O Tribunal de Justiça do Piauí expediu um contramandado de prisão em favor do empresário Paulo Sandro Rocha Amorim, conhecido como Paulo Caiano, proprietário de uma extensa rede de postos de gasolina com atuação em diversos estados e namorado da prefeita Fernanda Marques, de Luzilândia. A decisão, proferida pelo desembargador Pedro de Alcântara Macedo, na sexta-feira (21), suspende a ordem de prisão preventiva que havia sido decretada pelo juiz da Central de Inquéritos, Valdemir Ferreira Santos, no âmbito da Operação Usuário Zero.
Paulo Caiano teve sua prisão decretada na segunda fase da operação, deflagrada em 18 de fevereiro de 2025. A investigação apura um complexo esquema de fraudes em processos judiciais que teria causado um prejuízo estimado em R$ 7 milhões à distribuidora de combustíveis Ipiranga. Além do mandado de prisão, foram cumpridos mandados de busca e apreensão em endereços ligados ao empresário em Teresina e na residência de familiares.

Apesar do contramandado, o empresário terá que cumprir medidas cautelares rigorosas, incluindo: monitoramento eletrônico por 120 dias, proibição de se ausentar da Comarca de Teresina sem autorização judicial, recolhimento noturno, proibição de manter contato com os demais investigados e a entrega do passaporte com o intuito de evitar eventual fuga do país. Na liminar que suspendeu a prisão, o desembargador argumentou que a decisão que determinou a prisão do empresário ofende o princípio da contemporaneidade, já que os fatos investigados ocorreram em 2023.
Detalhes do esquema de fraudes foram revelados em interrogatório extrajudicial, formalizado em 19 de fevereiro de 2025, quando o investigado João Gabriel Cardoso detalhou o modus operandi. O esquema iniciou-se com a manipulação de ações judiciais de busca e apreensão de veículos com alienação fiduciária, evoluindo posteriormente para a manipulação de causas de valores expressivos de interesse do empresário Paulo Caiano contra a empresa Ipiranga Produtos de Petróleo S.A.
Segundo o depoimento, o empresário ofereceu inicialmente 5% do montante a ser auferido ilicitamente, mas o valor foi negociado diretamente entre Luiz Paião e o empresário. João Gabriel Cardoso afirmou ter recebido R$ 110.000,00 pela manipulação de uma ação de aproximadamente R$ 7 milhões. O servidor inseriu minutas falsas no sistema PJe (Processo Judicial Eletrônico) de 1º e 2º graus, resultando no levantamento indevido de R$ 6.943.280,04 referente a um processo contra a Ipiranga.
Após a conclusão da fraude, João Gabriel recebeu sua parte em dois pagamentos: R$ 50.000,00 e R$ 60.000,00, ambos em espécie. A revelação desses detalhes lança luz sobre a complexidade e a extensão do esquema fraudulento, demonstrando a sofisticação das manobras utilizadas para manipular o sistema judicial em benefício próprio e causando prejuízos milionários a grandes empresas.
A Operação Usuário Zero continua em andamento, com as autoridades investigando minuciosamente cada aspecto do caso para identificar todos os envolvidos e a extensão total dos danos causados ao sistema judiciário e às empresas afetadas.
Ver todos os comentários | 0 |