A Casa do Hip Hop do Piauí divulgou uma nota de repúdio pela abordagem realizada pela polícia militar no dia 8 de agosto, durante o evento Sesc Amazônia das Artes 2018 na cidade de Teresina. Uma guarnição do 6º Batalhão da Polícia Militar do Piauí fez uma abordagem no local em busca de entorpecentes, após receber uma denúncia de que tinham pessoas usando drogas no local. Os policiais fizeram uma vistoria e não encontraram nenhum entorpecente.
Na nota de repúdio, a Casa de Hip Hop afirmou que a abordagem aconteceu de forma abusiva e constrangedora, já que no local havia crianças e mulheres. Disse ainda que uma mulher chegou a ser empurrada após não aceitar ser revistada por um homem. A instituição afirma que está sendo alvo de preconceito.
“Essa não é a primeira vez que o espaço é invadido por policiais com acusações infundadas. Em outros momentos professores tiveram suas aulas interrompidas para policiais realizarem uma revista neles, em seus alunos e no espaço, demonstrando total falta de respeito ao trabalho realizado no local. Estamos sofrendo uma explícita perseguição política e policial movida por interesses particulares. Essa articulação está carregada também de preconceito, racismo, discriminação, abuso de poder e isso tudo se dá porque acreditamos na potência do corpo periférico. Precisamos de proteção, estamos nos sentindo ameaçados e impedidos de trabalhar”, afirmou.
- Foto: DivulgaçãoCasa do Hip Hop do Piauí
A instituição pediu ainda que o espaço deles seja respeitado e destacou as ações que são realizadas. “O Hip Hop surge do cinturão de miséria das periferias das cidades. Sabemos que as classes menos favorecidas são sabotadas antes mesmo de nascerem e um dos fatores que colabora para que isso continue acontecendo é o mal planejamento social do Brasil. Cansamos da banalização dos direitos de quem faz projetos sociais, sendo eles os que mais se preocupam com a sociedade como o todo, doam seu tempo, sua vida, sua subjetividade. O que exigimos aqui é respeito e reconhecimento na prática com a Cultura Hip Hop, um olhar mais sensível e humano ao que está sendo feito”, destacou.
Confira a nota de repúdio na íntegra:
No dia 08 de agosto de 2018 a Casa do Hip Hop recebeu os grupos “Manauara em Extinção” (AM) e “Reação do Gueto (PI)” dentro da programação do Sesc Amazônia das Artes. Por volta das 21h o evento foi interrompido por policiais (a maioria encapuzados e sem nenhuma identificação) que abordaram de forma abusiva e constrangedora todos os presentes, inclusive crianças e mulheres. Uma mulher foi empurrada por se recusar a ser revistada por homens (Art. 249 do Código de Processo Penal: a busca em mulheres será feita por outra mulher, se não importar retardamento ou prejuízo da diligência [ação policial).
Essa não é a primeira vez que o espaço é invadido por policiais com acusações infundadas. Em outros momentos professores tiveram suas aulas interrompidas para policiais realizarem uma revista neles, em seus alunos e no espaço, demonstrando total falta de respeito ao trabalho realizado no local. Estamos sofrendo uma explícita perseguição política e policial movida por interesses particulares. Essa articulação está carregada também de preconceito, racismo, discriminação, abuso de poder e isso tudo se dá porque acreditamos na potência do corpo periférico. Precisamos de proteção, estamos nos sentindo ameaçados e impedidos de trabalhar.
A Casa do Hip Hop do Piauí promove há 12 anos ações artísticas para todo o estado a partir dos quatro elementos da Cultura Hip Hop (Dj, Grafite, Mc e Breaking), incluindo também outras atividades de grande importância, como capoeira, pré-vestibular, festivais, cursos, bailes de dança, encontros de discussão, palestras, entre outros. Através desses ajuntamentos, ela vem sendo referência nacional e internacional, pois eventualmente tem beneficiado um total de 10 mil pessoas. A maioria das nossas propostas é gratuita, reforçando o livre acesso à arte e cultura e isso é uma das nossas contrapartidas para a sociedade.
Atualmente as atividades que ocupam a Casa do Hip Hop são: Interação RALÉ, organização de Hip Hop que ocupa a Casa do Hip Hop desde 2016 e atualmente está fazendo a gestão do espaço e propondo o Casa Dança, projeto de educação e socialização para todxs; Original Bomber Crew, grupo de breaking que existe desde 2005; PRObgirl´s, o primeiro grupo feminino de breaking do Piauí; Bando Hackspace, projeto comunitário com base na Ética Hacker onde o ponto chave é a qualidade de vida através do livre acesso a informação; Ateliê de Grafite/ Corja Crew, espaço de criação e produção do grupo de grafite Corja Crew, que propõe residência para artistas interessados, exposições para a cidade e oficinas gratuitas de grafite para a comunidade; Ateliê de Serigrafia, espaço de produção de material gráfico impresso, utilizando a técnica da serigrafia, é ocupado e coordenado por duas grifes da cidade voltadas para a cultura urbana: Mucambo Nuspano e Arthur Doomer. O ateliê oferece periodicamente minicursos nesta área, além de atender demandas de artistas e designers da cidade que tenham a serigrafia como parte de seus projetos. A produção do ateliê inclui peças de confecções, livros experimentais, posters e placas de sinalização. Quilombo Louco Beats: é um estúdio de gravação de música que grava 90% dos grupos de rap e outros estilos de música de Teresina e também de outros estados. Grupo Raízes: ensina a arte da capoeira para a comunidade elevando o nível técnico e teórico, utiliza como recurso pedagógico, artístico e cultural. Fábrica de Campões: academia de judô para crianças e adolescentes da comunidade com treinamento específico para as olímpiadas. Estúdio de beleza/ HairStylingbraid: espaço para cuidar do cabelo com foco no empoderamento de mulheres na sociedade, os serviços são boxbraid, nagô, dread e manutenção, crochetbraid, twisterbraid, entrelace, extensão de cílios, design de sobrancelhas, mega hair.
Essas ações têm um caráter de desconstruir as questões que geram a violência, enfrentar o racismo, transformar os territórios atingidos por altos índices de homicídios e valorizar a auto estima de crianças e adolescentes que estão em situações de risco. Além disso, oferece formação artística para exercitar o senso crítico e desenvolver a inteligência corporal, oferecendo a possibilidade do indivíduo protagonizar sua própria história. Acreditamos que todos podem fazer a diferença em sua comunidade através da arte como forma de conhecimento. Possibilitar o ensino da cultura e da arte é fortalecer a identidade pessoal e social do indivíduo, bem como integrá-lo em sua família e em sua comunidade, fornecendo-lhe, através da saúde mental e social, condições de bem estar no mundo.
Porém, é notória a precariedade estrutural em que a Casa do Hip Hop se encontra. Fora aprovada pela SEDUC-PI uma reforma que começou no ano de 2014 no valor de R$ 450.687,61 sob o número do contrato 095/2014 com o prazo de execução de 150 dias. Encaminhamos um ofício solicitando a fiscalização da reforma e não obtivemos nenhum retorno diretamente. De fato, o espaço ainda se encontra com a infraestrutura inapropriada para a continuidade das atividades e sem recursos financeiros para a manutenção. Nós também estamos sem nenhuma segurança, também somos vítimas da violência que circula o país.
Resistir como sacrifício é muita tortura, não podemos nos sentir culpados pela nossa própria pobreza. O Hip Hop surge do cinturão de miséria das periferias das cidades. Sabemos que as classes menos favorecidas são sabotadas antes mesmo de nascerem e um dos fatores que colabora para que isso continue acontecendo é o mal planejamento social do Brasil. Cansamos da banalização dos direitos de quem faz projetos sociais, sendo eles os que mais se preocupam com a sociedade como o todo, doam seu tempo, sua vida, sua subjetividade. O que exigimos aqui é respeito e reconhecimento na prática com a Cultura Hip Hop, um olhar mais sensível e humano ao que está sendo feito. É um movimento de potência mundial e a gente sabe que ele “funciona”.
Não temos apoio e nem patrocínio de nenhum órgão. Todo o esforço, dedicação e manutenção do espaço é custeado pelos próprios indivíduos que ocupam o espaço. Não aturaremos mais nenhuma forma de apropriação, promessa e abuso contra o que fazemos. Exigimos respeito, ética, condição financeira para continuarmos desenvolvendo nosso ofício.
Gostaríamos de ressaltar nossa gratidão à todo o apoio que viemos recebendo de parceiros e amigos. Ao Espaço de Arte Contemporânea Campo, A Ocuparte, Espaço Balde, Soulgang, Kakau, Nação Hip Hop do Piauí, Kilito Trindade, Késia Stéfanni, César Costa, Carla Matta (Associação Teresinense De Skate), Marcelo Rodrigues, Fábio Crazy, Janayna Fortes, Denise Stutz, Hugo dos Santos, Thais Guimarães, Associação do Movimento Hip Hop da Planície Litorânea, Caio das Neves, Tássia Araújo, Sayara Elielson, Eduardo Moreira, Andreia Marreiro, Cufa-Pi, Phillip Marinho, Igo Sampaio, Ana Gabrielly, Maria Sueli, Wandylenne Octávia, Cleiton Santos, Emerson Sammuel (Comissão Oab). Todos, cada um da sua maneira, demonstraram sua solidariedade e parceria nesse momento, fortalecendo a ideia de que juntos somos realmente mais fortes.
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