No último sábado, 1° de abril, completou-se 53 anos do Golpe Militar, que em 1964 implantou um regime de ditadura no país, e durou mais de 20 anos e restringiu a liberdade, torturou e matou milhares de pessoas que ousaram fazer oposição. Apesar de ser popularmente considerado apenas militar, o golpe dever ser visto como civil-militar, por ter contado com a adesão de demais setores da sociedade, como proprietários rurais, industriais e detentores dos meios de comunicação.
Para falar sobre o assunto, o GP1 entrevistou o advogado e presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Secção Piauí, Marcelo Mascarenha. Ele iniciou a conversa com a avaliação de que o Brasil viveu a maior parte de sua curta história sob regimes de golpe.
- Foto: Lucas Dias/GP1Marcelo Mascarenha
“O Brasil é um país de pouca tradução democrática, um país de vários golpes. Quando o Brasil deixou de ser uma colônia e passou a ser um império, foi um golpe promovido por Dom Pedro, que proclamou a independência para se desvincular de Portugal. Quando saímos da Monarquia para a República foi um golpe militar orquestrado por Marechal Deodoro. Quando saímos da República Oligárquica e entramos em 1930, com Getúlio Vargas, foi sob golpe, e quando Vargas renunciou em 1945 foi por imposição do Ministro da Guerra. O período entre 1945 e 1964 foi um dos maiores espaços de experiência democrática no Brasil, com eleições livres, até mergulharmos na Ditadura Militar, um período de aprofundamento da desigualdade social. O Brasil virou a décima maior economia do mundo, mas um dos países mais desiguais do planeta, porque cresceu a repressão aos movimentos sociais, você não tinha sindicatos livres para defender os trabalhadores nem tinha lideranças políticas que pudessem abertamente defender, lutar por direitos sociais, além do exílio, tortura e assassinato de milhares de pessoas”, declarou.
Liberdade de expressão
Marcelo Mascarenha trouxe uma reflexão sobre discursos que surgem, principalmente nas redes sociais, pedindo pela volta da ditadura. “É um desconhecimento histórico tremendo. Recentemente eu li sobre um novo conceito, o de ‘pós-verdades’, em tempos de redes sociais as pessoas não estão interessadas em fatos, mas em aquilo que corrobora com o que elas pensam, nem que seja mentira. As pessoas reproduzem mentiras, tentando construir uma releitura histórica. Quando uma pessoa pede intervenção militar, penso que a democracia é tão boa que permite que todos manifestem sua opinião, inclusive a de pedir que seja privada sua liberdade de opinião. Só na democracia isso é possível, defender a Ditadura na democracia é fácil, agora, por defender a democracia no período da Ditadura, muitos brasileiros pagaram com suas vidas. Quem defende o retorno dessa prática tem uma total ignorância histórica sobre o que aconteceu no Brasil nos anos de chumbo”, afirmou.
Reencontro com sua história
Para o advogado, o País precisa se reencontrar com a própria história e faze a autocrítica, a exemplo da Alemanha, que na educação básica apresenta às suas crianças a história do Nazismo e do Holocausto, que dizimou milhões de pessoas. “Não termos memória, não refletirmos sobre o que ocorreu durante a escravidão e a Ditadura, não fazermos a autocrítica, nos impede de sonhar com um País melhor. Precisamos nos reencontrar com esse passado, passar a limpo, punir os responsáveis e reverenciar personalidades históricas. Precisamos falar sobre direitos humanos constantemente, pois somente a democracia, com todos os seus defeitos e limitações, ainda é a forma de organização do Estado que mais possibilita o avanço da sociedade”, finalizou.
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