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Teresina - Piauí

Voluntários do CVV dão apoio emocional e previnem suicídios no Piauí

O CVV é uma instituição filantrópica, sem fins lucrativos, que tem como objetivo dar apoio emocional para as pessoas que estão passando por momentos delicados e e ás vezes querem tirar a próp

Atuando há 33 anos no Estado do Piauí, o Centro de Valorização da Vida (CVV), com uma equipe de apenas 39 voluntários, atende a cerca de 63 ligações diárias e aproximadamente 1.900 ligações por mês de pessoas que precisam de apoio emocional, algumas até mesmo pensando em suicídio.

O CVV é uma instituição filantrópica, sem fins lucrativos, que tem como objetivo dar apoio emocional para as pessoas que estão passando por momentos delicados, que estão tristes, deprimidas e ás vezes até estão querendo tirar a própria vida. Para atender a demanda, esse Centro atua 24h, e necessita de voluntários, que possam fazer atendimentos das pessoas que querem conversar por telefone, e-mail ou chat.


O coordenador de Divulgação do CVV de Teresina, Eyder Mendes Vilanova e Silva, explicou que está na instituição há 12 anos e que os voluntários atuam em um posto de atendimento localizado na Rua Desembargador Freitas, em um prédio da Fundação Municipal de Saúde de Teresina, que cedeu quatro salas e dá apoio aos trabalhos realizados. No local, os 39 voluntários do Piauí atuam uma vez por semana, durante 4h, atendendo ligações de todo o país, pelo número 188.

  • Foto: Lucas Dias/GP1Eyder MendesEyder Mendes

“Até outubro de 2017, atendíamos só telefones locais, só do Piauí, onde atendíamos em média 300 ligações por mês. Hoje, com o número 188, atendemos 2 mil ligações por mês, de pessoas de todo o país, com esse sistema nacional que foi implementado. Antes eu esperava uma ou duas horas por uma ligação, agora eu não espero nem 20 segundos e já toca o telefone de novo. A pessoa pode ligar e conversar pelo tempo que desejar. Eu mesmo já cheguei a ficar 4h conversando com uma pessoa. Esse telefone é nacional, onde 107 postos da CVV estão ligados diretos. Então para ser atendido, a pessoa liga, se um posto estiver ocupado, a pessoa é redirecionada para outro, para assim garantir que todos possam ser atendidos, então a gente atende pessoas de vários estados, inclusive daqui do Piauí”, explicou Eyder.

Muitas pessoas só querem conversar

As ligações recebidas pela CVV são de temas diversos. Até mesmo crianças e adolescentes ligam para a instituição filantrópica com o objetivo de desabafarem e para conversarem sem julgamentos, sobre alguma situação que estão passando.

“A pessoa pode falar sobre qualquer tema. Na minha experiência, 90% das pessoas que ligam, não querem aconselhamento. Ligam na realidade, com a intenção de desabafar, contar o problema o que lhe afligem, se é solidão, fim de relacionamento, perda de emprego. Nós temos até crianças de 10 e 13 anos ligando para a gente falando de vários problemas, como de pai que assedia, questão de pedofilia, também temos de quem é homossexual e que fala sobre as pessoas que não o aceitam. Quando a gente conversa, procuramos fazer a pessoa a pensar qual é a melhor opção. Ela começa a pensar e ver as alternativas”, afirmou Eyder.

Dando apoio emocional

Eyder Mendes explicou que os voluntários são capacitados para atenderem de forma correta e que o trabalho busca principalmente dar apoio emocional. “O nosso trabalho não é só para quem está pensando em se suicidar. Na realidade nós temos um trabalho preventivo, então nós voltamos às pessoas que estão em um estágio de depressão, que se não tiverem um apoio necessário, ela pode a vir desenvolver essa tendência ao autoextermínio. Só às vezes uma conversa, mesmo que não tenhamos um viés médico, porque nós não temos esse lado, mas mesmo assim já ajuda. Na verdade muitos psicólogos e psiquiátricos nos indicam como um apoio ao trabalho médico. A pessoa que faz um tratamento não vai se consultar com psicólogo e psiquiatra todo dia, até porque é caro, mas a pessoa quando sentir algum problema e quiser falar, ela pode ligar para CVV, que é um serviço gratuito, que funciona 24h”, explicou.

O foco da instituição é ouvir quem precisa de ajuda e a principal regra é não dar conselhos, mas fazer com que a própria pessoa possa encontrar a resposta que precisa. “A gente vai dentro de uma linha psicológica, que é usada por alguns psicólogos, que é a linha Humanista, do psicólogo Carl Rogers. Nessa linha temos que dar um atendimento, onde estimulamos a própria pessoa a encontrar a resposta, porque eu não devo e não posso, na nossa linha de trabalho, direcionar uma resposta. Dizer o que a pessoa deve fazer. A vida é de cada um e não existe uma solução padrão. Se eu estou conversando com a pessoa pela primeira vez, como eu vou dar uma opinião sobre o que ela está passando? E a gente acredita que todo mundo tem dentro de si a possibilidade de encontrar a resposta, basta ela ponderar todos os pontos”, explicou.

Quando a pessoa faz a ligação, ela não precisa se identificar, apenas desabafar sobre a situação que está passando. Os voluntários, não devem fazer julgamentos e nem críticas a pessoa, já que o objetivo é dar apoio emocional.

“O que nós aprendemos é que precisamos ter empatia com as pessoas, a gente não faz críticas, nem julgamentos, porque quando alguém está sofrendo, a última coisa que ela quer encontrar é alguém que faça críticas. Ela quer encontrar compreensão, mesmo que ela esteja errada, mas eu não estou ali para julgar e esse é o atendimento que a gente faz, que é a aceitação incondicional, para dar tranquilidade a pessoa”, destacou.

  • Foto: Lucas Dias/GP1Eyder Mendes, coordenador de Divulgação do CVV de TeresinaEyder Mendes, coordenador de Divulgação do CVV de Teresina

CVV Piauí precisa de voluntários

Um problema que a instituição filantrópica tem enfrentado é a falta de voluntários que possam atender, principalmente no período da madrugada. A instituição tem até feito uma chamada para as pessoas aposentadas que tenham interesse em ocupar o tempo livre com esse trabalho social.

“As pessoas não ficam sem o atendimento 24h porque atuamos em uma rede nacional, mas estamos com alguns plantões sem voluntários, alguns pela manhã e principalmente pela madrugada, de 2h às 6h. A gente percebe que no horário da madrugada tem um acréscimo de atendimentos, mas uma queda de voluntários. A gente precisa formatar, porque temos pouca disponibilidade de pessoas. Queremos fazer um chamado especial para os que possuem um horário para atender pela madrugada, e um chamado especial para as pessoas aposentadas, que tenham vontade de fazer esse trabalho social. É difícil encontrar alguém que trabalha de dia e queira dar plantão nesse horário da madrugada”, destacou.

Trabalho é gratificante

Para Eyder Mendes, o trabalho que ele realiza, o fez melhorar como pessoa. “Esse trabalho é muito bom para a gente que é voluntário, a gente não está ali para ganhar, mas é uma coisa que vem, que enriquece a nossa vida, aprendemos a lidar com a vida do outro, com o nosso sentimento que a gente desprezou, passamos a ter uma sensibilidade em relação aos outros também, e essa é uma experiência única, pois é um ganho imensurável, toda pessoa que passa por isso, sempre sai enriquecido de alguma forma”, disse.

Mesmo recebendo ligações tristes, alguns de pessoas que querem tirar a vida, para Eyder, ajudar e evitar que algo pior que aconteça são coisas que tornam o trabalho tão gratificante. “Tem pessoas que falam 15 minutos, 30 minutos, uma hora e já teve até de 4 horas. Uns casos tocam mais a gente e de situações que a gente não sabia que teria que enfrentar. Acontece [casos de pessoas que afirmam que vão se matar], não tanto, mas acontece sim. É nesses casos quando temos que ter mais sensibilidade, mais tato ainda, mostramos mais compreensão, de forma que a pessoa perceba que vale a pena ficar viva, mostrando que existe uma luz no fim do túnel, a gente procura fazer com que ela pense nas consequências, que possa ponderar sobre a melhor escolha”, afirmou.

Ele ainda citou a história de um vendedor de bebidas que durante a Caminhada da Fraternidade abordou ele e contou como a CVV evitou que ele cometesse suicídio. "Ele disse que já tinha pensado em se matar, mas foi através da CVV que acabou desistindo da ideia, são histórias como essa que nos fortalecem", disse.

Como se inscrever

Quem tiver interesse deve entrar no site do Centro de Valorização da Vida e fazer a inscrição. Depois a pessoa passará por um curso gratuito e no final serão aprovadas apenas as pessoas consideradas aptas para realizarem esse tipo de ajuda.

“O curso é gratuito e começa dia 2 de fevereiro, serão quatro finais de semana, sempre aos sábados à tarde e nos domingos pela manhã, sendo que só se pode faltar uma aula no máximo. Nesse curso às vezes entram 50 pessoas, mas só são aprovadas umas 5, porque na verdade não podemos deixar passar qualquer pessoa, porque mesmo que a pessoa tenha boa vontade de ajudar, nem todo mundo tem a habilidade para saber dar efetivamente ajuda, tem pessoas que não sabem como falar”, explicou.

Além disso, a pessoa deve estar ciente que se trata de um trabalho voluntário. “Tem pessoas que acham que vamos bancar o vale transporte e alimentação, mas isso não existe, é um trabalho voluntário, onde na prática, pagamos para estar lá dentro. Muitas vezes nós ajudamos dando um lanche para quem vai estar lá dentro trabalhando, ou materiais de limpeza, além do nosso tempo mesmo e as capacitações que temos que passar. O plantão é uma vez por semana, aí a pessoa escolhe o dia e o horário”, pontuou.

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