A jornalista e pesquisadora Pollyana Ferrari, professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), lançará um livro em Teresina, nesta quinta-feira (22). “Descolonizar pelo afeto” é sua décima obra publicada, e fala da importância de se recontar uma história escrita pelo viés do colonizador, sobretudo nos países do chamado Sul Global.
Em entrevista ao GP1, Pollyana Ferrari explicou as origens do conceito de descolonização e mencionou algumas pensadoras e pensadores, como o piauiense Antônio Bispo dos Santos, o Nêgo Bispo, intelectual quilombola que morreu em dezembro do ano passado.
“O conceito de descolonizar tem vários autores, de colonialidade, colonialismos, historiadores já discutem isso há bastante tempo, mas quando eu li o livro do professor Luiz Rufino, da UERJ, que ele fala que descolonização deve emergir não somente como um mero conceito, mas também como uma prática permanente de transformação social na vida comum, e conversa muito com o Nêgo Bispo, aqui da terra do Piauí, que também dizia que a gente precisa contracolonizar. Junto com eles, eu trabalho muito com a Zuboff, com a Bell Hooks, que também colocava a questão do descolonizar na prática cotidiana, na prática em sala de aula”, declarou a professora.
A pesquisadora enfatizou que o afeto é uma palavra-chave nesse processo de descolonização, conforme defendia a teórica feminista Bell Hooks em suas práticas em sala de aula. “Ela propunha diários para os alunos, brancos e negros, não importa, na sala de aula, e dizia que a gente tinha que prestar atenção nas ações cotidianas em cada passo cotidiano, o que você não compartilha, o que você fala, o que você não fala, o termo que você usa, que pode ferir o outro. E esse processo descolonizar eu acredito muito que é no dia a dia”, continuou.
Descolonização na prática
Ainda segundo Pollyana Ferrari, é preciso entender como o colonialismo ainda dita as regras na sociedade que construímos. “No livro eu falo, por que menino tem que usar azul e menina tem que usar rosa? Por que o cabelo liso foi imposto por muito tempo como o cabelo ideal e não o cabelo que você tem? E porque o corpo é sempre um corpo europeu, um corpo reto, não o corpo arredondado da população do Sul Global, das mulheres latinas? A gente sempre foi reproduzindo. E as big techs reproduzem esse colonialismo, elas reforçam isso o tempo todo”, frisou.
Desinformação
A pesquisadora, que fez pós-doutorado na Universidade da Beira Interior, em Portugal, é uma das precursoras dos estudos sobre fake news no Brasil. Ela fala como a desinformação contribui para a manutenção dos discursos que sustentam essa estrutura colonialista.
“Eu pesquiso desinformação desde 2016, no pós-doutorado que fiz em Portugal, e quando comecei a pesquisar, achava que desinformação acontecia, apesar de sempre existir, mas ter sido vitaminado com as redes sociais, ela acontecia mais ligada à política. A questão de direita e esquerda, depois, com a pandemia, você vê a desinformação de vacinas, o discurso de ódio, e comecei a monitorar esse segmento e ver que o racismo está muito impregnado nessa indústria da desinformação, porque é um mercado que fatura muito”, concluiu Pollyana Ferrari.
Lançamento
O livro “Descolonizar pelo afeto” será lançado nesta quinta-feira (22) no Maria Café, bairro Fátima, zona leste de Teresina. O evento está marcado para as 19h.
Currículo
Doutora e mestre em Comunicação Social pela Universidade de São Paulo (USP), Pollyana Ferrari é professora do curso de Jornalismo e do Programa de Pós-Graduação em Tecnologias da Inteligência e Design Digital da PUC-SP. É autora de 10 livros sobre comunicação.
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