O caso de empenamento coletivo registrado em Parnaíba, que ganhou repercussão em todo o Brasil, pode ter novos desdobramentos. Isso porque a Polícia Civil do Piauí não descarta realizar a exumação de dois corpos de pessoas do núcleo familiar de Maria dos Aflitos, que morreram em circunstâncias semelhantes às das vítimas de envenenamento, que se iniciou ainda no ano passado, com as mortes de duas crianças.
Segundo a Polícia Civil, o genro de Maria dos Aflitos Silva e o antigo companheiro dela morreram há cerca de um ano.
De acordo com o delegado Abimael Silva, presidente do inquérito, em meio à evolução do caso, com a confissão da matriarca da família, Maria dos Aflitos, a Polícia Civil do Piauí poderá solicitar a exumação de corpos. O objetivo é apontar ou não a responsabilização por outras mortes, até então, sem características de crime ocorridas no mesmo seio familiar. “Não está descartada [a possibilidade de exumação]. Isso será verificado somente depois do envio do inquérito para o judiciário, em até 15 dias. Estamos organizando todo o material colhido e o Ministério Público já está acompanhando o caso”, ressaltou o delegado Abimael Silva.
Entenda o caso
O caso de envenenamento coletivo em Parnaíba, que causou comoção em todo o Brasil, envolve a família de Maria dos Aflitos e Francisco de Assis. A investigação da Polícia Civil revela detalhes trágicos e uma trama de morte premeditada que culminou em uma série de fatalidades.
Os primeiros envenenamentos
O primeiro episódio ocorreu em 22 de agosto de 2024, com as mortes de João Miguel Silva (7 anos) e Ulisses Gabriel Silva (8 anos), após ingerirem alimentos contaminados. A família, incluindo a mãe das crianças, Francisca Maria da Silva, e a avó, Maria dos Aflitos, inicialmente acusou a vizinha Lucélia Maria da Conceição. Durante a busca em sua residência, foi encontrado terbufós, o veneno utilizado nos envenenamentos, resultando na prisão preventiva de Lucélia. No entanto, após novas mortes na família, a situação tomou outro rumo, e Lucélia foi solta seis meses depois.
O almoço fatal de Ano Novo
Em 1º de janeiro de 2025, nove membros da família passaram mal após um almoço de baião de dois. Cinco morreram nos dias seguintes: Manoel Leandro da Silva, 18 anos; Igno Davi da Silva, 1 ano e 8 meses; Maria Lauane da Silva, 3 anos; Francisca Maria da Silva, 32 anos; e Maria Gabriela da Silva, 4 anos. Inicialmente, Maria dos Aflitos e Francisco de Assis tentaram transferir a culpa para peixes, mas exames toxicológicos revelaram que o veneno estava no baião de dois, preparado na noite de 31 de dezembro. A investigação apontou que Maria dos Aflitos e Francisco de Assis estavam os únicos acordados naquela noite e que o veneno foi introduzido na comida na madrugada de 1º de janeiro. Francisco de Assis, cujas versões mudaram várias vezes, pode ter sido contaminado de forma dérmica ao manusear o veneno.
A morte de Jocilene e a confissão de Maria dos Aflitos
Em 22 de janeiro, Maria Jocilene da Silva, vizinha de Maria dos Aflitos, morreu após ingerir café na casa da suspeita. Maria dos Aflitos inicialmente tentou encobrir o caso, alegando que Jocilene teve um infarto, mas a perícia encontrou traços de terbufós no copo da vítima. Após ser presa, Maria dos Aflitos confessou que matou Jocilene para "libertar" seu companheiro Francisco, preso por envolvimento nos envenenamentos. Ela alegou estar "cega de amor" por ele, acreditando que, ao eliminar pessoas próximas a ele, conseguiria manter o relacionamento.
Motivação e modus operandi
A investigação revelou que Francisco de Assis tinha um profundo desprezo pelos filhos e netos de Maria. Ele controlava rigidamente os alimentos da casa, o que causava episódios de fome entre os familiares. Documentos encontrados indicam que ele tinha uma obsessão por ideais nazistas e por substâncias tóxicas como o terbufós. Os investigadores acreditam que os dois primeiros envenenamentos foram meticulosamente planejados por Francisco, enquanto o assassinato de Jocilene, cometido por Maria dos Aflitos, foi impulsivo e mal planejado.
Conclusão da investigação
As prisões de Maria dos Aflitos e Francisco de Assis confirmaram que os envenenamentos foram premeditados e executados de forma meticulosa. O casal será responsabilizado pelas mortes de oito pessoas, tornando este caso um dos mais chocantes já registrados no Piauí. A combinação do controle obsessivo de Francisco e da cegueira emocional de Maria resultou em uma série de tragédias familiares. O caso será formalmente relatado à Justiça até o início da segunda quinzena de fevereiro.
Ver todos os comentários | 0 |