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Teresina - Piauí

Latrocínio: crime bárbaro tirou a vida de 21 pessoas em Teresina

Rayron, Macelo, Adroaldo, Tânia, João Felipe e Onésio. Esses foram alguns dos nomes que apareceram nas páginas policiais da maneira mais trágica possível. Eles foram algumas das vítimas de la

É comum que as pessoas se reúnam no final do ano para rever amigos e familiares durante o Natal e o Réveillon. Isso já se tornou tradição na vida da maioria dos brasileiros. Porém, em 2018, isso não aconteceu com a família Soares de Holanda. Há mais de um mês um querido membro da família, o estudante de medicina da Universidade Federal do Piauí (UFPI), Antônio Rayron Soares de Holanda, de 22 anos, foi morto com um tiro no peito durante um assalto próximo a uma estação de transbordo do bairro Macaúba, localizada na Avenida Miguel Rosa, zona sul de Teresina.

Poucas horas depois de ocorrer o latrocínio, mais precisamente no dia 25 de novembro, o autor do único disparo de arma de fogo foi apreendido. Tratava-se de um adolescente de 15 anos de idade e que já tinha passagens pela polícia. Mesmo com o crime desvendado, a vida dos familiares e amigos de Rayron nunca mais foi a mesma.


O tio do jovem, Evaldo Soares, explicou que neste ano a família decidiu não organizar a ceia natalina, que sempre acontecia na casa da avó de Rayron. “Tudo que era para ser comemorado neste período, entre o Natal e o Ano Novo, acabou. A gente sempre se reunia na casa da minha mãe, já que ela mora só. Mas ela disse que não quer mais festa lá e por isso não vai ter”, contou.

Rayron foi uma das 21 pessoas assassinadas em Teresina durante alguma ação criminosa. Esse é o número que foi divulgado pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), delegacia especializada em investigar crimes contra a vida na capital piauiense. O setor também é responsável por investigar latrocínios, que também é denominado na área do direito como ‘roubo seguido de morte’ e que está ligado aos crimes relacionados ao patrimônio e não, necessariamente, a vida.

A definição de latrocínio é complexa e, para entender melhor sobre o assunto, o GP1 entrevistou o coordenador do DHPP, delegado Francisco Costa, o ‘Barêtta’. Ele explicou que o latrocínio apresenta características peculiares que o diferencia do homicídio e, desta forma, é mais difícil de se chegar ao autor.

  • Foto: Lucas Dias/GP1Delegado Barêtta, diretor do DHPPDelegado Barêtta, diretor do DHPP

“O indivíduo tira a vida da pessoa, mas o objetivo dele é o patrimônio. É tanto que não consta no capítulo dos crimes contra a vida e sim do patrimônio. Muitas vezes, é mais fácil você chegar no autor de um homicídio porque em algum momento da vida o autor e a vítima se entrelaçaram. A única exceção é no crime de encomenda, de pistolagem, quando um indivíduo paga um pistoleiro para matar. Já o crime de latrocínio não”, explicou.

O latrocínio, em muitos casos, acontece devido a uma situação de tensão que ocorre entre a vítima e o criminoso. É o caso da morte do proprietário da academia Medley, Macelo Henrique Amorim da Silva, de 43 anos, que foi assassinado ao reagir a um assalto em frente do próprio estabelecimento, localizado na Avenida Gil Martins, no dia 09 de julho deste ano.

  • Foto: DivulgaçãoRayron Holanda e Macelo HenriqueRayron Holanda e Macelo Henrique

Na ocasião, o empresário ainda tentou correr atrás do bandido, entretanto, foi alvejado com um tiro e veio a óbito. O delegado Robert Lavor, do Departamento de Homicídios, foi o responsável por coordenar as investigações do caso. O autor do crime foi preso e, coincidentemente, ele já havia praticado um outro latrocínio que aconteceu de forma parecida como o do dono da academia.

“Nós percebemos que, no caso do latrocínio, o autor é menor ou tem pouca idade. Ou seja, ele tem pouca ‘experiência’ de como procede o roubo e só se interessa pelo patrimônio da vítima. Então, ele chega ao ponto de matar para levar o objeto. O outro bandido que já respondeu por algum outro crime, que já sabe que o crime de latrocínio é muito grave pois a pena é alta, ou ele desiste ou apenas não dispara. No caso do Macelo, por coincidência o acusado tinha passagem por outro latrocínio. Ele cometeu este primeiro crime quando era menor contra um comerciante e foi quase do mesmo jeito”, ressaltou.

Considerado como um crime hediondo, ou seja, inafiançável, um indivíduo pode ser condenado mesmo se, ao matar a vítima, não tenha levado nenhum pertence depois, como foi o caso do latrocínio que vitimou o comerciante Adroaldo Barbosa Neto, de 48 anos, na tarde do dia 25 de dezembro deste ano, no Residencial Giovane Prado, zona leste de Teresina.

  • Foto: DivulgaçãoAdroaldo BarbosaAdroaldo Barbosa

Conforme o 5º BPM, três criminosos chegaram no local e fizeram reféns a esposa e o cunhado de Adroaldo. Ele observou o assalto, pegou a arma e gritou contra os bandidos. Um deles, então, efetuou um disparo que atingiu a cabeça do comerciante que veio a óbito ainda na própria residência. Na madrugada do dia 28 de dezembro, os policiais prenderam o último bandido envolvido na tentativa de roubo. Mesmo que o trio responsável pela morte de Adroaldo não tenha levado nada, eles irão responder pelo crime de latrocínio.

“O que já está padronizado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), na súmula 610, é que diz que o indivíduo anunciando o assalto, sub julgando a pessoa e tirando a vida da pessoa em decorrência daquilo, mesmo que ele não tenha subtraído o bem, o crime está consumado porque a intenção dele está formada”, elucidou o coordenador do DHPP, o delegado ‘Barêtta’.

O fato é que houve um aumento crescente no número de latrocínios e isso preocupa até mesmo os profissionais que são ‘acostumados’ a lidar com a violência de Teresina. “Nós temos observado que tem aumentado o número de latrocínios e a nossa preocupação é justamente essa. Eu conversei com o secretário de segurança pública, com o delegado-geral, no sentido de que nós tivéssemos um policiamento mais ostensivo nas ruas”, completou ‘Barêtta’.

O aumento se deu por conta dos altos índices de roubos na Capital. Por isso, é necessário que, mesmo que seja uma ação impulsiva, a vítima mantenha a calma e o controle para que se evite algo pior, como destaca o delegado Robert Lavor. “A população, apesar de ser uma reação extintiva da hora, não tem como a gente dizer o que vai fazer, mas quanto mais manter o controle, manter a calma, é melhor. É bom entregar todos os objetos que foram pedidos e evitar movimentos bruscos como levantar a mão e sair do lugar. E depois, acionar a polícia para que ela faça o trabalho dela”, frisou.

  • Foto: Lucas Dias/GP1Delegado Robert LavorDelegado Robert Lavor

Rayron, Macelo, Adroaldo, Tânia, João Felipe, Onésio e tantos outros nomes que vimos nas páginas policiais de uma forma trágica foram vítimas de um sistema de segurança pública falho e ineficaz em muitos aspectos. Infelizmente, por mais revoltante que seja para a população, a dor e a saudade sobram apenas para os amigos e familiares. “Eu só tenho uma coisa a lhe falar: a perda completa só foi nossa. Porque o Rayron se foi e nunca mais ele vai voltar”, finalizou Evaldo Soares, tio de Rayron.

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