Afinal, o esporte tem o poder de transformação? Buscando uma resposta para essa pergunta, o GP1 Esporte entrevistou Eduardo Gomes, atleta piauiense de boxe, e mostrou um dos vários exemplos do poder do esporte como mudança de vida. “Hoje em dia eu sou um rapaz melhor do que era antes e o boxe fez essa mudança completa na minha vida”, afirmou o jovem.
Com origem humilde e oriundo de projetos sociais, Eduardo buscou e achou na luta uma forma de crescer e desvencilhar as adversidades da vida, se tornando o primeiro e único piauiense a e se tornar campeão brasileiro na modalidade, aos 25 anos.
“Sou um rapaz bem humilde, oriundo de um projeto social e que veio da favela, saindo do meio da criminalidade para ser campeão brasileiro de boxe. Trabalhamos desde quando, comecei aos meus 15 anos, em um projeto social na Escola Noé Fortes, no bairro Planalto Ininga. Foi nesse projeto que conheci o professor Marcos Oliveira, dando início a nossa história de nove anos de trajetória. Fui seis vezes campeão estadual e fiz esse feito inédito de ser campeão brasileiro, aqui em Teresina, trazendo esse título especial para o estado e a capital. Foi um evento extraordinário e muito grande, engrandecendo o boxe no Piauí. O trabalho vem sendo realizado desde 2012, quando a Federação de Boxe foi fundada. Conheci ele [Marcos Oliveira] em 2015, no meio dessa batalha, ajudando muito, desde quando ainda era um atleta amador. Tinha dias que eu acordava 6h da manhã para montar rinque, saía 13h para uma academia, indo de ônibus e depois a pé. A tarde eu ia lutar e quando terminava os eventos, ainda desmontava o rinque. Foi uma trajetória muito puxada, mas é aí que nascem os campeões, me dando garra e vontade para trazer o título mundial para o Piauí”, disse Eduardo Gomes.
Como era a vida de Eduardo Gomes antes do boxe e como o esporte ajudou na sua construção pessoal
Cria de uma comunidade de Teresina, Eduardo Gomes enfrentou o que muitos jovens de periferia precisam lidar, o assédio da criminalidade, já que essas regiões tem pouca visibilidade dos poder público. Inicialmente, o boxeador comentou que também compartilhava algo em comum com o restante da 'garotada das quebradas', o sonho de ser jogador de futebol. Porém, após a entrada do boxe na sua vida, o lutador afirmou que teve uma virada de chave, já que o esporte o ajudou a superar problemas sociais, pessoais e de saúde.
“Antes de fazer boxe, eu jogava bola. Joguei dois campeonatos estaduais no time do Biru Biru, que já foi treinador aqui no Piauí e hoje em dia tem um time. Meu sonho era ser jogador de futebol, mas o boxe apareceu e foi onde tive essa virada de chave. Nesse tempo eu também estava querendo estar no meio da malandragem, já que meu bairro era muito perigoso na época, hoje em dia lá está super tranquilo e não tem muita bandidagem. Eu era um jovem doido da cabeça. Hoje em dia o pessoal fala que eu era imperativo. Com isso, consultei médicos e tomei remédios para a questão da hiperatividade. Assim que minha mãe faleceu, em 2009, passei muito tempo ruim, abalado. Creio que ainda hoje sou afetado emocionalmente. Sou um cara meio duro e que não tem muita emoção. Mas isso faz parte da vida e o boxe fez essa virada para mim. Hoje em dia eu sou um rapaz melhor do que era antes e o boxe fez essa mudança completa na minha vida. Agora estou tentando inspirar muitos jovens e crianças da minha rua, do bairro, para irem ao projeto social e terem essa virada de chave também na vida”, ressaltou o boxeador.
Quem é Marcos Oliveira e sua importância para o boxe piauiense
Marcos Oliveira é presidente da Federação Piauiense de Boxe Amador e Profissional (FEPIBAP) e técnico de Eduardo Gomes. Ele fundou o projeto Fábrica de Campeões, onde Eduardo começou os primeiros passos na modalidade. A ideia de criar uma federação no estado surgiu em 2012, quando Marcos convidou Popó e Ulysses Pereira para o Extreme Boxe, competição nacional que reúne atletas de vários estados, onde Eduardo Gomes ganhou o cinturão em 2023.
O presidente da federação iniciou a carreira no Taekwondo e competiu por 15 anos. Logo depois começou a treinar boxe, onde passou a viajar para Belém-PA e foi treinado por Ulysses Pereira, técnico de Popó, atleta tetracampeão mundial. Oliveira é amigo pessoal do ex-pugilista desde 2005, quando se conheceram em competição disputada no Pará.
Eduardo, como os projetos sociais e esportes ajudam na vida dos jovens?
“A gente que vem de um projeto social sempre aprende coisas novas, saindo do nada e de um meio ruim para ter essa evolução. O boxe vem para a vida da gente não só para tornar você atleta, mas também um cidadão, pondo em prática o que é certo. Então, tanto como a gente aprende em casa a ter educação, no boxe também. Tem que ter muita disciplina para conseguir conciliar essas coisas, até conquistar e ter objetivo. Tenho muita inspiração no Popó, que foi um cara também que veio da humildade, sendo engrandecedor no boxe do Brasil e tetracampeão mundial. Ele é um cara que me inspira e quem sabe um dia eu possa ser um tetracampeão mundial também. O boxe é isso, é vida e entra para mudar, assim como entrou na minha. Hoje tenho um projeto social no meu bairro, o Planalto Ininga. Convido a todos que quiserem participarem”, pontuou o campeão piauiense.
Falta de apoio do poder público e privado
Eduardo Gomes foi campeão do Extreme Boxe em 2023, evento lançado por Popó e Ulysses Pereira ainda em 2012. A competição que reúne vários atletas do Brasil recebeu uma edição no Piauí no ano passado, oportunidade em que Eduardo levou o cinturão na categoria super pena após vencer o paulista João Victor por nocaute. Mesmo sendo o único piauiense a ser campeão no esporte, a tônica da falta de incentivo do poder público e privado se repete.
“Ainda falta muito para a gente alcançar o objetivo. O boxe já foi muito mais bem visto. Hoje em dia está aumentando a visibilidade por causa do Popó e do Whindersson Nunes, que é um piauiense que está ajudando a ter essa visibilidade maior. Eu fiz parte dessa visibilidade aqui no estado do Piauí, trazendo esse título nacional. Fui o único e abre as portas para o boxe piauiense evoluir. Hoje em dia o boxe aqui no estado está muito bem falado no Brasil inteiro, estando bem reconhecido e evoluindo. Futuramente estamos traçando um plano para um dia eu ser campeão mundial e vamos para frente. E no mais, gostaria de pedir que o Estado do Piauí e nossos empresários possam chegar e apoiar os atletas. Eu fui campeão nacional, mas ainda tenho dificuldade em arrumar patrocínios. Não só eu, tem vários outros atletas que precisam, a minha equipe também tem muito atleta bom que precisa desse apoio e o boxe é essa transformação. Então queríamos que todo mundo olhasse pra esse lado de atleta, não só do boxe, mas de outros esportes”, declarou Eduardo Gomes.
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