanha e vão ao seu estado pedir voto. Agora, vamos para eleição com o Ministério da Agricultura, que perdeu metade das suas atribuições para o Desenvolvimento Agrário, comandado justamente pelo PT. É disso que reclamamos. O problema é existir um partido que leva quase tudo no governo enquanto o restante da base fica com quase nada.
A imagem de partido fisiológico atrapalha o PMDB? O PT tem dezessete ministérios. Aí, a presidente fala do fisiologismo do PMDB? E a gente tem de ouvir isso calado? Não dá. O PMDB é fisiológico com cinco ministérios, entre eles a Previdência, que só serve para pagar conta? E o partido que tem dezessete ministérios é o quê? Se tem fisiologismo, não é no PMDB.
Petistas também reclamam da presidente. Sim, há grupos do PT insatisfeitos com o governo. A insatisfação é em toda a base aliada. Não é uma coisa só do PMDB ou do Eduardo Cunha. Não é uma questão só de mérito, mas da forma como a presidente conduz a relação com os partidos. Dizer sim é fácil, mas às vezes saber dizer não é mais importante, porque implica paciência para ouvir e postura respeitosa para dialogar. Mas reconheço que acertar na forma é ainda mais difícil neste período de tensão pré-eleitoral, com PT e PMDB disputando espaços.
Falta habilidade do governo para negociar? O Aloizio Mercadante (chefe da Casa Civil) não conhece como funciona a Câmara. A Ideli Salvatti (ministra de Relações Institucionais) também não. Eles só conhecem o Senado, que é mais paciente com o governo porque os senadores se elegem numa eleição majoritária, com o apoio de governador e de uma aliança de partidos. A sistemática da Câmara é completamente diferente. Cada deputado tem de ralar a sua própria eleição na rua. Aqui, a ebulição é maior, a tensão é maior, e o ritmo é outro. Exige-se mais rapidez, mais atenção, do governo.
Qual a solução para estreitar a relação do governo com a Câmara? O governo tem do lado dele o Michel Temer, que foi três vezes presidente da Casa e conhece a Câmara como ninguém, mas o Planalto só pede a ele para ser o bombeiro, para atuar na hora de apagar o fogo. O Michel tinha que ser o construtor de pontes. Ele poderia dar uma grande contribuição nessa negociação para melhorar, de forma republicana, a relação entre o Legislativo e o Executivo. Ele deveria estar sempre nas negociações do governo com o Legislativo. Por que isso não é feito? Para não prestigiar o PMDB. É um erro.
Petistas querem tomar a presidência da Câmara do senhor? Eles têm de esperar as eleições para saber quem elegerá a maior bancada e ver se a tese do rodízio na presidência, entre PT e PMDB, prevalecerá. Agora, o blocão é também para isso (Leia-se: para reunir, desde já, deputados no apoio à reeleição de Henrique Alves).
Foi essa a motivação para a criação do blocão? Estimulei o blocão para tratar da pauta legislativa. Os partidos crescem com a visibilidade das suas bancadas, quando votam projetos de interesse da sociedade, como a regulamentação da profissão de doméstica. O deputado quer chegar ao seu estado dizendo que votou a favor de um projeto que dá voto. Mas o governo, de propósito, travou a pauta do plenário com projetos com urgência constitucional. Alguns têm prioridade, como o marco civil da Internet, mas outros não se justificam. Se a gente não tomar as rédeas das votações, corre-se o risco de ser o ano com a pior produção legislativa. Se for necessário, o blocão derrubará as urgências do governo e imporá uma pauta de votações de interesse da sociedade, que rende mais visibilidade e prestígio. Se o governo entender a situação, vamos abrir um diálogo. Se ignorar, derrubaremos as urgências.
As derrotas impostas ao governo nesta semana servem de alerta para a disposição do blocão? Na minha vida pública, assumi o compromisso de valorizar o Legislativo. Antes de tudo, primar por seu respeito e altivez, frutos de sua independência. O Executivo pode e deve ter melhor relação com o Legislativo, mas pela via do convencimento e do diálogo. As decisões desta semana foram tomadas no âmbito e nas prerrogativas do Legislativo. É muito bom, saudável, o governo e seus ministros esclarecerem os questionamentos dos deputados. Essas são coisas boas da democracia.
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