As mortes provocadas pela covid-19 diminuem o apoio à reeleição do presidente Donald Trump. Estudo divulgado nesta sexta-feira, 30, na revista Science, indica que locais dos Estados Unidos mais afetados pela pandemia se tornam menos propensos a votar em candidatos republicanos. Para os pesquisadores, o cenário também pode interferir no resultado de colégios eleitorais decisivos, onde a disputa é historicamente acirrada.
Primeiro lugar do mundo em número absoluto de mortes, os Estados Unidos registraram mais de 9 milhões de casos e 234 mil óbitos por coronavírus até o momento, de acordo com a organização Worldometers, que compila estatísticas de órgãos oficiais. Para analisar o impacto político da covid, os autores da pesquisa cruzaram curvas epidemiológicas e a distribuição de casos com dados populacionais e de intenção de voto.
“Nossos resultados mostram que a pandemia de covid-19 já prejudicou substancialmente a posição do presidente Trump”, afirma o artigo, assinado por Christopher Warshaw, da Universidade George Washington, e Lynn Vavreck e Ryan Baxter-King, da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA). O estudo considera informações coletadas até 29 de julho, quando os Estados Unidos ainda estavam no patamar de 150 mil mortos.
Na avaliação dos autores, é possível afirmar que as taxas de letalidade da doença são pelo menos tão importantes quanto o desempenho econômico local na hora de declarar apoio na eleição. Os óbitos também dificultam o cenário de republicanos na corrida por cadeiras no Congresso.
Em condados que viram o número de mortes por 100 mil habitantes dobrar em 30 dias, o eleitor tem 0,14% menos chance de aderir, em média, à campanha de Trump contra o democrata Joe Biden, segundo apontam os cálculos do estudo. Por sua vez, o índice chega a 0,37% no recorte por Estado americano.
Para o Senado, os cientistas estimam que a probabilidade de um candidato republicano receber apoio é 0,28% menor nos condados e 0,79% nos Estados com alta letalidade. Já em relação à Câmara, os indicadores atingem 0,22% e 0,58%, respectivamente, em cada nível de referência.
Com base nos resultados, a equipe de cientistas sugere que os efeitos das mortes por covid podem ser especialmente decisivos em Estados ainda sem definição, como Michigan, Wisconsin, Pensilvânia, New Hampshire, Arizona e Flórida. Essa hipótese, no entanto, não foi testada explicitamente na análise.
“Todos esses estados tiveram margens apertadas na eleição presidencial de 2016. A margem de Michigan foi particularmente estreita (0,2%), assim como a de New Hampshire (0,4%)”, afirmam. “Isso pode direcionar a eleição presidencial e do Senado para os democratas.”
Para avaliar as percepções políticas, os cientistas se valeram de pesquisa online, do Democracy Fund + UCLA Nationscape Project, com mais de 300 mil pessoas. Destas, 6,4 mil foram entrevistadas semanalmente desde o ano passado e responderam a perguntas sobre preferências eleitorais.
Efeito da pandemia é semelhante ao de guerras, sugerem pesquisadores
Após minimizar os riscos da doença, Trump chegou a equiparar a batalha contra o coronavírus à de um “presidente em tempo de guerra”. Como a literatura acadêmica já havia constatado que conflitos com mortes tendem a aumentar a rejeição a presidentes e diminuir as chances de voto deles ou de seus sucessores, os cientistas decidiram usar a mesma hipótese para medir os impactos da pandemia.
Desde fevereiro, a covid matou três vezes mais americanos do que a Guerra do Vietnã, cinco vezes mais do que a da Coreia e 40 vezes, a do Iraque. Para os autores do artigo, portanto, a analogia feita por Trump também poderia ser replicada entre os eleitores.
Embora representem eventos históricos distintos, a equipe chegou à conclusão de que os resultados são semelhantes, principalmente nas áreas com maior concentração de vítimas. “Assim como as pessoas penalizam o presidente por baixas durante as guerras, a população está penalizando o presidente e outros membros do partido pelas mortes locais durante a pandemia”, diz o artigo.
Casos de covid aumentam nos Estados-chave
Os casos de coronavírus estão aumentando em todos os Estados onde a disputa eleitoral está acirrada antes do dia da eleição, o que contraria argumento de Trump de que a pandemia estaria quase acabando e as restrições não são mais necessárias.
Nos 13 Estados considerados cruciais e que ainda podem estão indecisos pelo Cook Political Report, a média semanal de novos casos relatados diariamente aumentou 45% nas últimas duas semanas, de menos de 21.000 em 14 de outubro para mais de 30.000 em 28 de outubro.
Iowa, Michigan, Minnesota e Pensilvânia atingiram recordes semanais nos últimos dias e, na Flórida e na Geórgia, a contagem está crescendo novamente depois de ter caído no terceiro trimestre do ano.
O número crescente de coronavírus tem sido especialmente alarmante em Minnesota e Wisconsin, bem como no Michigan, todos os lugares que conseguiram evitar o pior dos surtos no verão no Hemisfério Norte.
Mesmo em New Hampshire, um Estado onde a pandemia permaneceu relativamente moderada, a contagem de casos está aumentando nas últimas semanas. O presidente continua a minimizar a ameaça do vírus. “Estamos abaixando a curva, independentemente”, Trump disse a uma multidão na cidade de Bullhead, Arizona, na quarta-feira.
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