O governador João Doria (PSDB) voltou a criticar nesta quarta-feira, 1, o presidente Jair Bolsonaro. Ele abriu a entrevista coletiva para falar sobre medidas de contenção do coronavírus em São Paulo comentando o pronunciamento feito por Bolsonaro nesta terça-feira, 31, à noite. Doria também citou postagem feita nesta quarta pelo presidente criticando governadores de Estado.
"Faço aqui um comentário em nome dos governadores, com quem falo todos os dias. Ontem, como cidadão, brasileiro e governador, fiquei feliz ao ver um presidente da República mais moderado, com bom senso, colocando uma mensagem equilibrada à população brasileira. Mas amanheci preocupado, vendo o mesmo presidente da República fazer uma postagem agredindo os governadores. Em qual presidente da República devemos confiar? ", questionou Doria.
E continuou: "É preciso coerência, presidente. Seja moderado, equilibrado, faça aquilo que o senhor fez ontem à noite em rede nacional. Não caia na tentação de seguir a orientação de seu gabinete do ódio, que propõe confronto com qualquer outro que se oponha e formule críticas ao senhor. Prefiro levar em consideração a manifestação de ontem e desconsiderar a de hoje de manhã. A pandemia não escolhe rico ou pobre, militar ou civil, petista ou bolsonarista, posição política ou ideológica. A pandemia atinge a todos. Não é uma questão política, eleitoral ou partidária. É uma questão humanitária", disse.
Desde o início da pandemia, São Paulo concentra o maior número de mortes e de casos confirmados do novo coronavírus. De acordo com a Secretaria Estadual da Saúde, já são 136 mortos pela doença e 2.339 casos confirmados. No Brasil, de acordo com o mais recente balanço do Ministério da Saúde, o País tem 201 mortes pela doença e 5.717 casos confirmados.
Bolsonaro publicou e horas depois apagou nas redes sociais um vídeo de um homem que apontava o desabastecimento na Ceasa de Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte, e dizia que "a culpa é dos governadores", que, segundo ele, querem "ganhar nome e projeção política a custa do sofrimento da população". O conteúdo do vídeo, porém, foi desmentido pela Secretaria de Agricultura de Minas Gerais que, em nota, informou que o local está funcionando normalmente. Diante da repercussão, Bolsonaro apagou a postagem.
Questionado por jornalistas se havia hipótese de desabastecimento em São Paulo, Doria afirmou que "não há e nem haverá desabastecimento no Estado".
Embates
Os embates entre Doria e Bolsonaro vêm sendo frequentes. Eles já discutiram em uma videoconferência com governadores do Sudeste e vem trocando farpas públicas. Bolsonaro defende um isolamento mais brando e a reabertura de comércios a fim de movimentar a economia.
Já Doria defende o isolamento mais amplo e o Estado de São Paulo está em quarentena desde o dia 24 de março. A medida vale em todas as 645 cidades do Estado e fica em vigor até o dia 7 de abril. O decreto fechou o comércio e serviços não essenciais, o que incluiu bares, restaurantes e cafés, que só podem funcionar com serviços de delivery.
Podem funcionar: hospitais, clínicas, farmácias, clínicas odontológicas, supermercados, hipermercados, mercados, padarias (mas não poderão servir alimentos no local), açougues, empresas de call center e telemarketing, postos de combustíveis, bancas de jornais, pet shops, clínicas veterinárias, empresas de transporte, táxis, serviços de transporte por aplicativo, construção civil, serviços de segurança, bancos, lotéricas, empresas de limpeza e manutenção e todas as indústrias.
As restrições impostas nos Estados seguem orientação da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do próprio Ministério da Saúde para estimular o isolamento social, considerado a forma mais eficaz de se evitar a propagação do vírus.
Questionado sobre a ampliação da quarentena para além de 7 de abril, Doria disse que a quarentena é avaliada todos os dias pelos especialistas do governo e que essa resposta será dada no dia 6 de abril.
Medidas econômicas
Doria elogiou a possibilidade de assinatura do decreto, pelo governo federal, que prevê auxílio emergencial de R$ 600 a trabalhadores informais, intermitentes e empreendedores individuais (MEIs). "É uma medida acertada. Temos somente aqui no Estado de São Paulo 1,5 milhão de pessoas que vivem com menos de R$ 250 e muitas com valores até menores que esse. Espero que, com o decreto assinado, os recursos sejam rapidamente transferidos para quem precisa, seja em São Paulo ou em outros lugares do País", disse.
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