O presidente Jair Bolsonaro convocou uma reunião de emergência com oito ministros para discutir soluções para a crise das queimadas na Amazônia. Uma das opções em estudo é usar o Exército no combate ao fogo. O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, também afirmou ao Estado que o governo pretende criar uma “força-tarefa” pró-Amazônia, para discutir os problemas da região, como preservação ambiental, regularização fundiária e cadeia produtiva, e propor soluções concretas.
Ministros não descartam, até mesmo, autorizar o uso das tropas por meio de um decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) - usado em operações específicas, como grandes eventos. Para isso, porém, depende da anuência de governadores estaduais. Outro obstáculo é a restrição orçamentária pela qual as Forças Armadas passam.
Conforme mostrou o Estado na terça, com parte de seu orçamento bloqueado e precisando cortar gastos, o Exército prevê que terá de antecipar para outubro a dispensa de recrutas que estava programada para o fim do ano. Caso a ação na Amazônia seja autorizada, o governo precisará liberar recursos.
Para garantir a mobilização da Esplanada em torno da defesa de medidas de proteção da Amazônia, Bolsonaro assinou despacho nesta quinta-feira, 22, determinando a todos os ministros que adotem medidas necessárias para o “levantamento e o combate a focos de incêndio na região da Amazônia Legal”. À noite, na reunião, ficou claro que o Planalto está preocupado com o “bombardeio” de críticas que o País tem sofrido, principalmente de entidades e autoridades internacionais.
Na reunião, a atitude do presidente da França, Emmanuel Macron, que defendeu que a cúpula do G-7 discuta os incêndios na Amazônia, incomodou não só Bolsonaro, mas também ministros, particularmente militares. A cúpula do governo considerou uma interferência indevida em questões internas.
Nova reunião ministerial deve ocorrer hoje. O presidente pretende procurar também os governadores da Amazônia, porque entende ser preciso uma operação conjunta para combater os incêndios e reverter os ataques ao País.
Um dos ministros presentes à reunião disse ao Estado que é preciso haver reação às “fake news”. E citou, como exemplo, foto apresentada por Macron em sua rede social, que é de 15 anos atrás.
Força-tarefa. Sobre a proposta de uma força-tarefa pró-Amazônia, Salles diz que a ideia é criar um grupo multidisciplinar coordenado pelo seu ministério, composto por vários órgãos do governo, entidades do terceiro setor e representantes da academia e da iniciativa privada.
“Inclui fiscalização, comando e controle? Sim. Mas só isso não vai resolver o problema. Precisamos destravar os gargalos de desenvolvimento econômico da Amazônia, dar dinamismo para os povos da floresta.”
Entre os órgãos públicos, o grupo deverá incluir as pastas da Agricultura, Defesa e Justiça, ao qual está vinculada a Polícia Federal, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e a Fundação Nacional do Índio (Funai). Também devem participar os setores madeireiro e mineral e de empresas que atuam ou querem atuar na Amazônia, além de cientistas como o climatologista Carlos Nobre e o físico José Goldenberg, que Salles disse querer envolver na iniciativa
É preciso, diz ele, fazer um zoneamento econômico e ecológico da Amazônia. Isso permitiria entender a vocação de cada Estado e o que pode ser feito para ter equilíbrio ambiental e desenvolvimento econômico. Mas ele disse que há grupos ambientalistas que “boicotam”.
Em sua visão, o maior incentivo ao desmate é a pobreza, pois as pessoas a buscam sobrevivência na ilegalidade. “O ministério tem tentado contribuir para a racionalidade do debate”, disse. “Agora, o tema ambiental suscita muitas paixões. Não é uma discussão racional - e é difícil, muito difícil, fazer discussão emocional.”
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