O Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Transporte Rodoviário (Sintetro) informou no final da manhã desta sexta-feira (03), após assembleia, que os motoristas e cobradores de ônibus vão retornar às atividades somente na próxima terça-feira (07), pois estão aguardando uma ordem de serviço da Strans, que só deverá ser expedida na próxima segunda-feira (06). A princípio, o retorno estava previsto para a segunda.
Em entrevista ao GP1, o secretário de Previdência Social do Sintetro, Francisco das Chagas, disse que a categoria acatou a recomendação do Ministério Público do Trabalho para o retorno de 70% da frota de ônibus no horário de pico e 30% no horário normal, no entanto, espera o posicionamento da Strans, tendo em vista que há uma determinação da Prefeitura de Teresina permitindo que apenas 30% da frota possa circular durante o período da pandemia do novo coronavírus.
“A diretoria reuniu-se hoje para avaliar essa recomendação do Ministério Público do Trabalho sobre o retorno das atividades, não a suspensão da greve, é bom que se esclareça. Foi apenas sobre o retorno da frota no período de greve, de 70% no pico e 30% no entre pico. Já há um entendimento que a própria diretoria do sindicato entrou em contato com a superintendência pedindo a ordem de serviço à Superintendência Municipal de Transportes, e o superintendente respondeu que só estaria pronto na segunda-feira. Então ficou acertado pela Strans e o Sindicato, que as atividades retornar a partir da terça-feira, conforme determina o Ministério Público do Trabalho. Na segunda não é possível, a não ser que o superintendente tome uma providência diferente, mas foi isso que ficou acertado entre o trabalhador e a própria superintendência”, pontuou o representante do Sintetro.
- Foto: Lucas Dias/GP1Francisco das Chagas, secretário do Sintetro
Segundo o Sintetro, a ordem de serviço da Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito é necessária para estabelecer quais critérios devem ser seguido, diante de recomendações distintas por parte do MPT e da Prefeitura de Teresina.
“Hoje temos uma dúvida dentro do próprio sindicato sobre qual frota deve circular, porque existe uma recomendação do prefeito [Firmino Filho], dizendo que é para rodar 30% da frota durante a pandemia. Isso gerou uma dúvida para o trabalhador, que não sabe se é para atender essa recomendação do Ministério Público do Trabalho ou a definida pelo prefeito. Por conta disso, a gente consultou a superintendência e pediu para que ela fizesse essa ordem de serviço, para que tenhamos o acompanhamento do fiel cumprimento dessa recomendação do Ministério Público do Trabalho”, acrescentou Francisco das Chagas.
Sobre a greve
Fora da discussão sobre a retomada de parte dos trabalhadores aos serviços, Francisco das Chagas ressaltou que há demandas que ainda não foram acordadas com os empresários do sistema de transporte público de Teresina e que emperram uma solução para o fim da greve dos motoristas e cobradores de ônibus, que já dura mais de 50 dias. É o caso do não pagamento do plano de saúde e ticket alimentação, que foram retirados durante a pandemia do novo coronavírus.
“A diretoria avalia que o que resolveria o problema hoje seria os empresários se comprometerem em manter os direitos conquistados há décadas, que são manutenção do pagamento de plano de saúde, conforme determina a convenção, que a empresa paga uma parte e o trabalhador paga outra, e o pagamento do ticket alimentação, uma conquista que está com mais de 20 anos. Não é justo o trabalhador, em um período de pandemia onde se houve uma redução de mais de 70% do seu salário, ter tirado seu ticket alimentação. A questão do retorno das atividades, aumento da frota, a categoria com certeza concorda, porque a categoria quer sim que se discutam direitos que estão sendo negados pela classe empresarial”, destacou.
- Foto: Lucas Dias/GP1Francisco das Chagas, Sintetro
O secretário de Previdência Social do Sintetro lembrou ainda que os trabalhadores não estão cobrando reajuste salarial, mas o restabelecimento dos direitos outrora garantidos.
“Não estamos querendo novas conquistas, como aumento de salários ou outras coisas, queremos apenas a manutenção do salário que foi negociado e que recebemos até fevereiro de 2020. Queremos a manutenção do ticket alimentação e queremos a manutenção do plano de saúde do trabalhador e das empresas”, finalizou.
O que diz o Setut
Em entrevista ao GP1, o presidente do Setut, Marcelino Lopes, afirmou que garantiu as empresas garantiram que vão disponibilizar os ônibus para que os trabalhadores possam retornar às atividades em meio à greve. Segundo o presidente do Setut, a Prefeitura de Teresina está subsidiando o combustível a fim de que os consórcios possam colocar a frota em atividade, pois com as receitas em queda em razão da pandemia, não estava sendo possível sequer abastecer os veículos para garantir o funcionamento mínimo dos serviços.
“O nosso pessoal do setor de pessoal está se reunindo com a Strans para ver os protocolos que estavam sendo utilizados antes da greve. As empresas devem receber da Strans as ordens de serviços já calculando os 70% no pico e 30% no entre pico. Quando chegar às empresas nós vamos cumprir, pois deve ter uma frota mínima e vamos tentar fazer aquilo que nos for imposto, obviamente, que se houver dificuldades e vamos aos órgãos competentes”, explanou.
Planos de saúde e ticket alimentação
O presidente do Setut avaliou que, atualmente, não há como manter o pagamento dos benefícios aos trabalhadores durante a pandemia, mas ressaltou que uma nova análise será feita no mês de setembro, conforme acordado com o Ministério Público do Trabalho.
“A convenção coletiva acabou em 31 de dezembro de 2019, não foi pactuada uma nova convenção e, com certeza, esses benefícios que eles tinham, infelizmente, no momento em que o país e o mundo está passando, não tem como se pensar nisso. Nos últimos 25 anos, não teve uma vez em que não foi negociado, mas existe uma coisa chamada poder financeiro, condições econômicas. As empresas, hoje, não têm condições econômicas de colocar óleo diesel, quanto mais manter benefícios que 90% dos clientes de ônibus não têm. Nós mantemos quando podemos pagar, mas não vamos fazer uma coisa para no mês seguinte descumprir”, defendeu Marcelino Lopes.
“Nós estamos abertos, contra números não há argumentos. Se daqui para setembro, que foi a proposta do Ministério do Trabalho, se continuarmos dessa forma, vamos sentar e ver se o sistema melhorou. Se melhorou, nós vamos ver como podemos repassar. Não pode repassar 100%? Então vamos repassar 50%, essa é a forma sensata e transparente de se renunciar. Agora, porque você não quer perder, o cobrador e o motorista não querem perder nada. Infelizmente, nós estamos passando nos últimos 200 anos a pior crise econômica e de saúde do mundo e a pessoa está querendo manter todo e qualquer ganho, é preciso ter consciência. O empresário dá quando pode. Em Teresina, o comércio já demitiu 30 mil de março pra cá. Então, se meu cliente é justamente esse ele vai andar de ônibus? Isso ultrapassa as nossas vontades. Esse negócio de bater o pé no chão não dá, não dá para ter diálogo assim”, finalizou Marcelino Fonteles.
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